Muitas vezes, deixo o carro estacionado bem em frente ao portão de saída para a rua do meu prédio que está a mais ou menos vinte metros da esquina. Assim, saio com a minha cadeira de rodas e a empino para descer direto para a rua sem ir até a esquina onde tem o rebaixamento do meio fio. É um movimento que faço há muito tempo, resultado da habilidade desenvolvida pelos mais de trinta anos de uso. Consigo subir ou descer pequenos degraus. Logicamente que essa habilidade não veio de graça. Para aprender a usar a cadeira de rodas de forma ágil foram horas e horas de muita prática. Foram tentativas, erros e acertos. Na maioria das vezes, um erro ao manobrar a cadeira de rodas significava um tombo. Mas depois de tanto tempo de prática descer um meio fio era algo simples de se fazer. Já fazia parte da minha zona de conforto e eu tinha toda a confiança do mundo em fazer tal manobra. Naquele dia, estava prestes a descer o meio fio quando alguém ao meu lado me chama pelo nome:
– Moacir, cuidado para não cair.
Eu parei o movimento e voltei-me para o meu vizinho. Começamos a conversar sobre o que eu faria e expliquei-lhe com toda a confiança:
– Não, fica tranquilo. Faço isso há muito tempo. É só um pequeno degrau.
Terminamos nossa conversa, empinei a cadeira, movimentei-me para descer o meio fio e caí na rua. O que aconteceu comigo?
Vivem-se situações parecidas nas empresas e nas profissões. Naquele momento, eu fui traído pelo meu excesso de confiança que tinha origem na minha zona de conforto. Ao empinar a cadeira ainda olhava para o lado e perdi a noção da distância até o início do meio fio. Com isso, o meu ponto de equilíbrio foi para o espaço e eu fui para o chão bem em frente ao meu vizinho que olhava horrorizado. Fiquei deitado com o rosto virado para o chão com vergonha de encarar o meu vizinho. Ele até pode ter pensado, Tava querendo se exibir…, mas logo se movimentou para me ajudar de forma comovida. Algo parecido ocorre conosco em outras situações, como quando vemos um amigo fracassar em seu novo empreendimento. Inicialmente, também ficamos comovidos. Muitas vezes, porém, dirigimos ao outro um pensamento maldoso ou mesmo uma crítica aberta. Por um lado, para quem está falido ou estirado no chão a comoção pode servir como alívio, porém traz em si o risco ao estímulo para nada mais fazer. Os sentimentos de pena e dó são cruéis, porque eles até podem abrandar a dor, porém podem fazer com que alguém não queira se levantar. Por outro lado, para sair de onde eu estava, no chão, havia somente uma coisa a ser feita: demonstrar atitude. Somente eu poderia me tirar de onde eu estava. Assim, levantei a cabeça, olhei para o meu vizinho e disse-lhe:
– Tá tranquilo. Caí sozinho e vou me levantar sozinho!
Girei, sentei-me e puxei minha cadeira para perto de mim. Posicionei-me de forma a poder subir e com um movimento brusco subi na cadeira de rodas. Olhei para o vizinho que demonstrava uma sensação de alívio.
Acredito que a situação nos permite fazer uma reflexão sobre as habilidades que nos levam para a zona de conforto e que fomenta o excesso de confiança. Percebi que eu caí justamente numa manobra que fiz e faço muitas vezes. Era a minha zona de conforto que gerava o excesso de confiança. Entretanto, para se sair da zona de conforto ou do desconforto das quedas provocadas pelo excesso de confiança, somente há uma forma e ela se chama atitude. Atitude para fazer o que deve ser feito. Atitude para não aceitar o falso conforto que encontramos no fundo do poço. Atitude para se mover em direção aos nossos objetivos. Atitude para se levantar, sabendo que o maior prejudicado é aquele que fica no chão depois de uma queda. Atitude é se manter em movimento. O que você vai fazer para se mover?
* O excesso de confiança pode representar que você está numa zona de conforto.