Moacir Rauber
Estimula-se, com razão, que as pessoas trilhem a sua vida buscando constantemente novos conhecimentos que melhorem a sua competência em diferentes áreas. Amplia-se, desta forma, a própria expectativa de vida, uma vez que o sujeito passa a ver o mundo sob diferentes ângulos. Entretanto, muitas pessoas têm ultrapassado o limite da competência, transformando essa busca numa obsessão que os têm deixado incompetentes para a vida.
Entenda-se competência como o saber do indivíduo que se transforma em ação pela vontade explícita em consonância com os recursos disponíveis para fazê-lo, alinhados com o meio no qual está inserido. Para destrinchar esse conceito deve-se percorrer o saber, o saber fazer, o querer fazer, o poder fazer e o saber ser/estar. O saber pode ser obtido por meio da aprendizagem formal, informal e de convívio, que forma o arsenal de conhecimento da pessoa. Essa busca pelo conhecimento, na abordagem motivacional, pode estar vinculada a autonomia, que é a iniciativa de fazer aquilo que se quer, quando e com quem se quer fazer. Contudo, existem pessoas que conhecem muito, mas não sabem fazer. Por isso, o sujeito, além de conhecer, deve saber fazer, que é justamente aplicar o conhecimento em situações práticas dentro da atividade que desempenha, seja na esfera social ou profissional. Essa condição pode ser conectada a ideia da excelência das teorias motivacionais, uma vez que o saber fazer demanda esforço e dedicação para executar com perfeição aquilo que se sabe. Entretanto, somente saber e saber fazer não basta. Deve-se querer fazer, que está diretamente vinculado a vontade de realizar aquilo que se sabe fazer. Volta-se novamente a ideia de autonomia, pois existem muitas pessoas que sabem e sabem fazer, sem, contudo, ter a determinação para querer fazê-lo. Dando um passo adiante, além de saber, de saber fazer e de querer fazer, deve-se poder fazer, sendo essa uma das muitas muletas usadas por aqueles que não querem fazer. São inúmeras as pessoas que usam este subterfúgio para não realizar aquilo que até gostariam, encontrando outros culpados pelo caminho. Por fim, o tema principal deste texto, reporta-se ao saber ser e saber estar, que onde os obsessionados pela busca de conhecimento muitas vezes falham. Estudam, qualifcam-se, aprimoram-se e desenvolvem tantas habilidades que se estupidificam, pois esquecem que para que todo esse conhecimento tenha algum valor precisam do outro, devem saber ser para poder bem estar. Para isso precisam de um propósito.
Muitas organizações ainda tem como propósito única e exclusivamente o dinheiro. Pelas tendências encontradas, em que cada vez mais as empresas que oferecem os melhores ambientes para se trabalhar têm obtido destaque, acredita-se que num futuro breve as organizações movidas somente pelo dinheiro deixarão de existir. Essa crença é reflexo de indivíduos que já não trabalham mais somente pela recompensa financeira, pois passaram a vislumbrar um propósito. As pessoas passaram a ter aspirações e motivações que até trazem resultados financeiros, mas não tão somente. São essas pessoas que sabem ser e sabem estar com os outros que transformarão os propósitos organizacionais. Por outro lado, pode se observar que muitos profissionais ultraqualificados têm se isolado. São profissionais de altíssimo desempenho, mas que se consideram uma ilha de competência cercados por incompetentes, segundo a própria visão. Desempenham suas tarefas de tal forma que as pessoas a sua volta já não querem mais ali estar, pois estas sentem-se diminuídas, fato que aqueles não fazem questão de minimizar. Projetam-se, expõem-se e exibem o seu desempenho, que consideram ser o seu grande diferencial, de tal forma que estão sempre vários passos à frente dos colegas. Desse modo, produzem muito, irritam-se com a falta de produtividade dos colegas e isolam-se cada vez mais. Terminam assim por magoar as pessoas com as quais convivem e frustram-se com isso. Nesse caminho as relações sociais também tornam-se áridas, pois toda a abordagem volta-se para o desempenho profissional, não restando margem para nada fora desse círculo. Nas confraternizações, no café, na rua, na chuva e na fazenda estão sempre competindo e desempenhando a sua função profissional. Cria-se, assim, o profissional com todas as competências, mas incompetente para a vida que termina por transformá-lo no maior dos incompetentes, porque não sabe ser e não sabe estar com os outros. Não tem um propósito maior para a propria vida do que o desempenho profissional. E justamente é no saber estar e no saber ser que se encontram as maiores oportunidades, que não se limitam ao âmbito profissional. É nesse saber que as pessoas se realizam. É nesse saber que se encontra o propósito de vida, que deve ir muito além de um excelente desempenho profissional, que até pode garantir dinheiro, mas certamente não garante bem estar. A vida não pode ser tomada somente sob o próprio prisma, pois deve-se entender que se todos são seres únicos, também as visões de vida são diferentes. Por isso, a competência deve incluir o saber ser para que as organizações tornem-se lugares melhores para o indivíduo estar.
Aprenda sempre, principalmente para não ser um imcompetente para a vida!