No post E se fosse a sua filha? escrevi sobre as preocupações de uma mãe porque a sua única filha estava querendo se casar com um rapaz paraplégico. No meu caso a filha única de alguém contou para os seus pais que estava namorando um cadeirante. O sogro e a sogra: diferentes pessoas, reações desiguais.
Como foi a reação do meu sogro ao saber que a sua única filha iria casar com um cadeirante?
Recentemente, estávamos jantando, meu sogro, minha esposa e eu. Falávamos sobre diferentes temas, alguns polêmicos e outros ocasionais. Uma certa nostalgia no ar, porque recordar também é olhar mais uma vez. Não se trata de ficar preso ao passado e viver de lembranças, mas de esmiuçar as experiências para viver bem no presente e garantir um futuro melhor para si e para os outros. Entre as lembranças nos ocorreu como foi que a minha esposa, filha única, havia dado a notícia para os seus pais de que estava namorando um rapaz paraplégico. Não só como deu a notícia, mas também como fora a reação deles.
A Andréia começou a contar a história da reação do pai. Ela disse que, inicialmente, estava preocupada em contar para ele, pois não sabia qual seria a sua reação. Ela somente sabia que estava gostando do dito namorado, que no caso era eu. Sorte a minha! O pai dela e eu somente escutando… Ela continuou relembrando, dizendo que nós já estávamos “ficando” por mais de um mês quando ela resolveu contar. Foi num sábado à tarde, antes de ir até a minha casa (quase sempre era ela que me visitava. De novo, sorte a minha!) que ela revelou o grande segredo para o pai:
– Falei mais ou menos assim. “Pai, eu tenho um namorado. Não sei se você vai gostar muito dele…”. Lembro que ainda antes de eu dar os detalhes ele já respondeu, “Mas você gosta dele?”. Daí eu disse que sim, mas que você era cadeirante… Ela disse olhando para mim.
Logo continuou contando:
– E as palavras do meu pai foram as seguintes, “Se você gosta dele, tudo bem. É você quem vai viver com ele, não eu!” Ainda bem para mim…
Nós rimos das lembranças. Para mim ficou o aprendizado da ausência total de preconceito, o incentivo a independência e a assunção de responsabilidades sobre as próprias escolhas na postura do meu sogro. Sempre pude perceber que esses ensinamentos estão presentes na conduta da Andréia. Ao longo dos quase 20 anos em que convivo com ela, e também com o meu sogro, essa percepção inicial se mostrou real. Não foram somente palavras. Nunca tive que ouvir qualquer comentário que se referisse à minha condição física ou lamúrias sobre decisões que houvessem se mostrado equivocadas.
Por fim, mais uma vez a pergunta: o que você diria se a sua única filha quisesse se casar com um cadeirante?
No próximo post vou contar como a minha sogra recebeu a notícia que a sua única filha estava namorando um cadeirante…