Moacir Rauber
Sabe aqueles dias em que você se levanta sem muita disposição? Pois é, acordei assim hoje, apesar de ser um dia especial e que merece celebração. É especial porque meu sobrinho que mora comigo concluiu o Ensino Médio com muito bom aproveitamento. A conquista é toda dele, mas para mim é motivo de orgulho ter participado do processo. O dia tem uma extensa programação. Começa com uma missa de agradecimento pela manhã. No final da tarde tem a colação de grau. Logo após janta e festa de confraternização num dos bons hotéis da cidade. Tudo como manda o figurino. Eu havia me proposto a participar da missa e da colação de grau, mas não da festa. Assim, na festa o meu sobrinho poderá fruir com toda a liberdade da celebração de uma conquista individual com aqueles com quem ele compartilhou segredos e fofocas; sucessos e fracassos; amores e desamores, entre outras tantas histórias vividas com o entusiasmo de quem tem 17 anos.
A missa estava programada para às 10h30 na capela do colégio. Para nós somente era necessário percorrer a distância de uma quadra. Quando vimo a capela fiquei paralisado… Mais ainda do que a paraplegia me provoca. Não me lembrava do tamanho da escadaria que era a única forma de acesso. Assim como o colégio a capela estava abrigada num prédio antigo e não tinha nenhuma estrutura de acessibilidade. Fiquei baqueado. Olhei para o meu sobrinho que sempre solícito logo se dispôs a me ajudar. Faltava cruzar a rua. Olhávamos para os obstáculos de longe. A movimentação dos amigos e familiares dos formandos era intensa em frente a capela. Olhei para o meu sobrinho e disse, Vai lá. Aproveita para agradecer o ano que você teve e a tua conquista. Eu não vou. Dá uma olhada… A escada é tão íngreme que chega a ser perigoso… Despedi-me e voltei para casa. Chegando aqui senti que havia perdido a chance de compartilhar algo relevante com uma pessoa importante. Ver a escadaria como obstáculo me fez menor. Eu desisti. Desistir me proporcionou uma sensação de alívio imediato, por não ter que enfrentar as escadas e os olhares curiosos das pessoas, mas ao chegar em casa gerou-me uma sensação de frustração muito grande. Ao desistir posso ter frustrado ao meu sobrinho, mas quem realmente perdeu fui eu. Perdi para mim mesmo…
E você, está perdendo o que ao desistir?