Meu primeiro amor…

Moacir Rauber
Relembrar meu primeiro amor me deixou inspirado… Não sei mais nada sobre a menina dos meus sonhos. Procurei nas redes sociais e também nos buscadores. Nenhum sinal de sua existência. Vai saber se não foi pura imaginação… Mas escrevi para não esquecer.

Lembro-me que todos os dias percorria aproximadamente quatro quilômetros por meio de roças, matas e capoeiras. Era uma aventura! Saía de casa por volta das sete horas para chegar à escola um pouco antes das oito. Nos dias de chuva os calçados ficavam cheios de barro. Nos períodos de pouca chuva a poeira vermelha deixava sua marca na pele e nas roupas. Mas não reclamava, principalmente porque eu já estava apaixonado pela minha vizinha. Ela era a menina mais linda que já vira! Seus olhos azuis com cabelos loiros me fascinavam. Deixavam-me sem sono, deixavam-me sem graça, deixavam-me completamente bobo. Mais do que já sou. Acreditava sinceramente que seria meu único e verdadeiro grande amor. Poderia passar todo o tempo do mundo que eu jamais deixaria de amá-la e venerá-la.

Mas amor não vive só de sentimento. Naquela época carregávamos nosso material escolar em bolsas feitas em tecido, normalmente costuradas pelas mães. Não havia a disponibilidade de mochilas desta ou daquela marca, com gravuras de uma ou de outra turma. Mas nosso pai resolveu comprar para cada um de seus três filhos uma pasta tipo 007. Algo fora do comum para os padrões da comunidade. Imaginem como foi meu primeiro dia indo para a escola com aquela pasta fenomenal. Todos os meus colegas ficavam admirados com a sua beleza. Ela tinha fechaduras metálicas com diversos compartimentos internos. Era de um couro preto imponente… Na minha imaginação, porque na verdade não passava de uma napa bem simplesinha. Na caminhada de casa até a escola tive que abri-la e mostrá-la não sei quantas vezes. Todos queriam carregá-la pelo menos um pouquinho. Mas eu fui duro e não cedi, porque afinal poderiam deixá-la cair e estragá-la. Tinha o firme propósito de não deixar ninguém carregar a minha pasta e estava conseguindo. Mas de repente veio a minha vizinha com aquele jeito que somente ela tinha. Com aquele seu olhar tão meigo e com um sorriso maravilhoso ela pediu-me:
 Moacir, posso carregar a tua pasta um pouquinho?
Ela pediu-me a pasta. Eu queria lhe ofertar o mundo! Não houve como resistir. Um pedido do meu verdadeiro grande amor era inegável. Cedi para que ela a carregasse. No instante seguinte me arrependi… Assim que ela pegou a pasta os demais colegas começaram a persegui-la. Ela se assustou e saiu correndo. Em seguida tropeçou e caiu. Eu, desesperado, apenas pude ver a pasta voando para em seguida cair sobre uma pedra à beira da estrada. Todos ficaram momentaneamente paralisados ao ver a minha pasta 007 com um enorme rasgo na parte lateral. Para mim era a visão do inferno. Não poderia ter me acontecido nada pior. Cheguei à casa e mostrei-a para o meu pai que me saudou com uma bela surra. Assim terminou meu primeiro grande amor aos oito anos de idade.

E a aprendizagem veio somente quarenta anos mais tarde quando o Mestre Cláudio indagou: o que você aprendeu com isso? Sim, aprendi que devo assumir minhas responsabilidades e carregar a minha pasta!!!

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