Como toda manhã segui minha rotina. Enquanto esquentava a água para o chimarrão misturava numa tigela a granola com o yogurte. Meu café da manhã não tem café. Depois levei a térmica com a água quente para o chimarrão, a cuia e a tigela com a granola para a mesa da sala, onde liguei meu computador. Tomei um chimarrão enquanto ele inicializava. Depois aproveitei para experimentar a granola, que já estava no ponto. Agora estava tenra, após absorver por mais de vinte minutos a umidade do yogurte. Senti aquele volume macio em minha boca, o paladar um pouco acre do yogurte sem açúcar misturado com o sabor dos diferentes cereais que compõe a granola. O movimento calmo e tranqüilo dos maxilares que não encontravam nenhuma resistência ao mastigar esse alimento tão macio. Senti um volume um pouco maior entre meus dentes e, inconscientemente, fiz uma força desproporcional ao alimento que estava ingerindo. Dei uma dentada digna de um pedaço de carne meio dura, mas que se morde com apetite. A manhã que estava calma e tranqüila, seguindo sua rotina normal, de repente se encheu de estrelas, lágrimas me vieram aos olhos, perdi a compostura e praguejei em alto e bom som, “M…, é a língua!”
Moacir Jorge Rauber