Vocês não se importam de esperar?

A van cheia de atletas parou em frente ao restaurante. Logo atrás estacionaram mais dois ou três carros. Eram aproximadamente vinte pessoas que iriam almoçar naquele restaurante. O técnico foi até a entrada do restaurante e falou com a moça para ver se havia lugar para todos. Ela fez uma cara preocupada. Olhou para a parte interna do restaurante e avaliou o espaço. Olhou em direção ao grupo de pessoas que se movimentavam ao redor da van e também dos carros. A cara de espanto era evidente. Provavelmente deveria estar pensando, Meu Deus, como vou acomodar tantos cadeirantes e pessoas com muletas aqui dentro? Sim, tratava-se da equipe de basquete em cadeira de rodas que era formada por pessoas com deficiência física. Algumas das pessoas usavam cadeiras de rodas, outras muletas e outras tantas locomoviam-se sem nenhum auxílio. Uma diversidade de tipos e estilos, mas todos com fome. Via-se que a moça do restaurante estava impressionada. O técnico da equipe com toda a sua experiência de convívio com os atletas também já havia avaliado o espaço e sabia que era o suficiente. Certamente que precisariam empurrar e ajustar algumas mesas e cadeiras, mas nada que cinco minutos de boa vontade não resolvessem. Ele estava esperando uma resposta. A moça começou a gaguejar:
– Pois é… É… Não sei… Talvez…

Silêncio. Ela olhava para a área do restaurante, para os outros clientes e para a movimentação das cadeiras de rodas em frente. Em seguida entrou no restaurante, falou com alguém e retornou para dizer ao técnico:
– Olha, se vocês quiserem esperar mais ou menos uma hora até que o movimento diminua ou se não vierem muitos outros clientes daí eu posso acomodar vocês…

Nisso chega um casal que passa pela moça e entra diretamente no restaurante:
– Bom dia!
– Bom dia! Responde ela.

Logo, ela volta a olhar para o técnico, que já estava com a boca aberta pela primeira parte da resposta, e continua:
– Sim, se vocês aguardarem por aqui depois eu poderei atendê-los…

O técnico não acreditava no que havia ouvido. Sequer respondeu algo, mas pensou, É lógico que nós nos importamos. Por que os outros não precisam esperar?. Voltou ao encontro de todos os atletas que já haviam descido dos carros e esperavam para entrar no restaurante dizendo:
– Vamos até aquele outro restaurante. Aqui está “cheio”.

Ninguém entendeu direito o que havia acontecido, porque olhando para o restaurante via-se que havia espaço. Porém, niguém questionou e todos seguiram o técnico. Em poucos minutos almoçaram num restaurante com menos espaço, mas com muito boa vontade.

Antes de embarcar na van o técnico foi até a moça do primeiro restaurante, que continuava na porta esperando clientes, e disse:
– Muito obrigado pelo atendimento. Vejo que vocês estão “lotados” hoje… e olhou para o interior do restaurante que continuava praticamente as moscas.

É óbvio que ninguém se importaria de esperar caso fosse necessário porque o espaço estivesse lotado. Porém, esperar porque talvez um usuário de cadeira de rodas ocupe mais espaço que outro cliente? Isso não. Ninguém estava lá para almoçar de graça, tratava-se de um grupo de clientes, que por uma razão ou outra, fugia um pouco do estereótipo convencional.


Começa a ser urgente o entendimento de que a sociedade deve atender ao cidadão, todos eles!

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