Eu realmente gostei do documentário Inside de Job disponível em http://vimeo.com/39018226.
Os produtores são assertivos nas suas abordagens, fazem entrevistas contundentes e se aprofundam na análise do tema em questão: a perversidade do sistema financeiro e do mercado de ações. E realmente é uma vergonha o que acontece diarimente no mercado de ações e o que aconteceu ao sistema financeiro em 2008 que praticamente quebrou, levando consigo a economia de milhares de pessoas assim como você e como eu. Considere-se ainda os alertas dados por alguns economistas e analistas independentes mais críticos que não foram levados em conta. No Brasil, nós olhamos, observamos, entendemos o que aconteceu, mas não aprendemos. A Petrobrás e as estatais brasileiras que o digam…
Voltando ao documentário Inside the Job entendo que a crítica é certeira no mérito e concordo com ela em gênero, número e grau. Porém, se nós dermos um passo atrás e olharmos mais detalhadamente quem produziu a crítica e mesmo quem narrou o documentário podemos levar a reflexão para outro rumo. Quem é Charles Ferguson, o produtor? Quem é Matt Damon, o narrador?
Nos dias de hoje, Ferguson é o proprietário da Representational Pictures, especializado do filão de documentários críticos. Está meio na moda criticar e isso rende dinheiro. Antes disso, entretanto, ele foi consultor da Casa Branca nos anos 1980, período em que construiu uma excelente rede de contatos poderosos. Depois disso, em 1994, Ferguson fundou a empresa Vermeer Techonologies que criou o FrontPage, um dos primeiros softwares desenvolvedores de páginas da internet. Uma verdadeira inovação ao permitir que pessoas sem muito conhecimento informático também pudessem desenvolver páginas para a internet. Dois anos depois, Ferguson vendeu o seu empreendimento para a Microsoft por mais de 130 milhões de dólares. Certamente esse dinheiro teve origem do mercado de ações e também do mercado financeiro. No momento de por esse dinheiro na própria carteira o senhor Ferguson não teve nenhuma crítica a fazer ou tenha feito algum movimento para se recusar a recebê-lo, já que a sua origem é desprezível.
E Matt Damon, quem não o conhece? Também eu gosto do seu desempenho nas telonas, de onde ele recebeu aproximadamente 10 milhões de dólares por filme realizado na última década. Dentro das salas de cinema, certamente, tem pessoas que poderiam viver uma, dez ou vinte vidas sem jamais ganhar o que Matt Damon ganha para trabalhar num filme. Estou no grupo. Porém, simplesmente pelo fato de que ele talvez não tenha cobrado nada para narrar o documentário não o faz ser melhor do que o restante da humanidade ou do que as pessoas que ele entrevista. Na verdade não é melhor do que ninguém. Ele não fez absolutamente nada para melhorar o mundo. Ele simplesmente deixou de receber dinheiro. A situação se repete quando um grupo de famosos, sejam eles cantores ou atores, reúnem-se para fazer um espetáculo sem cobrar honorários e destinar o dinheiro arrecadado para algum fim humanitário. O que fizeram tais artistas? Nada. Absolutamente nada. Quanto do seu dinheiro foi para a caridade? Nenhum tostão. Sabe-se muito bem que se cada um desses artistas destinasse um ou dez anos daquilo que eles ganham para fins de caridade representaria muito menos do que representa o que gastaram aquelas pessoas que foram assistir ao dito show beneficente. Eles sim desembolsaram o equivalente a um, dois ou dez dias de trabalho de um mês para assistir ao show, que no orçamento final representa muito mais para a sobrevivência com dignidade do que representaria dez anos sem receber por shows na vida de artistas de topo.
Assistir e escutar as críticas ao modelo que nos rege, como o documentário Inside the Job, é uma forma de poder entender como as coisas funcionam em escala macro para depois poder contribuir para a construção de um mundo melhor em escala micro. A questão que se coloca é que as pessoas normalmente querem melhorar o mundo nos outros, outside themselves. Não acredito em pessoas que se creem melhores do que outras pessoas, simplemente porque acreditam que sabem como os outros deveriam se comportar para que o mundo fosse melhor. Para mim, esse é um caminho difícil e que não funciona… Acredito em pessoas que querem se tornar melhores para melhorar o mundo. E isso acontece a partir de nós mesmos, do nosso entorno e das nossas relações: inside ourselves!