Ao somente analisar dados de seu passado ele jamais poderia imaginar que o sujeito que lhe alimenta o ano inteiro é o mesmo que vai lhe cortar a cabeça na véspera do Natal. Assim, o passado é fonte de informação, mas temos que analisá-lo criticamente para poder extrair dele referências para o presente e o futuro. Na nossa relação com o meio ambiente, ao analisarmos o passado e também o presente, aprendemos o que não devemos fazer. Mantínhamos, com os recursos naturais, a ideia da sua inesgotabilidade adotando o extrativismo predatório como regra. Assim, nos relacionamos durante muito tempo que nos mostrou o contrário: os recursos são finitos quando não são bem usados. Inclusive, essa percepção chegou tarde demais para algumas espécies animais e vegetais. Hoje, entretanto, entendemos que a nossa relação com o meio ambiente pode e deve ser de um extrativismo sustentável. Experiências mostram que se pode usufruir de tudo o que uma floresta produz, preservando-a. Pode-se conviver extraindo do meio ambiente aquilo que nós, como seres humanos, precisamos para sobreviver, desde que estejamos dispostos a devolver o que ele também precisa para se manter. Na gestão de pessoas ocorre algo semelhante. Muitas organizações adotaram, e outras ainda mantém, uma postura de extrativismo predatório na gestão das pessoas que as compõem. Preocupavam-se ou preocupam-se em apenas extrair das pessoas tudo o que possa melhorar a produtividade e a competitividade. Certamente não é a forma mais inteligente de convívio, assim como não o era com o meio ambiente.
O extrativismo na gestão de pessoas – o final de uma era
O passado é uma fonte constante de informação. Para melhor ou para pior cada um decide. Sempre que olhamos para trás vemos de onde viemos, como vivíamos e o que fazíamos, mas nem sempre conseguimos com isso saber para onde vamos, como viveremos ou o que faremos. A questão de que o passado nem sempre indica para onde vamos fica evidente no exemplo da previsão do peru.
Talvez ele devesse ter conversado com alguém…
Na gestão de pessoas o passado também nos serve de referência para saber o que não se deve fazer, embora alguns insistam em viver no passado. Lembrando a história do peru, organizações que não se adaptarem as mudanças terão o pescoço cortado. Entre as mudanças está a migração de um modelo de gestão de pessoas baseada no extrativismo predatório para um modelo sustentável. Basta olhar para o passado e perceber que as mudanças estão ocorrendo rapidamente em termos históricos. Lembrar que há 200 anos cobrava-se que os jovens de até dezesseis anos trabalhassem dezesseis horas por dia; que a idade mínima para se iniciar na rotina do trabalho era de nove anos; e que não havia descanso semanal, muito menos remunerado, hoje pode nos parecer perverso. Naquela época era natural. Pensava-se tão somente na produção em detrimento da segurança, da saúde e da remuneração das pessoas que compunham aquela organização. Era o modelo de extrativismo predatório na gestão de pessoas. Extraía-se. Sugava-se. Tirava-se. Nada se retribuía. Não se entendia que pessoas saudáveis e bem remuneradas são parte da equação perfeita para que a competitividade e a produtividade tenham sentido, como preconizado num modelo de extrativismo sustentável. Porém, cabe lembrar que ainda hoje muitas organizações não fogem tanto assim dessa realidade. Preocupam-se em implementar programas de qualificação e de avaliação de desempenho dos indivíduos com relação a organização, sem efetivamente se importar com o que a organização está devolvendo aos indivíduos. Continuam num modelo de extrativismo predatório, sugando a energia, abduzindo a alma e arrancando os sonhos das pessoas.
Como mudar essa realidade? Com respeito. Sim, aplicar no convívio pessoal, social e organizacional o que está por detrás do conceito da palavra respeito, independentemente da posição familiar, do status ou do nível hierárquico. Entende-se por respeito o ato ou a ação de respeitar, revelados pelo sentimento de tratar o outro com grande atenção e profunda deferência (Dicionário Aurélio). Deferência pela história, integridade e sonhos do outro. Como fazer isso? Entendendo e assimilando que cada indivíduo é o centro do seu universo e não há nada mais importante para cada ser humano do que ele próprio. Pouco importa se é pai, mãe, irmão ou filho na relação. Não faz diferença ser de classe social baixa, média ou alta. Não é relevante ser o jardineiro, o eletricista, o engenheiro, o faxineiro ou o diretor na organização. É essencial saber que para cada pessoa, em primeiro lugar, vem e deve vir a própria pessoa. Não há nada de errado nisso. É simplesmente natural. Perceber isso é o primeiro passo a caminho de agir com respeito. Pode-se agir com respeito por ser bom, o que é ótimo para todos. Pode-se agir com respeito para ser bom, o que é bom para todos. Mas não é só isso… Pode-se agir com respeito por ser bom ou para ser bom o que na verdade é muito melhor para quem assim age ou assim o é. Não se trata, em absoluto, de ser utópico. Esse comportamento revela inteligência que resultará em organizações mais produtivas e mais competitivas porque compostas por pessoas que estão dispostas a dar o melhor de si com a certeza de ter o retorno esperado. Nesse ambiente, o indivíduo que não se comportar dessa maneira estará faltando com o respeito para com os seus colegas e para com a organização. Automaticamente ele deixará o meio.
Com isso em mente consegue-se, pelo menos, aplicar o extrativismo sustentável na gestão de pessoas. Melhor ainda… Talvez se possa ultrapassar a concepção do extrativismo, que carrega a conotação de sugar e tirar. Ao gerir pessoas tendo como premissa o respeito pode-se avançar para um modelo que envolva as pessoas, dando-lhes as oportunidades que procuram. Desse modo, as pessoas vão retribuir espontaneamente o que elas têm para dar, entrando numa era de gestão de pessoas feita por pessoas e para pessoas.