Epitáfio…

Moacir Rauber

Uma pergunta muito comum feita às crianças e aos muitos jovens recém contratados nas organizações é, o que você quer ser na vida? Trata-se de uma abordagem inconveniente e errônea, uma vez que ser nós somos desde o momento que passamos a existir. A indagação deveria ser outra, o que você vai fazer da sua vida? Essa sim é uma pergunta que cada um pode responder, porque sobre as nossas vidas nós temos autonomia. O tracinho existente entre o ano de nascimento e o ano da morte cabe a cada um preenchê-lo com as suas decisões, ações e consequências. Essa autonomia pode ser comprovada nos exemplos de tantas vidas de pessoas que souberam vivê-las, assim como pode ser constatada em muitos epitáfios de lápides de pessoas que souberam fazer da sua vida aquilo que queriam, ou não.

Para exemplificar, pode-se escolher duas pessoas com a mesma origem social, com semelhantes graus de instrução e com igualdade de condições financeiras e se encontrará uma realizada e outra frustrada. Encontram-se pessoas que conquistaram tudo o que o dinheiro pode oferecer, mas não conseguiram levar a vida de forma a encontrar nela o bem-estar. Da mesma forma, outras pessoas com boas condições de vida souberam viver bem, inclusive transmitindo a sensação de bem-estar para os demais. Também se pode encontrar pessoas com poucos recursos materiais, mas que conseguiram encontrar o equilíbrio para levar uma vida plena, enquanto outros se prendem as frustrações daquilo que não conquistaram. Certamente que existem fatores fora de nosso controle que afetam as vidas, de todos sem exceção. Portanto, o que fazer da sua vida é uma decisão é pessoal e intransferível! Também os epitáfios oferecem muitos exemplos de pessoas que souberam ou não preencher o seu tracinho. Vejo alguns cômicos, mas nem por isso menos reveladores. “Aqui jaz um homem que morreu de saco cheio”, poderia até ser o Papai Noel, mas provavelmente esconde alguém angustiado. “Agoras estás com o Senhor. Senhor, cuidado com o dinheiro”, certamente trata do caráter ou da falta dele. “Bom esposo, bom pai, péssimo eletricista em casa”, expõe que por trás dessa lápide poderia estar alguém um pouco descuidado, mas que por certo teve uma passagem digna. Entretanto, ver numa lápide o dizer “Uma andorinha que fez verão!” certamente revela uma pessoa que teve uma vida plena e que soube o que fazer com aquele traço entre as datas de nascimento e morte. Por isso, o desafio é que cada um possa ter a frase que o define já em vida, antes que os outros escrevam por você.

Logo, vem a pergunta, o que você quer que escrevam sobre você abaixo do seu nome quando sobre ele estiver a expressão Aqui jaz?

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