A Lei de Murphy ataca novamente…

Moacir Rauber
Quem  nunca ouviu pessoas dizendo, “onde tiver algo para dar errado, fique tranquilo que vai dar errado” ou “se você está bem, fique tranqüilo que logo passará”. Ou ainda aquelas situações dos pequenos azares em que o telefone sempre toca quando se está no banho, ou a informação que se precisa está no último arquivo que você olha, ou ainda a fila ao lado sempre anda mais depressa. Tudo isso é uma síntese da Lei de Murphy. E ela ataca no lugares e nas situações mais imprevisíveis.
Estávamos sentados na sala de embarque do aeroporto de São Paulo, depois de mais de quatro horas de espera estava chegando o momento… Segundo nossas contas iríamos para nossa “14ª lua de mel” em quinze anos de um excelente relacionamento. O destino era Toronto. Muitas ideias povoavam nossa imaginação. Aquelas horas de espera apenas faziam nossa sensação de bem estar aumentar. À nossa frente, naquele amplo espaço entre os portões 25 e 27, as crianças que provavelmente embarcariam num dos voos aproveitavam para brincar. Havia um menino muito simpático que chamava a atenção. Já havia dado seus primeiros passos e estava aprendendo a correr. Devia ter no máximo um ano e meio. Nada que os pais e os avós não dessem conta. Hora um, hora outro se encarregava de buscá-lo em meio às outras pessoas. Os avós felizes. Os pais cansados, mas com aquele olhar orgulhoso. O filhote não parava um segundo e no rosto aquela expressão indescritível que conquistava a todos com a arte de fazer travessuras sempre com um sorriso. Nós nos divertíamos, vendo-o. Também ocupava o lugar uma loirinha linda, um pouco mais velha, com dois anos de idade, talvez. Ela estava acompanhada somente pela mãe, uma jovem de no máximo 20 anos. Se os pais do menino expressavam cansaço no olhar, aquela mãe apresentava sinais claros de exaustão. Eu havia saído da cadeira de rodas e sentara numa das poltronas do aeroporto. A Andreia do meu lado. Ambos líamos, mas não perdíamos de vista os movimentos a nossa volta. A minha cadeira era uma atração a parte para as crianças. Estava ali, solta, sozinha, com aquelas rodas que automaticamente atraem as crianças. O menino se aproximou de forma curiosa, tocou, empurrou e me olhou com aquele olhar travesso. O avô levantou o dedo. Ele deu um sorriso para logo se afastar e se entreter com outra coisa qualquer. Em seguida, a menina também viu a cadeira ali dando sopa. Chegou chegando… Aproximou-se, empurrou a cadeira que deu um rodopio em minha frente. Verguei o corpo para frente até alcançar a cadeira e segurá-la. Dei um sorriso. A menina me olhou e continuou empurrando a cadeira. A mãe foi buscá-la. Ela abriu o bocão e o berreiro começou. Enquanto a mãe a levantava para o seu colo ela esperneava e gritava com todas as forças e com aquela potência na garganta que somente as crianças têm. A Andreia ao meu lado fingia que conseguia se manter concentrada em sua leitura, mas ela já demonstrava certa impaciência. E eu sabia o quanto ela não gostava dessas manhas de crianças… Vi a sua irritação e disse: “Você quer apostar quanto que elas vão estar sentadas ao seu lado no voo?” Ela me olhou indignada. Eu acrescentei: “Não é nem atrás, nem na frente. De um lado eu e de outro lado elas…” e dei risada.
Chegou a hora do embarque. Mães com crianças de colo, idosos com dificuldades de locomoção e pessoas com deficiência embarcam primeiro. A Andreia e eu fomos os primeiros. Os atendentes me deslocaram com aquela cadeirinha especial para transportar cadeirantes no estreito corredor do avião. A Andreia carregava a minha mochila, a dela e a almofada da cadeira de rodas. Chegamos na poltrona e nos acomodamos. Ficamos em duas poltronas no centro da aeronave. Havia sobrado uma das três poltronas. Logos depois começaram a entrar os demais. Vimos a mulher com a criança de colo se aproximando pelo lado em que havia a poltrona vazia. A mulher olhava os números dos assentos para localizar o seu. Aproximou-se de nós. Eu já sorria com uma certa maldade. A Andreia estava apreensiva. Ela chegou na nossa fileira de poltronas. Olhou e passou adiante. A Andreia sorriu aliviada e apertou a minha mão… Eu olhei para trás sobre o encosto do banco e vi que a mulher, com a criança no colo, estava voltando. Chegou até  nós outra vez. Olhou os números na poltrona conferindo-os com o bilhete para logo em seguida dizer, “Ah, é aqui…” Ganhei a aposta!
E essa é a Lei de Murphy…

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