Moacir Rauber
Um supermercado, para mim, é um lugar de uma riqueza inigualável. A riqueza se exprime pela fartura de produtos disponíveis, mas também pela profusão de situações que se pode viver no ambiente.
Para um usuário de cadeira de rodas não é diferente. Às vezes sim. Naquele dia, como de costume, fui acompanhado pelo Wagner, meu sobrinho, para fazer as compras do mês. Entramos no estacionamento e fomos até as vagas reservadas para pessoas com deficiência. As vagas estavam ocupadas. Olhei e fiquei literalmente espantado. Nada de mal com a ocupação, mas sim como elas estavam ocupadas.
Para um usuário de cadeira de rodas não é diferente. Às vezes sim. Naquele dia, como de costume, fui acompanhado pelo Wagner, meu sobrinho, para fazer as compras do mês. Entramos no estacionamento e fomos até as vagas reservadas para pessoas com deficiência. As vagas estavam ocupadas. Olhei e fiquei literalmente espantado. Nada de mal com a ocupação, mas sim como elas estavam ocupadas.
Provavelmente era uma moto adaptada, os carrinhos de supermercado adaptados e um Fuscão também adaptado. Estavam todos no lugar certo!!!
As pessoas devem pensar: O lugar está sempre vago mesmo… Não é assim?
Para sorte minha tinha uma vaga ao lado… Para azar do cidadão que respeita as leis, porque para ele o meu carro passou a ocupar duas vagas, pois ele deveria estar no local reservado para pessoas com deficiência. É só fazer as contas…
Numa visita anterior o local também estava ocupado por uma moto, pelo visto adaptada…
Isso se pode chamar de uma estacionada perfeita!!!
No centro do espaço…
Mas eu quero escrever sobre outra situação.
Entramos no mercado e fizemos o roteiro de sempre. Fomos até o final das gôndolas e começamos a passá-las uma a uma. Corredor por corredor. Gosto muito disso. Já no segundo corredor meio que trombei com um rapaz. Desculpas, sorrisos e trocas de gentilezas. O seu rosto ficou registrado na memória. Na gôndola seguinte nos vimos outra vez. Um cumprimento de leve. Percebi que ele estava acompanhado com o namorado. E assim foi entre cruzamentos e reconhecimentos até que passamos os dez ou mais corredores do supermercado. Chegamos até a última parte, uma área aberta enorme onde estão os frios, as carnes, os embutidos e as verduras. Peguei o queijo, a manteiga, o frango, as pizzas, algumas verduras. O Wagner escolhia outros produtos. Eu encostei no balcão onde estavam os salames, os charques e outros defumados. Peguei um salame italiano na mão. Estava tentando olhar o preço. Os olhos sem os óculos já sofrem para ler coisas pequenas, embora o salame fosse grande. Nisso percebo alguém cutucando no meu ombro. Olho para trás e vejo o rapaz lá do início com o seu namorado.
Ele, todo sorridente, perguntou:
– Você caiu ou nasceu assim? Foram exatamente estas as palavras.
Depois do susto não tive como não rir. Com aquele salamão na mão, olhando para o meu velho amigo de compras, afinal havíamos compartilhado todos os corredores, respondi:
– Não, eu não nasci assim. Mas antes torto do que morto, não é?
Como falo muito com as mãos terminei por fazer um gesto exagerado com o salame que quase tocou no rosto do meu amigo. Foi então que percebi que estava com aquele troço na mão. Olhei para o salame. Depois para o rapaz. Ele também havia feito a mesma coisa. Era um olho no salame e outro na pessoa. O Wagner olhava e ria. Eu enrubesci, toquei a minha cadeira e fui embora. A malícia estava na minha cabeça.
Mas eu não nasci assim.
A vida me fez assim.
Ou melhor, fiz-me assim na vida!