Ele sempre pareceu uma pessoa maravilhosa. Cumprimentava a todos. O sorriso era o seu cartão de apresentação e o abraço era um gesto caloroso de demonstração de carinho. Convivi durante muitos anos com ele. Por várias vezes escutei a técnica de como deveria ser um abraço para que ele se mostrasse verdadeiro e surtisse o efeito desejado. Muitas e muitas vezes via e acompanhava os sorrisos, os acenos, os apertos de mão e os abraços fortes acompanhados de expressões de afeto para as pessoas que dele se aproximavam.
Ele me dizia:
– As pessoas precisam sentir a força do abraço para perceber ele como verdadeiro!
O comportamento foi uma característica estudada, aprendida e usada para influenciar as pessoas e o meu amigo realmente era um mestre nisso. Ele me contava que no início de sua trajetória profissional não era assim. Ele se sentia intimidado e muitas vezes não se sentia à vontade para sorrir, cumprimentar e abraçar as pessoas. Depois que ele aprendeu a técnica e passou a utilizá-la, muitas portas se abriram.
Um dia eu perguntei:
– Mas o que você sente quando você abraça uma pessoa que você não conhece?
Ele me respondeu:
– O importante é o que ela vai sentir. Quando ela sentir que eu a estou abraçando com força ela vai acreditar que ele é verdadeiro…
Seguiu a sua explicação e prosseguiu profissionalmente aplicando a técnica com excelentes resultados. Por outro lado, eu passei a me questionar um pouco. Lembrei-me da história de um brasileiro que foi apresentado a uma menina coreana e a abraçou fortemente num dia e no dia seguinte havia esquecido quem ela era. O abraço fora dado, mas ele não representara nada para quem o deu. Nunca me senti completamente convencido com a aplicação da técnica puramente. Gosto muito de receber e de dar um abraço forte. Considero importante que o aperto de mão como forma de cumprimento seja caloroso. Prefiro começar uma conversa com um desconhecido sorridente do que com alguém carrancudo. Entretanto, ficava impressionado como o meu amigo desenvolveu a técnica para colher os resultados esperados da sua aplicação e não para demonstrar a verdade dos seus sentimentos. Parecia-me o resultado típico de uma sociedade que pensa na produção em massa, inclusive das demonstrações de sentimentos.
Por isso, acredito que quando você abraçar alguém, abrace porque você quer abraçar. O abraço é uma demonstração de carinho para quem tem carinho para dar. Não abrace apenas para que o outro se sinta acarinhado, mas porque você tem carinho para dar. Quando você beijar beije porque você quer beijar. O beijo é um ato de amor para quem tem amor para dar. Não beije apenas para que o outro se sinta amado, mas porque você tem amor para dar. Quando você sorrir sorria porque você quer sorrir. O sorriso é uma expressão de cordialidade para quem tem cordialidade para dar. Não sorria apenas para que o outro pense que você é cordial, mas sorria porque você é cordial de verdade.
Por isso, quando você disser que ama, que admira ou que adora, diga-o com autenticidade. As palavras e os gestos têm sentido para aqueles que são autênticos e podem inspirar as pessoas. Apenas com autenticidade se pode ser uma inspiração autêntica. Caso contrário, o silêncio também é uma opção.