Foco nas pessoas: motivação, rentabilidade e longevidade

Moacir Rauber

A motivação, normalmente, tem sido tratada de forma superficial em grande parte da literatura, que se fixa em questões de auto-ajuda, estendendo-se dessa forma para os gestores das organizações. Por isso, nesse texto, abordam-se algumas questões fundamentais para se aprender a trabalhar com a motivação própria dos gestores e a dos colaboradores, dando a devida importância ao tema que tem impacto direto nos resultados individuais e organizacionais.

Destaca-se que as diferentes teorias que buscam explicar, por meio de uma taxonomia, as formas como se dá a motivação nos indivíduos não alcançam inteiramente os seus objetivos, porque se todos são seres únicos, também suas motivações são únicas. Assim, a unicidade dos indíviduos gera motivações singulares que dificilmente podem ser enquadradas em uma classificação que se pretende aplicar para a coletividade. Essa unicidade ainda pode ser multiplicada pelas situações nas quais os indivíduos se encontram, ampliando-se ainda mais o universo motivacional presente numa organização a partir das pessoas. Isso porque quando o indivíduo gere ele tem motivações diferentes daquelas que tem quando é gerido. Deve-se considerar que todos, sem exceção, ora estão gestores e ora estão geridos. Isso aplica-se as pessoas integrantes dos diferentes níveis hierárquicos de uma organização, incluindo o diretor, o presidente ou o proprietário da mesma.

Assim, exigir que o indivíduo conheça o todo organizacional para que, a partir desse entendimento, ele possa compreender a importância relativa e também direta da sua participação no processo é fundamental. Entretanto, faz-se necessário que também a organização entenda o todo individual, para que ela possa gerir eficazmente as diferentes motivações em busca de melhores resultados. Desse modo, gerir motivações significa gerir pessoas e não somente processos. Embora a grande maioria das empresas siga preocupada com a gestão dos processos, focando em qualidade e produtividade sem, contudo, ocupar-se da gestão de pessoas. Não que essa preocupação não seja necessária, entretanto, ao focar a gestão da empresa nas pessoas a qualidade e a produtividade naturalmente serão atendidas, porque elas são inter-dependentes.

Com a abordagem mais próxima ao entendido como gestão de pessoas encontram-se parte das melhores empresas para se trabalhar das publicações de Exame/Você SA. Nessas empresas os colaboradores tem salário médio e escolaridade maiores, assim como tempo maior de empresa, o que naturalmente diminui a rotatividade. Os colaboradores dessas empresas demonstraram que a sensação de justiça é destacadamente relevante ao serem comparadas com os indicadores das maiores empresas da mesma publicação. Esse reflexo aparece nos 41,8% de colaboradores que consideraram a satisfação e a motivação como as categorias mais importantes no momento de aceitar ou decidir permanecer numa organização. Entretanto, esses são dados que, para muitos empresários, estão em segundo plano. É necessário saber quanto isso tudo vai render financeiramente. E é aí que está a grande vantagem de se gerir pessoas, porque além de melhores para trabalhar essas empresas tem se apresentado mais lucrativas, mais produtivas e mais eficientes, além de contar com índices de inovação e longevidade maiores. Os comparativos entre as maiores e as melhores empresas para se trabalhar nos últimos cinco anos tem demonstrado isso, segundo as publicações de Exame /Você SA. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido das 150 melhores empresas para trabalhar é 4% maior daquele apresentado pelas 500 maiores empresas, subindo para mais de 7% a diferença quando consideradas apenas as 10 melhores. Por isso, não se trata de ser bonzinho, é uma questão de inteligência gerir pessoas para aumentar a rentabilidade.

Pode-se, portanto, deduzir desse quadro que pessoas satisfeitas, com sensação de justiça e motivadas produzem mais. Eis a importância de se conhecer e aprender sobre motivação. Eis o desafio para que os atuais gestores entendam as diferentes situações e reflitam se trabalhariam nas empresas que gerem. É um assunto para ser tratado, pensado e gerido com a importância que lhe é devida e não apenas com a superficialidade encontrada em grande parte dos livros de auto-ajuda. Essa literatura também se vê refletida em palestras show que diminuem o tema, porque se propõe a exauri-lo por meio de uma metáfora, de um chiste ou de uma brincadeira que levariam as pessoas a uma reflexão que as faria mudar. Não se trata de afirmar que as palestras não devam ser um show, mas devem ser menos prescritivas ao pretender dar todas as respostas as questões que envolvem a motivação. Trata-se o tema como se para isso houvesse uma fórmula matemática em que justapondo-se alguns itens resolvem-se as questões. Não há! E enquanto os indivíduos forem únicos e tiverem voz e vez não haverá.

Por fim, deve-se buscar ampliar o conhecimento profundo sobre a motivação e seus impactos sobre os resultados, questionando-se a si e avaliando as organizações com as quais se está envolvido. Os gestores, para tal, deveriam também se perguntar como reagiriam frente aquilo que estão propondo em suas organizações se eles não fossem eles. Concordariam com a proposta? Outro assunto que os gestores sempre deveriam ter em mente é se a sua organização consegue entender o todo individual de seus colaboradores, assim como querem que entendam o todo organizacional, e se seriam capazes de fazer uma avaliação de desempenho da organização a partir do indivíduo. Atrever-se-iam a fazê-la? A partir daí poderiam entender e compreender com mais propriedade como está o ambiente organizacional e todas as questões subjacentes a ela, como a motivação individual, a satisfação profissional e a sensação de justiça no estabelecimento de metas e objetivos e sua relação com a visão e a missão da própria organização. Além disso, os gestores ao se colocarem no lugar dos geridos sentiriam o que eles sentem, passando a entender que uma organização que sabe gerir pessoas é muito mais do que um bom lugar para trabalhar. É também muito mais lucrativa, muito mais rentável e muito mais longeva!



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