Um amigo meu, para fugir da vida turbulenta e perigosa dos grandes centros, mudou-se para uma cidade menor em busca de qualidade de vida. Estava muito feliz. Era o seu primeiro carnaval na nova cidade onde fora morar com a família. Ele, a sua esposa e um sobrinho, a partir da calçada e um pouco afastados, acompanhavam a passagem do trio elétrico por uma das avenidas da cidade. Milhares de foliões seguiam o cortejo da festa e da alegria. No momento em que ele ficou um pouco distante da esposa e do sobrinho para registrar com o seu celular o carnaval, um casal se aproximou dele. O homem agarrou e levou o seu celular. O meu amigo ficou sem ação. A mulher enfiou a mão no bolso traseiro da calça para roubar a carteira. Num movimento espontâneo de reação ele agarrou o braço da mulher para impedir de que lhe levassem a carteira. A ladra, numa contrarreação esperta de quem está habituada ao ofício, gritou:
– Socorro, ele está me agredindo.
Algumas pessoas olharam. O meu amigo tentava evitar o segundo roubo. Ela gritou com ainda mais força:
– Me ajudem, ele tá me machucando!!!
As pessoas que estavam ao redor não tiveram dúvidas. Vendo a situação da mulher “sendo agredida”, rapidamente se mobilizaram e começaram a atacar o suposto agressor. Um primeiro soco o derrubou. Depois vieram os chutes e uma sequência interminável de agressões que deixaram o meu amigo sem entender o que acontecia. Sentindo a dor das agressões ele conseguiu reagir e gritar uma, duas três vezes que era ele quem havia sido assaltado para finalmente ser escutado pelo primeiro agressor que parou. Depois o segundo, o terceiro e os demais escutaram e pararam. O meu amigo sequer pode explicar o que havia acontecido para aqueles que o agrediram. Isso porque tão rapidamente como eles apareceram para expressar a sua inconformidade com a justiça que estavam corrigindo, eles desapareceram sem se justificar ou se responsabilizar pela injustiça que eles haviam cometido. Deixaram-no na rua com os ferimentos no corpo e na alma. Alguns instantes depois, a esposa e o sobrinho o viram e o levaram para o hospital onde foi medicado.
O que um gestor pode extrair da situação descrita? Qual a mensagem para um cidadão comum? Acredito que são várias as lições num único episódio. Há que se considerar que o gestor e o cidadão comum coexistem numa mesma pessoa, não havendo essa dicotomia. O que aconteceu de fato no fato? Parte das pessoas que agrediram observou um episódio e a partir de uma visão limitada, interpretaram-no, tomaram uma decisão e agiram. Outros, simplesmente porque acreditaram que viram a justiça sendo feita, sem nem entender o que estava acontecendo, também agiram sob o efeito manada. Entre as pessoas poderiam estar gestores e certamente eram cidadãos comuns.
O que deveria ter sido feito? O gestor cidadão comum, no contato com a sua realidade, deveria respirar, dar um passo atrás e ampliar a visão para tomar a decisão que lhe permitisse agir de forma apropriada. Respirar e dar um passo atrás requer autoconhecimento que nos permite entender que quase sempre vemos o mundo como nós somos e não exatamente como ele é. Para ampliar a visão a busca constante por novos conhecimentos da própria área na interdependência com as demais, permite-nos acompanhar e entender as tendências. Depois, cabe ao gestor cidadão comum interpretar os episódios de maneira que não seja simplesmente mais um na manada.
Não é porque todos estão indo para o mesmo lugar que estão no caminho certo, assim como não é porque ninguém está indo para determinado lugar que ele não seja o correto.
Como está a sua visão?
Para onde você está indo?
Moacir Rauber
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