… não tenho equipe!
Esse é um erro de interpretação cometido por muitos profissionais que executam as suas tarefas num ambiente solitário. Ouvi advogados falando isso. Ouvi dentistas. Ouvi arquitetos. Ouvi os mais variados profissionais autônomos fazendo essa afirmação, assim como atletas de alto rendimento que competem sozinhos. Esse sentimento também está presente em grupos de trabalho em diferentes organizações, muitas vezes revelado em pessoas com alto conhecimento técnico e grande desempenho. Essas pessoas e profissionais têm desenvolvido o sentimento da “euquipe” e não de “equipe”. Normalmente acreditam ser mais importantes ou indispensáveis para um determinado projeto. Particularmente, não acredito nisso, porque de uma forma ou outra as nossas atividades estão interligadas com as de outros numa relação de interdependência. Posso até ser a parte mais visível de um determinado processo, mas não necessariamente a mais importante.
Como exemplo sempre uso a competição individual de remo. Nesse caso, o remador compete sozinho, mas ganha ou perde representando uma equipe. No momento da prova não há muito o que outra pessoa possa fazer por ele. Se ele não estiver treinado física e tecnicamente e bem preparado psicologicamente, certamente não vai chegar na frente. Porém, tudo isso ocorre num ambiente em que interage com técnicos, terapeutas, dirigentes e auxiliares que trabalham para que o atleta que compete sozinho tenha condições de alcançar o resultado esperado. O atleta faz parte de uma equipe. Por isso, as chances de vitória diminuem para aqueles que se entendem como “euquipes” e não reconhecem a importância dos demais no processo. Nas profissões autônomas, o exemplo se repete. Posso até exercer as tarefas finais individualmente, mas sempre há a necessidade de buscar material, suporte ou apoio em fornecedores ou em toda uma rede de contatos que faz com que o meu trabalho seja melhor.
A questão também se revela nas organizações em que o sentimento de “euquipe” atinge as pessoas dentro de um grupo de trabalho. O ambiente se torna difícil e, tendencialmente, menos produtivo. Isso não tem nada a ver com o não reconhecimento da individualidade. A ideia é exatamente a oposta. Sempre defendo que cada indivíduo deve se reconhecer como a pessoa mais importante para si mesmo e entender que o outro também o é para ele. Assim, o reconhecimento da individualidade, da importância própria e do outro, é que gera um verdadeiro espírito de equipe. Entenda-se equipe como um grupo de pessoas que se envolvem na mesma tarefa ou que despendem esforços tendo um propósito comum como norte. Os times de esportes coletivos representam muito bem esse conceito, pois é necessário que haja um forte espírito de equipe para que o melhor de cada um possa aparecer, contribuindo para o êxito de todos. Nesse processo, o respeito por si e pelos demais é fundamental. Ao gestor cabe estimular o aparecimento desse espírito, seja numa equipe de futebol ou num grupo de trabalho de uma organização empresarial. Pode-se ter aquelas pessoas que são as mais visíveis no processo, mas se deve ter o entendimento que a importância depende de outras variáveis.
Há um exemplo para isso. Não me recordo mais quem disse, mas lembro-me da pergunta feita:
– Quando você vai fazer um Raio-X qual é a parte mais importante: a máquina de Raio-X ou o cabo que a alimenta com energia?
Não há como definir, porque as partes isoladas nada podem fazer. Há que se entender que todos os envolvidos num processo são importantes. Não há espaço para pessoas que se queiram crer mais importantes do que as outras. Não há lugar para quem acredita ser uma “euquipe”. O importante é fazer a sua parte em benefício próprio e da EQUIPE!