Num experimento sobre criatividade, Csikszentmihalyi e Getzels confirmaram que os descobridores de problemas são mais criativos do que os resolvedores de problemas. Para isso estudaram um grupo de artistas para quem foi proposto uma tarefa. O grupo se dividiu entre aqueles que logo se propuseram a cumprir a tarefa e aqueles que a questionaram. Desse modo, um grupo procurava resolver um problema, enquanto o outro grupo tentava encontrar um problema. Os cientistas acompanharam os estudantes por mais dezoito anos e descobriram que aqueles que inicialmente se preocupavam mais em descobrir problemas eram significativamente mais bem sucedidos do que aqueles que partiam imediatamente para a resolução dos problemas.
Por isso, a qualidade do problema proposto é um precursor da qualidade da solução alcançada, concluíram os cientistas. Enfim, a descoberta e a criação de problemas, muito mais do que qualquer conhecimento superior ou habilidades técnicas ou artesanais, são as que muitas vezes determinam a criatividade da pessoa em sua área. Os descobridores de problemas são aquelas pessoas que mais avanços produzem, uma vez que têm diferentes fontes de informações, experimentam abordagens variadas e estão dispostos a mudar de direção durante o projeto, mesmo que, às vezes, demoram mais para cumprir o trabalho do que os seus colegas.
Os cientistas citam como exemplo a vontade de uma pessoa em comprar um aspirador de pó. Caso estivéssemos 20 anos atrás o sujeito iria até a loja e se informaria com o vendedor quais as melhores características e qual o modelo mais indicado para você. Hoje, o comprador, antes de ir para a loja, já pesquisou na internet todas as particularidades e especificações técnicas, além de comparar os preços dos diferentes distribuidores. Pode simplesmente comprar sem sair de casa. Não precisa do vendedor. Entretanto, quem trabalha com vendas ou na tarefa de mover pessoas, a questão pode ser ainda outra. Quem disse que ele precisa de um aspirador? E se o comprador estipulou o problema errado? Ao invés de comprar um aspirador talvez o real problema esteja na vedação das janelas? Ou ainda nos carpetes muito velhos que estão na sala? Talvez ele não deveria comprar um aspirador, mas contratar o serviço de uma cooperativa que presta esse serviço próximo da sua área de uma forma mais rápida, eficiente e barata? Se eu sei o meu problema é mais fácil resolvê-lo. Talvez eu precise de alguém que me ajude a encontrá-lo.
Duas habilidades importantes no passado e hoje. Enquanto no passado era importante ter a informação, hoje é importante saber classificar a informação entre tanta disponível, retendo o que é mais relevante. No passado era importante saber dar as respostas, enquanto hoje é importante saber fazer as perguntas, descobrindo possibilidades para trazer a tona questões latentes e encontrar problemas inesperados. É determinante saber que para se ter uma boa solução é obrigatório que se tenha a questão certa. Saber definir o problema é prioridade.
Você tem descoberto bons problemas? Se sim, além de ser um bom descobridor você também poderá ser um ótimo resolvedor de problemas.
Extraído de Pink, Daniel (2013). To sell is human. Chapter 6.