Escutar a si mesmo: faz sentido para você?

Escutar a si mesmo: faz sentido para você?

Era um evento de autoconhecimento. Os facilitadores levaram os participantes para dentro de si mesmos. Alguns distinguiram as suas fraquezas. Outros identificaram as suas fortalezas. Quase todos reconheceram ambas. Todos falaram e ouviram. Nem todos escutaram ou se escutaram. Entretanto, todos ficaram satisfeitos, com uma exceção.

O participante insatisfeito se aproximou de mim e disse:

– De que me adianta contar a minha história para eles se ninguém nem me deu atenção?

O participante estava realmente indignado. Os outros permaneceram em silêncio durante o seu relato e o ouviram, mas não o escutaram. Ao final de sua história pessoal, que foi relatada de forma bem ordenada numa sequência que mostrava a perfeição do caminho da sua vida, ninguém fez nenhum comentário. Ninguém ficou admirado de como ele conseguira realizar tudo o que dissera que fizera. Ele compartilhara o seu êxito com todos, deixando transparecer o claro intuito de ensinar o caminho para todos. Porém, ao final de sua história ele olhou para o público e se deu conta de que até poderiam tê-lo ouvido, mas não o haviam escutado. E isso o deixou muito frustrado. Indaguei-lhe se ele havia se escutado. Ele me afirmou que era óbvio que sim. Não me pareceu tão óbvio assim.

Um evento de autoconhecimento, normalmente tem a pretensão de levar as pessoas para dentro delas mesmas. Tem também a pretensão de que as pessoas compartilhem seus aprendizados e estejam dispostos a aprender com os outros. Dessa forma, o aprender é uma opção. Por outro lado, todos ensinam o tempo todo, embora nem sempre estejam ensinando aquilo que pensam estar. Aquele participante que se sentiu frustrado porque não foi escutado tinha razão. Eles o ouviram, mas não o escutaram. A história que ele contou era perfeita. As escolhas certas, o trabalho dos sonhos e os relacionamentos maravilhosos. Tudo perfeito num ser humano imperfeito. Por isso, depois dos primeiros minutos muitos dos participantes passaram a se sentir incompetentes frente as suas próprias vidas. Na história contada faltou credibilidade, porque ninguém acreditou que ele a pudesse ter vivido. Ainda que todos busquem a felicidade, e ela é possível, tem-se a certeza de que no caminho sentiremos medo e coragem; tristeza e alegria; assombro e surpresa. A felicidade não é perfeita, porque ela é humana. Foi isso que o participante frustrado ensinou, porque ensinar não é opção. De uma forma ou de outra, nossas atitudes e nossos comportamentos sempre ensinam.

Por fim, ficou a reflexão de que se pode aprender e ensinar ao compartilhar as próprias histórias. Também se entendeu que podem nos ouvir quando nós contamos as nossas histórias e, dependendo de como as contamos, podem nos escutar. Porém, a reflexão mais importante é que aquilo que nós falamos deve fazer sentido para nós quando nos escutamos.

Quando você escuta o que fala isso faz sentido para você?

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