Moacir Rauber
O mercado de trabalho tem cobrado das pessoas a manutenção e a atualização constante da rede de contatos, com vistas a uma boa colocação profissional, além de fomentar um melhor desempenho e oportunidades de crescimento profissional. Entretanto há que se tomar cuidado, porque nem sempre quem está na rede é “peixe”, como diria o deputado Romário. Entenda-se “peixe” como uma pessoa do seu círculo de conhecidos nos quais você deposita confiança havendo reciprocidade de sentimentos.
Em termos conceituais, rede de contatos origina-se da palavra inglesa “networking”, tão ou mais comum que o uso da expressão em português. “Networking” é a junção das palavras “net”, no sentido de rede, e “working”, gerúndio de trabalhar, que quer dizer trabalhando. Tem-se assim uma rede de contatos trabalhando para você, garantindo a sua permanência no mercado de trabalho, bem como a possibilidade de mudança e ascensão profissional. Essa rede de contatos pode ser fomentada em reuniões internas e externas, feiras setoriais, eventos ou outras formas de interação social onde as pessoas se conhecem, trocam cartões e informações, criando a sua rede de contatos. Estas se formam muito mais por afinidades de interesses do que por afinidades pessoais. Consegue-se, assim, um grupo de pessoas com experiências complementares em áreas similares, podendo cada um desenvolver os seus pontos fracos e ajudar os outros a desenvolverem os seus. Teoricamente é uma fórmula quase perfeita para ser seguida a risca.
Contudo, há situações em que a rede simplesmente se rompe e aqueles que eram seus contatos desaparecem. No contexto atual, quase todos os profissionais acabam incorporando como sobrenome o nome da empresa na qual trabalham. Normalmente as pessoas se apresentam ou são apresentadas como Fulano da empresa X ou Cicrano da empresa Y. Enquanto essa realidade perdura a rede de contatos funciona perfeitamente. Portas se abrem, convites são recebidos e presentes são comuns no aniversário, no Natal e no Ano Novo. Entretanto, quando ocorre o desligamento de uma pessoa de determinada empresa e ela passa a se apresentar como Fulano, ex da empresa X ou Cicrano, ex da empresa Y, a realidade é outra. Portas se fecham, telefonemas não são atendidos ou respondidos e os contatos da grandiosa rede simplesmente somem. Recentemente ative-me a esse detalhe ao ouvir comentários sobre essa dura realidade num evento do qual participei numa conceituada empresa. Estava junto a alguns diretores quando um deles descreveu determinada situação, Trabalhei a maior parte do meu tempo em empresas multinacionais. Houve, porém, uma situação que foi marcante para mim. Havia me desligado de uma das empresas por discordar diretamente da sua política e estava momentaneamente sem trabalho. Tardou um pouco mais daquilo que acreditava para inserir-me novamente no mercado de trabalho. As contas começavam a apertar. Como último recurso fui procurar uma pessoa que considerava meu amigo, uma vez que frequentávamos um a casa do outro. Telefonei e a secretária atendeu. Apresentei-me e ela pediu para que eu aguardasse. Retornou a ligação dizendo que o meu amigo não estava. Aguardei mais alguns instantes e liguei novamente, com a diferença de apresentar-me com o nome de outra pessoa de uma importante empresa. A secretária passou imediatamente a ligação para o meu “amigo”. Disse-lhe quem estava falando e agradeci-lhe a “colaboração” no momento delicado em que me encontrava, informando-lhe também que estava em frente a sua empresa e havia visto a sua chegada. Esse diretor termina o relato dizendo, A minha rede de contatos havia me deixado na mão!. Outro diretor complementa afirmando que as pessoas e organizações são muito mais fiéis ao CNPJ do que ao CPF. Enfim, a ligação entre os sobrenomes é muito mais relevante do que o nome.
Por isso o cuidado para que a rede de contatos também envolva o nome e que quem esteja na sua rede seja “peixe”. E a sua rede de contatos como vai? Eles têm sobrenome ou apenas nome?