Rodolfo e Arthur eram amigos desde a infância. Foram criados no mesmo bairro daquela cidade com mais de 2 milhões de habitantes. Desde criança estudaram juntos, sempre na mesma sala, na mesma turma e no mesmo horário. Quando terminaram o secundário a vida os enviou para caminhos diferentes. Rodolfo seguiu os estudos universitários, fez uma graduação em engenharia e mais tarde tornou-se empresário. Arthur parou de estudar, casou-se cedo e engajou-se na vida comunitária do bairro. Passado um tempo candidatou-se e foi eleito vereador. Os dois ainda continuavam grandes amigos, embora seus encontros fossem cada vez mais raros, porque cada um tinha a sua vida para gerir.
Rodolfo se preocupava com os seus clientes, com a qualidade dos serviços prestados, com o atendimento que deveria sempre ser impecável, porque uma ponta solta, uma situação mal resolvida com algum cliente poderia gerar grandes perdas no seu negócio. Assim, Rodolfo sempre apresentava-se bem vestido e com modos extremamente educados. Havia adotado também uma postura que demonstrava a visão positiva que tinha do mundo. Esta postura estava fundamentada em cursos, formação, nas necessidades do mercado e na alta concorrência que assim o exigia. Lembrava-se sempre, “Nada aproxima mais as pessoas do que um sorriso, do que o bom humor!”.
Por outro lado, Arthur vivia a sua roda viva de forma semelhante, embora com muito menos tempo dedicado aos estudos ou a uma formação específica. Mas para ele, “O melhor curso é a vida!” e ele acreditava que era o exemplo disto. Sem nenhum curso universitário havia formado e sustentado uma família. Seus três filhos já eram adultos e estavam na universidade. A esposa cuidava da casa e ainda fabricava doces, pães e outras guloseimas caseiras que eram vendidas de porta em porta no bairro. E ele trabalhava na associação comunitária, resolvendo problemas e atendendo as situações mais difíceis de um sem número de pessoas. Mas ele havia dedicado algum tempo para a sua formação. Logo após a primeira eleição em que concorreu para vereador e foi derrotado, aprendeu a cuidar da imagem frente ao público de interesse. Rapidamente incorporou na sua forma de ser frases positivas ao cumprimentar as pessoas, os seus “clientes”. Assim, quando lhe perguntavam como ele estava sempre respondia com presteza, “Cada vez melhor”, dava um firme aperto de mão e abria um sorriso. Sorriso este que servia para aproximar seus futuros eleitores. Com esta estratégia partiu para a segunda eleição e obteve uma vitória contundente.
Certa feita, Rodolfo estava entrando no prédio da associação comercial a qual pertencia e viu ao longe o seu amigo Arthur. Rodolfo circulava neste espaço semanalmente para resolver alguma pendência dos seus negócios, pois sua empresa funcionava a apenas alguns quarteirões dali, centro da cidade. Arthur, que ainda morava no bairro e estava participando das disputas de sua terceira eleição, parecia que estava um pouco deslocado ao olhar para as placas e letreiros, notadamente buscando alguma informação. Parecia também algo preocupado, com uma feição muito séria e até certo ponto triste. Rodolfo dirigiu-se a ele, que quando o viu, abriu um largo sorriso e veio ao seu encontro. Rodolfo disse:
– Bom dia, Arthur, que bom vê-lo! Quanto tempo? Como você está?
Arthur, como de hábito, respondeu com um sorriso no rosto:
– Cada vez melhor. E você?
Rodolfo continua:
– Também estou bem. Mas o que você está fazendo por aqui? Acho que nunca te encontrei por estes lados…
Rapidamente a expressão do rosto de Arthur se alterou, voltando aquela expressão de preocupação e tristeza anteriores. Como que caindo em si, sem saber como dizer, com a voz quase sumindo, comenta:
– Na verdade estou voltando do enterro da minha mãe, que faleceu ontem. Eu estou procurando o Cartório de Registro Civil que fica neste prédio e…
– Bom dia, Arthur, que bom vê-lo! Quanto tempo? Como você está?
Arthur, como de hábito, respondeu com um sorriso no rosto:
– Cada vez melhor. E você?
Rodolfo continua:
– Também estou bem. Mas o que você está fazendo por aqui? Acho que nunca te encontrei por estes lados…
Rapidamente a expressão do rosto de Arthur se alterou, voltando aquela expressão de preocupação e tristeza anteriores. Como que caindo em si, sem saber como dizer, com a voz quase sumindo, comenta:
– Na verdade estou voltando do enterro da minha mãe, que faleceu ontem. Eu estou procurando o Cartório de Registro Civil que fica neste prédio e…
Parou de falar, porque seus olhos se encheram de lágrimas. Ele se havia dado conta que a vida nem sempre está “cada vez melhor”.
Moacir Jorge Rauber