Se não se paga, cancela!

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As questões envolvendo investimentos culturais quase sempre são polêmicas, porque trazem em si avaliações subjetivas. Quanto vale investir dinheiro público para promover as festas de carnaval? Qual é o retorno social ao se investir recursos públicos numa peça de teatro? Quem dá o aval para que o dinheiro seja investido nesta ou naquela obra? A sociedade sabe e está disposta a que o seu dinheiro seja destinado para tais finalidades? É lógico que é importante que cada país mantenha um acervo histórico de suas manifestações culturais, porém é relevante consultar aqueles que financiam os cofres públicos, a população, para saber se o dinheiro vai para uma escola de samba, para a segurança, para obras estruturais, para a saúde ou para a educação. Se você pudesse escolher, para quem você destinaria os quase 50 milhões de reais que serão captados pelas escolas de samba do Rio de Janeiro?

A situação de nosso país é economicamente sensível. O governo federal não tem capacidade de investimento, uma vez que quase a totalidade daquilo que se arrecada é destinado ao sistema previdenciário e ao pagamento do funcionalismo público. Quase se pode perguntar: para que ter funcionários se não há recursos para investir naquilo que eles foram contratados para fazer? Fazendo um paralelo com a iniciativa privada, colaborador que não dá retorno, perde a vaga.

Produto que não vende, não se produz.

Serviço que não tem procura, não se oferece.

Empresa que não tem finalidade, é fechada.

É uma questão bem prática.

Aquilo para o qual não tem gente disposta a pagar para ver, comprar ou experimentar,

não se produz.

Talvez um pouco dessa visão deveria ser exportada para a área pública. Colaborador que não dá mais retorno para a sociedade do que ele custa, deveria ser dispensado. Produto ou serviço que não atende as necessidades da população, não deveria ser oferecido. Portanto, acredito que se deveria repensar a distribuição dos investimentos feitos pelo setor público priorizando as áreas essenciais para as quais existe o setor público: educação, saúde, segurança e infraestrutura. Para o restante? Aquilo que não se paga por si só, na grande maioria das vezes, não precisaria existir.

Entendo que quando se fala em investimentos na educação, as questões culturais estão presentes ao se respeitar as manifestações de cada uma das regiões, das cidades e das comunidades em que o estado conduz o processo. Dessa maneira, os recursos investidos produzem um retorno para todos os investidores que mantêm os governos. Ao se organizar o estado para investir em saúde, os programas que previnem e tratam a população também se refletem em benefícios para todas pessoas, independentemente da região na qual residem. As ações realizadas pelo estado voltadas para a área da segurança, seja na esfera municipal, estadual ou federal, da mesma forma, dão retorno para o indivíduo e para a sociedade como um todo. E, por fim, os investimentos realizados pelo estado em infraestrutura produzem benefícios reais para a sociedade. Um investimento realizado no Amazonas vai impactar as pessoas que vivem no Rio Grande do Sul. São estas as atribuições do estado, uma vez que ao priorizar a educação, a saúde, a segurança e a infraestrutura todos os brasileiros são beneficiados, indistintamente.

Por isso, a pergunta inicial: para quem eu destinaria os 50 milhões que vão para as escolas de samba? Particularmente penso, para uma escola e para os professores; ou então, para os médicos e os enfermeiros; ou ainda, para os policiais e os bombeiros; e por que não, para a implantação de uma rede de esgotos ou de uma estação de tratamento de água. E o carnaval do Rio de Janeiro ou de qualquer outro lugar? Bom, caso aquilo que as pessoas que curtem o carnaval pagam não cobrir os investimentos, que se cancele!

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Moacir Rauber

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