O senhor quer um café?

Moacir Rauber

Lá estava eu sentado no carro, numa cidadezinha do litoral de Santa Catarina, usando o tempo de espera pela minha esposa para escrever. Ela havia ido até uma empresa e demoraria por volta de 40 minutos. Abri os vidros, peguei meu computador e comecei a escrever um texto para a abertura da palestra do dia seguinte. As pessoas passavam conversando tranquilamente por um lado e outro do carro. Algumas eu observava. Outras me observavam. Tudo como é corriqueiro. De repente um senhor, com quase 60 anos, apoiou-se na janela aberta do carro. Ele me cumprimentou e começou a contar uma história de doenças e misérias. Em seguida senti o bafo da cachaça tomando conta do interior do carro. Deixei-o contar a sua história. Disse-me o quanto já havia trabalhado e hoje estava com um problema sério na coluna. Logo depois pediu um trocado para tomar um café. Olhei para o outro lado da rua e havia um bem ao lado. Só um instantinho, disse para o senhor que estava ao lado. Fechei meu computador, abri a porta do carro e comecei a montar a minha cadeira de rodas. O senhor deu alguns passos atrás. Vi de soslaio que ele estava com a boca aberta. Terminei de montar a cadeira, saí do carro, ajeitei-me na cadeira e disse, Vamos até ali que lhe pago um café. Ele balbuciou algo inintelegível. Depois consegui entender, Não, não precisa. Eu não sabia que o senhor era aleijado… Dei uma risada e respondi, Nada disso, tá tudo bem. Agora vou lhe pagar um café. Vem comigo!Cruzei a rua e ele me acompanhou. Entrei na cafeteria e o senhor veio cambaleando atrás de mim. Resmungava algumas palavras que não entendi. Aproximei-me do balcão e pedi um café. Olhei para o senhor que me acompanhava e perguntei, O senhor quer mesmo um café? Percebi que ele ficou todo encabulado, mas confirmou. Vieram os dois cafés. O meu estava saborosíssimo. O do meu amigo deve ter sido o pior café do mundo, uma vez que os trocos pedidos certamente não eram para um café.

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