Decorre o ano 1000…

Moacir Jorge Rauber
Decorre o ano 1000 da era cristã. Após constatar que o mundo não acabou, como muitas previsões indicavam, um grupo de notáveis reúnem-se para debater o futuro da humanidade. Neste grupo juntam-se os principais pensadores de toda Europa, assim como de países do Médio Oriente e também da Ásia. A América e a Oceania ainda não faziam parte do mapa. Estão reunidos numa sala com pouca luminosidade, afinal não havia energia elétrica. A sala também se apresenta fria e úmida, pois os sistemas de calefação central a carvão também não funcionavam. O debate seguia acalorado para avaliar quais as perspectivas para os próximos cinco anos. Quais as principais oportunidades para os investigadores, para os jovens, para as empresas e para os países. Logo em seguida amplia-se o leque para dez anos. Depois fazem-se as projeções para as principais mudanças que poderão ocorrer em cinquenta anos. Por fim, num rasgo de pretensão despropositada, propõem-se a vislumbrar o que se poderia esperar para a humanidade nos próximos quinhentos anos.
Os boatos que corriam a época eram semelhantes aos que povoaram o imaginário popular por volta do ano 2000. Os anunciadores do fim do mundo e as previsões apocalípticas se mostraram um engano, para não dizer um engodo. Voltando ao hipotético encontro do ano 1000, provavelmente os espertos constatariam que em cinco anos nada mudaria. Nos dez anos seguintes também não. Aquele que nasceu carpinteiro, vai morrer carpinteiro. Quem nasceu rei, vai morrer rei. As mesmas previsões seriam feitas para os próximos cinquenta anos que também se aplicariam ao horizonte dos quinhentos anos. Apesar de grandes inventos e descobertas ocorridos nesta época, muitos com influência direta na organização social e económica atual, para a maioria dos habitantes da época nada mudou neste cenário hipotético de 500 anos. As oportunidades eram quase que nulas.
Entretanto, há que se considerar que esta reunião provavelmente nunca ocorreu nem entre os notáveis e muito menos entre a população. Isto porque sequer passaria pelas cabeças dos pensadores ou da grande massa da época que o mundo pudesse mudar radicalmente em poucos anos. Isto a história confirmou. Nos dias correntes, ao contrário, reúnem-se todos os dias em alguma parte do globo vários grupos de pessoas, entre eles notáveis e os menos notáveis, para discutir as inevitáveis mudanças que ocorrerão nos próximos anos. Pode-se estar seguro que para os próximos cinco anos enfrentar-se-á uma série de mudanças, sejam elas ligadas a esfera social, económica ou tecnológica. Comportamentos se alteram rapidamente em diferentes estratos sociais. A economia empurra o desenvolvimento e o surgimento de novas tecnologias numa velocidade nunca vista, impactando diretamente o comportamento de grande parcela da população. Na maioria dos casos beneficiando rapidamente uma pequena parcela desta, mas que em um tempo relativamente curto se estende a um número cada vez maior de pessoas. Apesar dos imensos problemas sociais ainda existentes, que são decorrentes de uma construção histórica de milhares de anos, as pessoas tem alcançado melhorias significativas na qualidade de vida de que desfrutam, proporcionalmente e comparativamente aos períodos históricos anteriores. A expectativa de vida tem aumentado gradativamente em muitos países; a democracia, com suas falhas humanas, tem sido um instrumento do exercício da liberdade individual; e a distribuição de renda, gradativamente, tem chegado a mais e mais pessoas. Não se podem negar os problemas, certamente, porém pode-se destacar que as oportunidades que as pessoas dispõem hoje são muito maiores do que aquelas de que dispunham os habitantes do ano 1000.

As oportunidades estão aí. Basta olhar mais uma vez…

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