Cheguei no clube de remo pela manhã. Não era tão cedo, mas acompanhei o nascer do sol nas margens do Arroio Pelotas. Conversava com os meus amigos acompanhado pelo tradicional chimarrão. Alguém saiu para remar. Outro saiu para pegar mais um barco. Eu estava ali para remar, mas já estava me dando uma preguiça danada de ir remar. Só de pensa no exercício estava ficando cansado. Seria mais um daqueles dias em que eu iria até o clube, mas voltaria para casa sem remar… Nisso, uma pessoa, para mim desconhecida, chegou na roda. Cumprimentou as pessoas, deu-me uma olhada analítica de cima até embaixo e lascou uma pergunta de aproximação:
– E essas pernas, como vão?
Silêncio. O assunto morreu. Não por falta de educação, mas depois de tantos anos como usuário de cadeira de rodas ainda fico sem palavras com a abordagem que algumas pessoas usam para conversar comigo. Um dos meus amigos deu um sorriso e saiu de fininho. O outro também desapareceu. Deixaram-me com aquela “mala” ali no meio do pátio do clube. Olhei para um lado e outro em busca de socorro que eu sabia que não viria. Lá vou eu ter que explicar para o sujeito… Falei:
– Tá tudo bem. Vim aqui para dar uma remada…
Deixei a pergunta de lado. De qualquer maneira, ele não queria que eu respondesse a pergunta. Ele queria falar de si. Aproveitou a minha pausa para emendar:
– Sim, eu também estive numa dessas por um tempo… e blá, blá, blá. Continuou depejando um besteirol digno de um campeonato de misérias.
Num momento de distração dele, enquanto buscava lembrar das suas misérias para continuar a despejá-las, aproveitei e disse:
– Vou indo, chegou a minha vez de remar…