– Você sabe trabalhar com o word?
– Sim, tenho nível avançado em todo o pacote do office.
– Hum… E você sabe trabalhar com o excel?
Nasceu um ponto de interrogação na cabeça do candidato a Gerente de Comunicação para a vaga de uma grande multinacional. Como assim excel? Acabei de falar que domino o pacote do office... pensou. A surpresa foi grande, mas certamente seria um teste para o seu autocontrole. Respondeu na maior tranquilidade:
– Sim, sei trabalhar com o excel em nível avançado. Tenho facilidade para a criação de planilhas… Continuou e terminou citando um exemplo.
– E com o power point você sabe trabalhar?
O candidato estava atônito. Não sabia se explicava para a recrutadora a redundância das perguntas ou se ficava na sua. Resolveu não falar nada ficar na dele e responder o que já fora respondido.
– Sim, sei trabalhar com o power point já que no último trabalho era eu o responsável pela elaboração das apresentações da empresa.
A entrevistadora faz uma anotação, pondo o dedo no queixo como quem está analisando profundamente as respostas e segue com o roteiro:
– Hum… E o outlook você sabe usar bem?
Nesse momento quem estava sendo analisado já era quem recrutava, porque o candidato conseguira identificar que ela realmente não sabia sobre o que falava. Resolveu relaxar e deixou-a seguir com perguntas ilógicas sobre ferramentas lógicas.
– Sim, sei usar o outlook com todas as suas funcionalidades… e citou outro exemplo.
– Certo! e o access você saber usar para fazer banco de dados?
– Sim, sei trabalhar com o windows e todo o pacote office desde o período em que trabalhei como estagiário. Também sei trabalhar com os sistemas operacionais Linux e Mac e suas principais ferramentas.
– Certo! Diz a entrevistadora nitidamente ela agora com um ponto de interrogação na cabeça.
Deveria estar se perguntando, Sistemas operacionais? Linux?… Mas seguiu com algumas perguntas de um roteiro pré-estabelecido sem realmente saber sobre o que falava.
Muito tem se falado na falta de qualificação dos candidatos para as melhores vagas existentes no mercado de trabalho. Isso é bem verdade. Porém, também deveria haver uma preocupação em avaliar como estão as competências daqueles que fazem o processos de seleção. Empresas de recrutamento que selecionam os candidatos para as vagas nas organizações que as contratam para fazê-lo também deveriam estar monitorando a qualificação daqueles que fazem as entrevistas. Para essas empresas contratar psicólogos com boa formação teórica e gestores de pessoas com conhecimentos profundos sobre a área é fundamental. Mas estes profissionais também devem ter conhecimentos sobre as tendências e inovações da área daquele que se entrevista. O recrutador ao fazer um processo de seleção para áreas específicas também deve se preparar para a entrevista. Deve exibir humildade o suficiente para buscar informações sobre a área para quem será designado o candidato, porque ter alguém fazendo perguntas sobre competências técnicas específicas sem o mínimo conhecimento é um desperdício de tempo. Chega a ser uma falta de respeito perguntar ao candidato se ele sabe trabalhar com o excel depois do candidato ter respondido que tem nível avançado no pacote do office.
Assim, a preocupação com a qualificação dos candidatos é real, mas também se deve fazer outra pergunta: quem está preparando os recrutadores?