Se não for sobre o outro, por que perguntar? A comunicação precisa de sensibilidade…

O evento havia sido excelente. Os objetivos da semana pedagógica haviam sido cumpridos e eu tive o privilégio de estar no encerramento. Logo após, fomos almoçar num restaurante local. Durante as conversas, descubro que a pessoa sentada ao meu lado era de Guaíra, cidade no Oeste do Paraná próxima da minha cidade natal. Não, ela não era da cidade. Ela disse que havia vivido na cidade com o marido por um tempo. Logo lembrei-me da situação de Guaíra que na década de 1980 sofreu com o fechamento da barragem de Itaipu. A cidade perdeu o seu principal atrativo turístico, as Sete Quedas, fazendo com que muitos habitantes saíssem da região. Foi então que resolvi fazer uma pergunta “inteligente” para ela:

– Isso foi antes ou depois das Sete Quedas ficarem debaixo de água? Referindo-me ao fato de ela ter vivido na cidade.

Silêncio mortal. Ela me olhou incrédula e perplexa. No mesmo instante eu senti a pele do meu rosto pegar fogo. Fiquei incrédulo e perplexo. Uma pergunta completamente descabida que era difícil de acreditar que havia sido feita por alguém que acabara de falar sobre competências de relacionamento, de desempenho e de conduta na comunicação. Por que a pergunta fora tão estúpida? Porque para que a minha nova amiga pudesse ter estado com o marido em Guaíra antes do fechamento da barragem de Itaipu (1982) ela teria que ter, hoje, quase sessenta anos. Ela não era mais uma menina, mas também não tinha a idade implícita na minha pergunta. Por isso a expressão de incredulidade e perplexidade dela, assim como a minha incredulidade e perplexidade com a falta de sensibilidade na pergunta. Nada mais a ser feito. A palavra dita e a flecha lançada não têm volta.

O que pode ser avaliado na interação citada? As perguntas são um elemento chave para manter os canais de comunicação abertos, entretanto elas devem ser feitas com genuína curiosidade, autenticidade e interesse na pessoa a quem a pergunta se dirige. Não foi o caso. A pergunta por mim realizada revela que não havia genuína curiosidade sobre a pessoa a quem eu fazia a pergunta. Entendo que estavam presentes na pergunta o interesse em demonstrar que eu conhecia a cidade, ao vincular nela um fato marcante da região. Dessa forma, tampouco foi uma pergunta autêntica, porque o interesse não estava centrado na pessoa a quem a pergunta foi feita. Naquela situação, revelo-me ainda como um mau ouvinte, porque quando fiz a pergunta tinha em mente que ela “era” de Guaíra e não me recordava que ela dissera que apenas vivera na cidade por um determinado tempo. Por tudo isso, fiz uma pergunta tola e insensível que poderia ter prejudicado a comunicação entre nós.

Tudo isso na minha mente, mas eu continuava frente a frente com a expressão de incredulidade e de perplexidade da minha amiga. Ela com os olhos arregalados. Eu com a face cada vez mais vermelha. Até que ela deu uma gargalhada espontânea que fez com que eu me sentisse menos mal. Depois a situação foi compartilhada com os demais membros da mesa, virando motivo de risadas entre todos. O bom humor da minha amiga salvou-me da minha falta de sensibilidade. Entretanto, mais uma vez, para mim ficou a lição: a pergunta deve ser feita com genuína curiosidade, autenticidade e interesse sobre o outro e não para exibir um pretenso conhecimento de quem a faz.

Se não for sobre o outro, por que perguntar?

Sim, eu quis enfiar a cabeça num buraco…

 

Moacir Rauber

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