Gostar e participar de competição sem acreditar em competições pode parecer contraditório, assim como discorrer sobre superação sem aceitar aquilo que comumente se entende por superação também pode soar estranho. Explico a situação.
Por que não acredito em competições? A competição pode ser entendida como a disputa por algo, seja por um prêmio, por espaço, por visibilidade, por um emprego ou mesmo a disputa por um amor. Na idealização das competições ela se daria entre iguais. Aqui entra a minha divergência. Se nós somos únicos não podemos ser iguais. Assim, uma competição não pode ser justa. Não sendo justa não acredito nela. Mas por que eu gosto de competição? Porque ela estimula a que as pessoas desenvolvam o que há de melhor nelas. Podemos fazer um paralelo com um campeonato de futebol. Cada time tem uma diferente composição humana com uma diversidade de talentos, além de diferenças gigantescas de ordem estrutural, econômica e financeira. Mas a disputa acontece do mesmo jeito. O título é o alvo de todas as equipes no início da competição. Conforme o certame avança os objetivos vão se alterando. Alguns continuam a luta para vencer o campeonato. Outros se digladiam para não serem rebaixados. Um terceiro grupo se mantém na disputa por prêmios intermediários. Vale ressaltar, entretanto, que cada equipe continua a ser encorajada a despertar nos seus indivíduos o desejo de dar o seu melhor, individual e coletivamente. É por isso que eu gosto de competição, porque ela melhora o indivíduo fomentando a competitividade.
No meu entendimento, aumentando a nossa competitividade estamos mais aptos a cumprir com a missão a que nos propomos, seja ela individual ou organizacional. Apesar de muitos conceitos trazerem a ideia de que a competitividade se dá quando fazemos o que fazemos melhor do que os outros fazem aquilo que fazemos, considero-a também como algo intrínseco. Para mim, a competitividade se mostra quando fazemos aquilo que fazemos com o máximo de excelência que a nossa unicidade permite. Isso não nos exime como indivíduos ou como organização de acompanhar os índices dos outros como parâmetros comparativos. Entretanto, há que se lembrar que ninguém pode fazer nada com relação aos índices alheios. Cada um somente poderá trabalhar nos seus resultados, seja indivíduo, equipe ou organização. Entretanto, essa comparação poderá levar a cada indivíduo, equipe ou organização a extrair o melhor que há em si mesmo. Assim, tornamo-nos competitivos, até mesmo em competições.
E onde entra a superação em tudo isso? E onde está a minha discordância com relação a ela? A minha discordância vem do fato de se entender superação como algo extraordinário, muitas vezes atrelado a pessoas que conseguiram um feito incomparável. Nesse cenário, as pessoas com deficiência têm sido usadas frequentemente como exemplo de superação. É aqui que entra a minha discordância. Não vejo as pessoas com deficiência como modelo de superação, porque acredito que cada um somente é o que é pelo histórico de vida que teve. Nada além disso. Assim, quando alguém que me vê numa cadeira de rodas suspira e diz que eu sou um exemplo de superação, isso não me diz quase nada. Não é por arrogância, mas porque acredito que se a pessoa que me vê tivesse vivido o que eu vivi faria a mesma coisa. O meu entendimento de superação é muito mais simples. Não tem nada de heroico. É apenas um desenrolar trivial da nossa vida. Entendo superação como o movimento natural e constante de se tornar o que se é. Isso se repete, porque sempre que nos tornamos aquilo que somos nós procuramos uma nova forma de ser que nos leva a uma nova superação. Não há nada de extraordinário nisso. Isso já era dito por Nietsche. Não sou eu que digo, embora eu acredite nisso. Desse modo, a superação é dinâmica, impulsionada pelas contradições e sempre buscando o ser mais de cada um. A superação não atinge um limite estanque duradouro. Porém, para que a superação aconteça é necessário que haja um ponto de estagnação, permitindo que ela novamente seja rompida mantendo o movimento de superação…
É assim que vamos nos construindo e reconstruindo. Rompemos… Superamos… Estagnamos… Rompemos… E o processo evolutivo de superação se repete. A história da humanidade é assim. A história das organizações é assim. A história das equipes é assim. A história dos indivíduos é assim. Por isso, os indivíduos que se superarem com mais frequência dentro desse movimento natural do ser humano terão mais possibilidades de se tornarem competitivos, compondo uma equipe e uma organização competitivas.
Não acredito em competições, mas podemos ser competitivos.
Não compreendo a superação como ela é entendida, mas como um movimento natural a todos nós.
Ser competitivo e superar-se constantemente depende de motivação. Dai nós falamos de outra história…