O grupo de estudantes tomava sorvete logo após o término da prova, aproveitando o calor no início de verão europeu. Eram alunos de graduação e também de mestrado que cumpriam a mesma disciplina. Pessoas de países tão diferentes como Rússia, Irã, Alemanha e Brasil. A faixa etária, aparentemente, variava entre os vinte e os trinta e cinco anos. Eles conversavam animadamente sobre as questões abordadas na prova, os prováveis acertos e erros.
Um dos colegas começou a fazer algumas perguntas pontuais sobre fonética e transcrição fonética. Logo veio uma resposta de um dos colegas:
– Afff… Detesto fonética. Nem sei se serve para alguma coisa útil… falou com desdém. Não porque realmente detestasse a matéria, mas talvez porque o assunto não lhe havia despertado grande interesse.
Na sequência vem outra pergunta. Agora outro colega responde:
– Hum… Interessante. Fiz alguns experimentos e transcrições no primeiro semestre da graduação. Gostei muito… e falou mais um pouco sobre trabalhos já feitos com a clareza de quem gosta do assunto.
Mais uma ou outra pergunta até que um dos ouvintes indagou:
– Isso é uma entrevista de emprego?
– Hum… É… respondeu o colega que fazia as perguntas. Preciso recrutar alguém para participar do projeto de transcrição fonética do alemão… continuou explicando. Depois disse o nome de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo que patrocinaria o projeto.
O primeiro que havia respondido logo se deu conta da besteira que fizera. Disse em tom de brincadeira:
– PQP… não, não… adoro fonética… mas ele sabia que já era tarde.
O rapaz que respondeu de forma interessada e falou com desenvoltura sobre o tema foi o escolhido para o projeto. O primeiro era um mestrando e o segundo, um graduando.
Fica a pergunta: até que ponto sabemos o que sabem os nossos colegas? Encontramo-nos cada vez mais com pessoas de zonas tão diferentes do planeta que não há como saber o conhecimento prévio de cada um. É ainda mais difícil saber quem é quem pela aparência, pela idade ou pelo curso que está fazendo. Há pessoas com um visual bem descolado, mas que estão coladas na grana que um negócio inovador lhes rende. Há outras pessoas estudantes no ensino regular, mas são doutores na prática da mesma atividade. Eles apenas buscam o reconhecimento formal da área. Também há aqueles que parecem tão jovens, mas são incrivelmente experientes naquilo que fazem. Em muitas áreas não é só a universidade que dita quem tem conhecimento ou não. As pessoas é que determinam o quanto querem aprender sobre aquilo que se interessam. O conhecimento está disponível!
Certamente que as universidades têm melhores hipóteses para reunir talentos e permitir que a troca de experiências aconteça num ambiente de crescimento mútuo. Nele são encontrados Professores Doutores que precisam ser Aprendizes, assim como Aprendizes Doutores que poderiam ser os Professores. Não há limites. Nesse ambiente, o aluno certamente é um aprendiz, mas poderia ser um mestre, um doutor ou mesmo aquele que paga os mestres e os doutores.
Certamente que as universidades têm melhores hipóteses para reunir talentos e permitir que a troca de experiências aconteça num ambiente de crescimento mútuo. Nele são encontrados Professores Doutores que precisam ser Aprendizes, assim como Aprendizes Doutores que poderiam ser os Professores. Não há limites. Nesse ambiente, o aluno certamente é um aprendiz, mas poderia ser um mestre, um doutor ou mesmo aquele que paga os mestres e os doutores.
Fica a dica: o seu futuro chefe pode estar ao seu lado!
Seja autêntico, não seja burro!