Após o almoço, o anfitrião todo orgulhoso observa os convidados saboreando o prato oferecido. Ele sabia muito bem que os convidados tinham hábitos alimentares muito diferentes, mas fez questão de recebê-los com um prato típico da sua região e da sua cultura. Quando viu que todos estavam servidos e a expressões denotavam que haviam gostado, indagou:
– E então, gostaram?
– Sim, estava excelente! Respondeu um.
– Nossa, nunca imaginaria que pudesse ser tão bom! Respondeu outro.
Certamente que os elogios encheram o anfitrião de orgulho. Agradeceu os comentários e fez outra pergunta:
– E na terra de vocês, qual é o prato típico?
Os convidados se entreolharam até que um comentou:
– A comida do dia a dia é o tradicional feijão e arroz, com um pedaço de carne e saladas. Essa é a combinação mais tradicional… e continuaram falando sobre a cultura gastronômica de sua região.
O dono da casa então ofereceu:
– Vocês gostariam de preparar uma refeição típica durante esta semana? Acredito que possamos encontrar todos os ingredientes que vocês precisam…
E assim foi combinado o almoço agora com a comida típica dos visitantes numa integração de culturas e costumes alimentícios complementares. Não se estava dizendo que uma era melhor do que a outra, apenas que eram diferentes.
Acredito que esse seja o caminho para que a humanidade caminhe rumo a sua trajetória planetária em que chegaremos ao ponto de ser um único povo, sem diferenças culturais que nos criem atritos, conflitos e guerras. Pra isso, o respeito deve ser o propulsor da efetiva integração. Se ainda hoje temos tantas questões que provocam hostilidades e divergências é o resultado da intolerância de um para com o outro. Muitas vezes pode ser a arrogância de acreditar que os meus hábitos são melhores do que os seus. E não é isso. Sabe-se que os hábitos e costumes que cada povo desenvolveu durante milênios tiveram a sua razão de ser e funcionaram, tanto que os povos aqui chegaram. Hábitos e costumes que fundamentavam uma cultura baseavam-se nas habilidades e no conhecimento de que cada povo dispunha. Eram hábitos que seguiam as características ambientais de cada região. Sabe-se que os povos que viveram e se desenvolveram em climas mais frios tinham estratégias de sobrevivência diferentes daqueles que surgiram em regiões mais quentes. Naturalmente também os hábitos alimentares eram diferentes, porque cada povo dependia diretamente daquilo que o ambiente oferecia. Hoje essa dependência direta dos produtos da região são bem menos importantes. Por isso as pessoas passaram a experimentar, a integrar e a modificar os hábitos alimentares. Na grande maioria dos casos não se fala mais em questão de sobrevivência individual e da espécie quando se escolhe o que se vai comer, mas faz-se as escolhas alimentares por gosto.
Por isso, da próxima vez que você viajar não deixe a sua cultura em casa. Leve-a consigo, mas respeite a cultura local. E se você realmente quiser comer feijão onde ele não é a comida principal, leve-o. Desse modo você poderá saboreá-lo e, quem sabe, oferecer uma iguaria para os anfitriões.
Vai que lhe ofereçam escorpiões…
Não se preocupe. Deve ser muito bom.
E bons novos hábitos oxigenam nossa vida!