Estávamos em quatro pessoas em casa. Minha esposa, eu e mais duas amigas que nos visitavam. Elas trabalham na área de Gestão de Recursos Humanos, especificamente em recrutamento e seleção. Ainda faltavam chegar mais dois convidados. Eram dois jovens, um com 26 e outro com 29 anos. Vamos chamá-los de Eric e de Dave. Eric mais jovem, mais tímido e, indubitavelmente, o gênio da turma de linguística computacional da universidade. Dave um pouco mais velho, muito mais extrovertido e não tão genial, mas igualmente integrante da mesma turma na universidade.
Tocou a campainha. Eram 20h. Certamente seria o Eric. Ele nunca se atrasaria. Abri a porta e Eric entrou. Cumprimentou-nos como sempre fazia quando nos visitava. E isso acontecia todas as semanas. Em seguida ele cumprimentou educadamente as duas novas visitantes. Inseriu-se na conversa de modo a observar muito mais do que a participar. Ofereceu-se para ajudar na cozinha e passou a preparar a salada de frutas.
Trinta minutos depois a campainha tocou novamente. Agora era Dave. Como sempre, dificilmente chegava no horário combinado. Quase sempre se atrasava um pouco por um ou outro motivo. Logo que entrou, Dave cumprimentou efusivamente a todos. Rapidamente ele estabeleceu pontos de conexão com as duas visitantes a quem ainda não conhecia. Indagou de onde elas eram e qual a profissão delas. Em poucos minutos pareciam que eram amigos de longa data.
A noite transcorreu maravilhosamente bem. Comemos. Conversamos. Brindamos. E, por fim, minha esposa, Eric e eu recolhemos as louças e reorganizamos a cozinha. Dave continuava a conversar com as duas novas amigas sentados à mesa. Era a sua natureza. Um café para finalizar à noite. Eric e Dave se retiraram conversando como bons amigos que são. Nós, os quatro, ficamos em casa. Retomamos a conversa.
Aproveitando que as duas atuam na área de Recursos Humanos, fiz-lhes uma pergunta:
– Existe uma só vaga. Esses dois são os candidatos. Qual dos dois vocês contratariam?
A resposta foi consensual entre as duas: Dave. Sequer precisaram olhar uma para a outra em busca de consentimento. Foi espontânea a resposta. Estariam elas certas?
Não há consenso para isso. Elas não tinham o conhecimento prévio sobre eles que expus acima. Não sabiam da qualificação de um e de outro. Os dois são excelentes pessoas, cada um com suas características mais marcantes. Daniel Kahneman em seu livro Rápido e Devagar relata suas experiências como recrutador. Revela que as contratações feitas tão somente na intuição podem se revelar ineficientes. A intuição pode ser superficial. Por isso, a recolha de dados, mecanizada e objetiva, sobre o outro é relevante. Entretanto, ele destaca que ao finalizar uma coleta de dados a avaliação intuitiva deve ser considerada. Há que se desenvolver uma objetividade subjetiva!
Quem você contrataria? Depende. Não há certo ou errado. Há que se alinhar as necessidades de quem contrata com quem será contratado.