E o “Joãozinho” merece um elogio?

Quem nunca ouviu uma piada do Joãozinho, estereótipo do menino inteligente representado em inúmeras anedotas, muitas vezes de gosto duvidoso? Entretanto, as intenções no uso da inteligência nem sempre são as melhores. Na grande maioria das vezes, ele usa a sua inteligência para pregar uma peça nos colegas e até mesmo nos professores. Naquele dia, diferentemente dos demais, ele entregou um trabalho bem elaborado, com dados relevantes e boas ideias. O Joãozinho entregou um trabalho escolar muito bom e acima da média dos trabalhos dos demais alunos. Uma das professoras, para incentivar   o Joãozinho a permanecer no bom caminho, elogiou:

– Parabéns, Joãozinho, você é muito inteligente. Nota 10!

O trabalho era interdisciplinar e, igualmente, foi entregue em outra disciplina. A professora também sentiu a diferença no trabalho do Joãozinho e fez outro elogio:

– Parabéns, Joãozinho, o seu esforço valeu a pena. Nota 10!

O que lhes parecem os elogios? São eles autênticos? São eles igualmente positivos? Entende-se que os elogios devem ser autênticos e positivos. Porém um elogio autêntico nem sempre é positivo e um elogio positivo, por vezes, não é autêntico.  Entendo que ambos os elogios foram autênticos, mas não necessariamente positivos.

Para que um elogio seja positivo ele deve ser dirigido àquilo que está ao alcance da pessoa influenciar e não às características inatas de um ser humano.

Antes de avaliar os elogios, lembre-se do estereótipo da figura do Joãozinho e as anedotas que o envolvem. Ele sempre é inteligente, perspicaz e esperto, mas não necessariamente bom ou justo. O personagem sempre leva vantagem sobre o professor ou a outra parte envolvida, muitas vezes, dirigindo a inteligência para a maldade.

Analisando o primeiro elogio dado pela professora, percebe-se que ele é dirigido para a sua inteligência, uma característica inata do Joãozinho. O elogio pode ser autêntico ao constatar a inteligência do Joãozinho, porém ele não necessariamente é positivo ao não destacar uma possibilidade de escolha sobre aquilo que foi elogiado. O elogio foi feito à inteligência que simplesmente destaca uma característica do personagem que não é resultado direto de uma opção sua. Por outro lado, o segundo elogio se mostra autêntico e positivo, porque ele reforça uma escolha realizada pelo Joãozinho de se dedicar para fazer um bom trabalho. O resultado positivo do trabalho entregue merece um elogio, porque foi construído com o esforço e o trabalho do Joãozinho, sendo a inteligência um coadjuvante e não o elemento principal.

Entendo que os elogios são uma ótima ferramenta para se criar bons ambientes nas famílias, nas escolas e nas organizações empresariais. Os elogios são muito bons de dar e de receber, eles são positivos para quem dá e para quem recebe e produzem como resultados ambientes equilibrados. Entretanto, os elogios não devem ser vulgarizados. Desse modo,

…faça um elogio quando houver um motivo para que seja feito, seja autêntico e seja positivo.

Por isso, o elogio, preferencialmente, deve ser dirigido ao esforço, à dedicação e às escolhas feitas que estão sob controle daquele que merece ser elogiado.

E o Joãozinho, mereceu ser elogiado?

Moacir Rauber

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