
O esporte é uma escola da vida. Estive num clube de remo que aos domingos pela manhã recebe por volta de cinquenta remadores mirins. É encantador ver o empenho e a dedicação daqueles jovens atletas. Cada um deles, com seus sete, oito ou nove anos, tem as suas responsabilidades. Os adultos carregam os barcos do barracão até a água, mas eles precisam carregar os seus remos. Peças do equipamento que medem quase quatro metros, embora não pesem mais de um quilo. No retorno, eles precisam lavar os barcos. Chega a ser emocionante observar o ir e ver daqueles pequeninos carregando os seus remos ou lavando os seus barcos, exibindo nos seus rostos a expressão de orgulho por estar contribuindo com a sua parte no processo de aprendizagem de um novo esporte.
As crianças querem aprender. As crianças têm vontade de crescer. Por que então se tem uma geração de adolescentes de quarenta anos? Por que tantos jovens não conseguem assumir as suas responsabilidades ou entender que as suas ações ou não ações impactam as pessoas a sua volta?
Certamente que se trata de uma perspectiva de quem observa parte do processo. Parece-me que parte dos pais não quer deixar que os filhos cresçam ao navegarem entre dois extremos no processo de educação, o excesso e a falta de atenção. Por um lado, vê-se um grupo de pais que criam os seus filhos numa bolha de proteção com a ideia de não deixar que seus filhos nunca sintam nenhum tipo de frustração. Os pais querem ser os responsáveis pela felicidade dos filhos e passam a paparicá-los como se fossem príncipes e princesas. Adotam a postura de superproteção, passando a mensagem para os filhos de que eles não são capazes de se responsabilizarem pela própria felicidade. Subliminarmente, chamam os seus filhos de incompetentes. Por outro lado, um grupo de pais não dá a devida atenção aos filhos que crescem rodeados de presentes num ambiente hiper estimulado com a sensação de serem um estorvo na vida dos próprios pais. Assim, os aparelhos e equipamentos eletrônicos mantêm as crianças tão ocupadas que elas não têm tempo de se frustrarem ao não viverem as emoções reais dos desafios presentes no relacionamento humano. Em ambos os casos, entendo que não se trata de amor, mas de egoísmo, resultado de um movimento narcísico por parte de pais que não aguentam a ideia de ser mal avaliados pelos filhos. O que acontece nos dois extremos? Os pais criam pessoas com Deficiência Emocional.
A superproteção ou a falta de orientação impede a que os filhos cresçam emocionalmente, relegando-os o papel de fracos e alienados.
Crianças naturalmente criativas, bondosas e generosas se tornam apáticas, chatas e mimadas. Foi-lhes roubada a autonomia, porque elas não aprenderam a esperar, a negociar, a ceder ou a se frustrar. Não desenvolveram os músculos emocionais que crescem nos momentos de dor e de tristeza que naturalmente devem fazer parte de nossas vidas. Por fim,
os pais criam filhos que se tornam aleijados emocionais e tiranos sociais que escravizam os pais ao não assumirem o protagonismo da própria vida.
Aos quarenta anos ainda estão em casa sendo tratados como crianças.
Ao observar os atletas mirins, percebe-se que as crianças querem crescer e querem ser responsáveis. As crianças querem assumir o protagonismo das suas vidas, bastando para isso que os pais não os tratem como incompetentes pela superproteção ou como um estorvo pela falta de tempo. E os esportes trazem em sua natureza o benefício de assumir a responsabilidade. É preciso disciplina e respeito para desenvolver as competências do esporte e também do relacionamento com os outros. É preciso suportar algumas chateações, como carregar os remos e lavar os barcos, para desfrutar do prazer de remar por lazer ou competição. É fundamental passar pela frustração de não poder remar em dias de muito vento. Juntamente com as habilidades esportivas são desenvolvidas as competências emocionais reais que vão permitir que as crianças cresçam e se transformem em adultos responsáveis por suas escolhas. Enfim, …
… é essencial vivenciar as dificuldades para poder modular a felicidade de ser um adulto responsável por si mesmo no respeito das relações com os outros.
Príncipes? Tiranos? Adolescentes de quarenta anos? Deixe-os para os filmes e a ficção.
Moacir Rauber
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