As conversas com o meu amigo, muitas vezes, voltavam ao mesmo ponto. Ele dizia:
– O problema do mundo é o dinheiro. Eu fico pensando que se tirássemos o dinheiro deixaríamos de ter tantos problemas. As pessoas se deixam influenciar, deixam-se levar e se deixam corromper pelo dinheiro…
E ele continuava toda a sua argumentação de que a ganância e a ambição desmedidas têm a suas origens no dinheiro. Em tempos de corrupção é uma argumentação fácil. Particularmente eu não concordo, mas já não exporia para o meu amigo as minhas razões para essa discordância. Em parte, vou escrevê-las.
Concordo que a ambição e a ganância podem levar as pessoas a buscar o dinheiro de forma desmedida, porém não entendo que o dinheiro seja a verdadeira razão. Pessoalmente acredito que o dinheiro seja tão somente o símbolo daquilo que as pessoas gananciosas e ambiciosas em demasia procuram. Elas querem o poder que o dinheiro proporciona. Elas querem o prestígio e a influência que o dinheiro em grande quantidade aparentemente assegura. A vilania não está com o dinheiro tão maldosamente taxado de “vil metal”. Por outro lado, lembro de que o dinheiro também pode ser usado para cumprir com a sua função social primária de atender as necessidades dos cidadãos, assim como para ações de bondade e de caridade. A generosidade também não está com o dinheiro. Desse modo, se por um lado o dinheiro pode comprar um iate, por outro lado é o dinheiro que paga o leite das crianças. Se por um lado o dinheiro pode comprar uma mansão, por outro lado também é o dinheiro que paga a conta de energia das casas humildes. Se por um lado o dinheiro pode comprar um terno Armani, por outro lado também é o dinheiro que paga os materiais para se fazer os exames médicos que nos preserva a saúde. Se por um lado o dinheiro pode ser associado a ganância e a ambição, por outro lado ele pode ser associado a bondade e a caridade. O dinheiro apenas é o símbolo, ele não é a coisa em si. O uso que se dá as coisas, o dinheiro, é diferente das coisas em si, ambição e ganância ou bondade e caridade. As coisas em si que o dinheiro pode fazer depende de cada um.
Em toda a história da humanidade foram criadas e desenvolvidas tecnologias as mais variadas que podem ser símbolos de evolução ou de retrocesso; de vida ou de morte; de construção ou de destruição. Para o bem ou para o mal, aquilo que a humanidade criou depende do seu uso. O uso é determinado pelo comportamento. O comportamento é determinado pelo caráter. E o caráter é individual. Dessa forma, entendo que ambição e ganância são questões comportamentais de cada indivíduo, assim como a bondade e a caridade. O dinheiro pode ser apenas o símbolo de quem cada um é. O dinheiro não é vil. O dinheiro não é generoso. Cada um de nós pode ser um ou outro.