Em algumas reflexões exploro a questão da valorização das pessoas na organização, independentemente da função ou da posição na hierarquia. Para esse fim, uso uma historinha contada como anedota há muito tempo, mas que tem um fundo de verdade.
Diz a história que uma empresa multinacional foi se instalar numa região que originalmente era habitada por tribos adeptas do canibalismo. A unidade contaria com mais de mil funcionários distribuídos em diferentes departamentos, como o de produção, manutenção, vendas, logística, recursos humanos, entre outros. O diretor da unidade resolveu implementar uma política de boa vizinhança com população local e contratou um grupo de nativos para integrarem o quadro de colaboradores da empresa. Sabedor que era que eles ainda tinham por hábito o canibalismo, convidou-os para uma reunião em seu gabinete, dizendo:
– Fico muito feliz em tê-los trabalhando aqui conosco. Sei que vocês tem como hábito secular o canibalismo, mas pediria para que não o praticassem aqui na nossa organização. Afinal, todos somos colegas e trabalhamos com objetivos comuns…
Continuou falando sobre a importância da presença deles para um verdadeira integração da empresa com o comunidade e, no final, obteve o consentimento de todos para o seu pedido. Que bom!, pensou o diretor. Assim fico mais aliviado!
Tudo transcorria na maior normalidade. A empresa prosperava, os produtos eram bem aceitos e os nativos pareciam estar muito felizes. Até parecia que estavam mais gordinhos ultimamente… Seis meses depois, um determinado dia, a mulher que era responsável pela limpeza e também pela cozinha, que diariamente servia o cafezinho, não apareceu. Também não avisou o motivo de sua ausência. O diretor estranhou, porém não falou nada. No segundo dia em que ela não apareceu a sua preocupação aumentou. O que será que aconteceu com ela? Pensava o diretor. Ela nunca teve uma falta e agora dois dias seguidos. Será que aconteceu alguma coisa mais grave? Ele não queria pensar no pior, mas também não conseguia evitar. No terceiro dia em que a mulher do cafezinho não compareceu ao trabalho ele não aguentou e chamou o grupo de trabalhadores nativos para uma nova reunião em sua sala. Estavam todos sentados a sua frente. Um silêncio sepulcral tomava conta do ambiente. O diretor não sabia como abordar o assunto para não ser acusado de estar sendo politicamente incorreto. Mesmo assim, foi falando:
– Escutem, convidei-os para esta reunião porque fiquei preocupado. A mulher que faz a limpeza e serve o café não apareceu para trabalhar nos últimos três dias. Gostaria de saber se vocês sabem do paradeiro dela, se vocês tem alguma notícias de onde ela possa estar. Não estou dizendo que vocês tenham algo a ver com isso, apenas supus que talvez vocês soubessem algo…
Silêncio absoluto. Constrangedor. Nada se movia na sala. Caso caísse uma pena seria um estrondo… O diretor deixou a frase em suspenso. Passados alguns segundos os trabalhadores começaram a ficar inquietos. Mexiam-se nas cadeiras. Começaram a se entreolhar. Até que um deles não aguentou mais e disse:
– Tá vendo, tá vendo! Eu falei pra vocês, “a mulher do cafezinho, não!” Mas vocês insistiram, não é? Nos seis meses que aqui estamos já comemos três gerentes, dois supervisores, dois vendedores, pessoal do marketing e ninguém notou nada. Mas não, vocês tinham que pegar logo a mulher do café, não é?
Depois de contar a história, naquele dia, naquela empresa, a mulher do cafezinho estava presente na palestra. Ela foi ovacionada pelos colegas de trabalho.
O exemplo não trata de remuneração, mas da importância que cada um dos colaboradores tem para a composição da organização. Cada organização somente é o que é porque conta com as características de cada um dos indivíduos que a compõem. Faltando qualquer um a organização deixa de ser o que é.
Valorize-se!