Você sabe criar raiva?

Estava eu almoçando e ao meu lado sentam-se mãe e filha. As duas estavam alegres. De repente o assunto enveredou para uma prova que a filha recém havia feito na faculdade:
– Eu não entendo como essa professora pode fazer uma prova tão difícil. Além de tudo, confusa. Que raiva!!!
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Depois, de forma ainda mais exaltada, disse:
– Mãe… Eu vou ficar abaixo da média. Vou ficar pendurada numa disciplina. Eu não acredito… e continuou descrevendo as incongruências da prova, segundo o seu ponto de vista.
 
Via-se que a menina se alterara. O humor já se havia modificado. Ela ficara ruborizada pela onda de raiva que lhe invadira ao relembrar a prova que havia feito. Ela continuou a falar sobre os supostos disparates da professora na confecção da prova. Via-se que a irritação aumentava. A mãe a acalmava:
– Fica tranquila, minha filha. Você estudou? Você respondeu as perguntas? Então ela vai considerar. Você vai ver que a nota será bem melhor do que pensa...
– Não, mãe. Não vai ser. Estava muito difícil…
 
Em seguida mudaram de assunto. A conversa voltou a ficar amena. As duas voltaram a sorrir num clima descontraído. Eu terminei o meu almoço e fui buscar um café. Ao retornar para a mesa vi a presença de uma colega, que perguntou:
– Como você foi na prova?
– Ah, fui mal, né? Com uma prova tão maluca… e voltou a descrever a prova.
 
Pude observar mais uma vez que o humor dela se modificava conforme ela descrevia a prova. A irritação novamente era visível no semblante e na postura da menina. Ela revivia a sensação negativa com a intensidade de quem estava diante do fato. Entendi que se pode criar raiva. Passei a observar que muitas pessoas se dedicam a arte de criar raiva com uma determinação incrível.
 
Comecei a reparar como as pessoas, entre elas eu, identificam uma situação em que ficam com raiva e recontam-na um sem número de vezes recriando a emoção inicial. Isso pode acontecer numa fila, no trânsito, no trabalho, em casa, no esporte ou em qualquer lugar. A situação é incomum, normalmente injusta segundo o ponto de vista de quem a viveu. A raiva vem, como é natural. Alguns perdem as estribeiras já no momento. Outros até administram bem a situação enquanto ela acontece. Porém, quase todos, não perdem a oportunidade para descrever a situação para os outros. Para o primeiro que encontram já contam, Você não imagina o que me aconteceu… Na sequência descrevem em detalhes o ocorrido, muitas vezes, exagerando o quanto se irritaram. Lá vem a raiva com toda a intensidade. Conforme a pessoa vai encontrando outros amigos, a esposa, o marido, pais, irmãos e lá vão eles recontando a situação e criando cada vez mais raiva. Você já viu alguém assim? Você já fez isso? Eu já. Em muitas situações criei raiva para mim mesmo ao ruminar e recontar situações sobre as quais já não tinha mais nada para fazer.
 
Pude constatar que as pessoas mantêm emoções negativas durante muito mais tempo do que deveriam. Ao contar e recontar situações negativas as pessoas prolongam a raiva, renovam a irritação e aumentam a frustração. Com isso, aprofundam emoções negativas e são infelizes várias vezes.

 

 
Se for para relembrar algo que seja algo bom para recriar emoções positivas e ser feliz várias vezes. Que tal criar amor? Gratidão? Contentamento? Alegria? Satisfação?

 

 

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