É só uma mensagem…

– Uma mensagem… Tenho que responder.

Rapidamente a mulher pega o seu celular e começa a digitar a mensagem. A filha de oito anos no banco de trás avisa:

– Mãããe, não pode dirigir e atender o celular…

– É só agora, minha filha, preciso responder. É urgente…

Termina a frase com as desculpas implícitas no tom de voz, porque sabia que estava errada. Ela tinha a perfeita noção de que era ela quem deveria dar o exemplo para uma menina de oito anos e não ela ser alertada pela filha. Porém, o dia estava cheio de tantas coisas por fazer… “Que dia hoje para acordar tarde. Tenho que levar minha filha ao colégio. Vai chegar atrasada e vou me atrasar para a reunião com o meu cliente. Só vou responder essa mensagem e avisar que vou me atrasar…”. Enquanto estava com a mão esquerda no volante e a mão direita com o celular na mão, desviou o olhar por um instante para teclar melhor. Foi nesse momento que ela ouve um grito desesperado da filha:

– Cuidado, mãe!!!

Automaticamente ela pisou no freio, travando os pneus que chiaram com a fricção. Ela pode sentir o movimento brusco no corpo da filha que fora impulsionado para a frente, mas que voltara ao seu lugar porque usava o cinto de segurança. Os olhos agora estavam na rua e ela não quis acreditar quando o carro não parou a tempo de evitar o impacto. Ela apenas sentiu a batida e ouviu os ruídos de um corpo batendo por baixo do carro. Pensava desesperada, Meu Deus, deve ter morrido. Meu Deus, espero que não tenha morrido. O que foi que eu fiz? O desespero era completo. O carro parou. A filha soluçava. Ela encostou a cabeça no volante do veículo e justificava-se mentalmente, “Era só agora, era só um instante…”.

Abriu a porta do carro e saiu. Alguns curiosos já se aproximaram do veículo e também da vítima que estava atrás do carro. Ela foi até a vítima e viu o resultado do desastre. “Meu Deus, está morto… O que eu faço agora?” As pessoas a sua volta também confirmaram que estava morto. Nada mais a fazer a não ser assumir as consequências.

Foi então que ela ouviu um dos presentes falar:

– É apenas um cão de rua. Não faz diferença nenhuma…

Para aquele cão fez. Para as demais pessoas que cruzam as nossas vidas um instante pode fazer toda a diferença. Muitas vezes nós pensamos, “Só agora. É só um instante. É só uma cerveja. É só uma mensagem…” e nos permitimos cometer pequenos delitos., Entretanto, devemos lembrar que é num instante que se provoca um acidente e que é num instante que se acaba com uma vida.

Moacir Rauber

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