Você quer colo 2?

Alguns dias passados escrevi o texto Você quer colo? em que relatei uma situação pontual vivida em Portugal. Não foi piada!

Hoje escrevo o título Você quer colo 2? que aborda um tema semelhante, mas o fato aconteceu em Florianópolis. Talvez o título mais apropriado seria Planejamento Familiar…

Lá vai!!!


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Como bom cristão, participei de comunidades e paróquias nos lugares onde vivi. Tá certo que muitos me olhavam com desconfiança, porque se eu fosse tão bom cristão a fé já deveria ter produzido um milagre. Portanto, eu deveria estar caminhando e não usando uma cadeira de rodas… Mas isso é outra história!

Enquanto morava num bairro em Florianópolis, frequentava a igreja praticamente todos os domingos, participando de uma missa às 19h. Como trabalho voluntário ajudava na organização das festas, algumas vezes da catequese e, por dois anos, participei da Pastoral Familiar, composta por cinco ou seis casais. Estes se dedicavam a organizar cursos de noivo, visando preparar os futuros casais para as lidas da vida conjugal. A minha esposa, Andreia, sempre estava a postos para colaborar em uma ou outra situação. Eu um pouco menos, mas sempre que podia estava presente. Muitos dos conhecidos da comunidade eram homens e eu já havia me dado conta daqueles olhares bisbilhoteiros em que analisam e mentalmente perguntam, Será que esse cadeirante dá conta do recado com uma mulher tão bonita?, pois ela é realmente muito bonita. A pergunta é mental enquanto um homem está sozinho, porque quando se reúnem dois ou mais a análise é nua e crua. Sei muito bem, porque, afinal, sou homem. Num determinado período em que estava de viagem a Andreia foi sozinha à igreja. Nada de mais. Ela vai sozinha para todos os lugares e a igreja seria um lugar seguro, certo? Nem tanto… Ao final da missa o grupo se reuniu em frente à igreja, formando aquela agradável roda de conversa como de costume. Desta vez eu não estava, mas os demais estavam todos lá. Não eram exclusivamente os participanes de nossa pastoral, integrantes de outras pastorais ou mesmo um conhecido qualquer chegava, conversava, saía e voltava com a maior naturalidade. Entretanto, alguns daqueles senhores perceberam que a Andreia estava sozinha. Um deles, dez anos mais velho do que eu e 22 anos mais velho do que a Andreia, sempre galanteador e com fama de ser conquistador se aproximou dela e puxou conversa, Ué, onde está o Moacir? Está doente? Muitas pessoas, às vezes com malícia, julgam que um cadeirante tem problemas de saúde. É um doente… Ela, sempre espontânea, retrucou, Não, não. Ele ficará duas semanas fora de casa, porque foi participar de uma competição de remo. Vai me dar uma folga…Ufa! Esse gracejo, muito comum entre nós, foi a deixa para que o conquistador avançasse e, quem sabe, pudesse provar que o manquinho não dava conta. Começou com uma conversa sobre a sua pastoral, que colaborava com famílias carentes, mas que havia conseguido um DVD fantástico sobre planejamento familiar. Assim, como “bom cristão”, ele se disporia a passar na nossa casa durante a semana para assistir ao DVD e poderiam conversar mais à vontade. A Andreia inicialmente sequer entendeu e disse, Olha, não se incomode. Você pode me dar o DVD que eu o assisto na universidade, porque volta e meia tenho uma folga entre um compromisso e outro. Ele ficou um pouco desnorteado, tentou voltar ao assunto, mas nisso uma amiga nossa interferiu e a conversa tomou outro rumo. Mas quem diz que ele havia desistido? Durante a semana o conquistador foi até a nossa casa com um DVD na mão e cabeça cheia de outras coisas. Provavelmente querendo mexer com os índices demográficos… Tocou a campainha. A Andreia quando o viu pelo olho mágico não abriu a porta, mas abriu o olho. Quando voltei da minha viagem fiquei sabendo do ocorrido. No domingo seguinte a cena em frente à igreja se repetiu. Todos por lá, conversando animadamente sobre banalidades. Nisso, aproxima-se o conquistador, colocando-se entre a Andreia e eu. Nos cumprimentamos. Ele me perguntou como havia ido na competição. Contei-lhe, mas depois devolvi uma pergunta que lhe foi indigesta, E então, esta semana já estou em casa. Você não quer passar por lá para que possamos assistir ao DVD sobre planejamento familiar? O endereço eu sei que você já tem… A cara de espanto apareceu. A voz sumiu. Gaguejou. Depois ele disse, Não, não, é que… é que… eu já devolvi o DVD. Não era meu e… Eu o encarava sorrindo. Resolvi ajudá-lo e disse, Ah, tá. Tudo bem. Fica pra uma próxima. Melhor se eu estiver em casa… e dei uma risada. Despedimo-nos e fomos para casa.

E o planejamento familiar aqui em casa continua sendo feito a dois…

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