Uma das partes que mais gosto quando estou conduzindo um evento é na hora em que solicito um voluntário para uma atividade. Logo que faço o pedido posso ver no rosto de muitos o conflito entre a vontade de se voluntariar e o medo de se expor. As pessoas ficam inquietas em suas cadeiras. Ficam tensas. As feições revelam o desejo de se atrever, assim como o esforço de se conter. De repente, uma pessoa entre tantas com vontade, move-se. Oferece-se. Arrisca-se. Esse movimento gera uma sensação de alívio para todos aqueles que tinham a intenção de fazê-lo. Por outro lado, as mesmas pessoas que ficam aliviadas sentem-se um pouco frustradas. Lá no seu íntimo pensam, Eu poderia ter me candidatado… Agora já não dá. Outro já ocupou o lugar.
Naquele evento tinha-se uma situação bem particular. A maioria do público era de jovens atletas de remo que estavam iniciando no esporte. No dia anterior, numa das primeiras aulas práticas, uma jovem teve uma crise de pânico durante a atividade na água. Com o barco no meio do rio, parou completamente. Travou. Ficou paralisada. O medo a vencera. Começou a lamentar-se dizendo que não conseguia fazer qualquer tipo de movimento. O técnico aproximou-se com a lancha e com muita calma conduziu-a para a margem. Lá conversaram e ela foi fazer outras atividades em terra firme. Eu sabia da situação.
Na palestra estava no momento em que peço um voluntário. Disse:
– Preciso de um candidato para uma atividade aqui comigo… Um voluntário!
O silêncio tomou conta do ambiente. Virei-me e tomei um gole de água enquanto a sensação de desconforto tomou conta dos participantes. Voltei-me novamente para o público. As pessoas começavam a se entreolhar. Voltei a falar, olhando diretamente para os olhos da menina que no dia anterior ficara paralisada pelo medo e disse:
– Preciso de um voluntário ou de uma voluntária. Uma atividade bem simples…
Silêncio. Ninguém se moveu. Eu estava na torcida para que fosse a menina para quem praticamente dirigira o convite. Ela tinha outra chance de vencer o medo. Tudo quieto. Umas cinquenta pessoas e não se ouvia nada. De maneira repentina a menina levantou-se e ofereceu-se para colaborar. Ela aproveitou a nova oportunidade. Atreveu-se. Foi um momento mágico. Ela, que fora vencida pelo medo no dia anterior, vencera o medo agora. Tratava-se de um processo. Coragem ela tinha, assim como todos têm. Medo também, assim como todos têm. Ela está remando para o futuro que escolher!