O joelho não existe. E uma organização é real?

As conversas de senso comum são fascinantes. Um amigo meu, dono da verdade (não é a ciência) naquele momento diz:

– Tem gente que fala que operou o joelho, mas o joelho nem existe.

– Como assim? Perguntam os presentes.

– Se você separar o fêmur, a tíbia, a fíbula e a rótula não sobra nada. Na verdade, sobram os músculos e os ligamentos. O joelho é o ponto de encontro das partes…

Ele tinha razão. O joelho é uma invenção humana para denominar o ponto de encontro dos elementos concretos, como os ossos, os músculos e os ligamentos. Ao estender o raciocínio para uma empresa, uma igreja ou um time de futebol, eles também não existem. Todas as organizações sociais são apenas o ponto de encontro dos elementos concretos, os indivíduos que as compõem.

Uma empresa é onde as pessoas se encontram para que produzam produtos ou serviços. A empresa em si não existe, porque a construção, os equipamentos e os produtos não são a empresa. Uma igreja é o local onde as pessoas vão para manifestar a sua fé em algo que acreditam. Da mesma forma, a igreja em si não existe, porque ela não é a construção, os altares ou os bancos. Um time de futebol é a reunião de onze sujeitos que se encontram para buscar um objetivo articulado entre eles. De igual modo, o time em si não existe, porque ele não é o campo, o estádio ou a bola. Desse modo, toda e qualquer organização social não existe, sendo apenas um ponto de articulação entre as pessoas que têm interesses comuns.

Por um lado, o joelho somente existe quando as partes do corpo humano que o compõem se encontram. De outro lado, as organizações sociais precisam de pessoas que se encontrem para que existam. Porém, há uma grande diferença. O joelho, para existir, é composto por partes que não tem vontade nem autonomia. Elas simplesmente estão ali e basta o cérebro ordenar para que o joelho cumpra a sua função de articulação. As organizações, para existirem, são compostas por pessoas que têm vontade e autonomia e que podem escolher onde querem estar. E nesse ponto está o desafio cada vez maior de se ter organizações longevas. Não basta ter um cérebro para dar ordens. É preciso ter um líder que consiga identificar a missão organizacional, estipular uma visão e expressar valores que possam aglutinar a sua volta pessoas que queiram caminhar na mesma direção. A organização é o ponto de encontro e serve de articulação para todos. É o papel do líder construir uma organização que permita que as partes queiram estar onde estão, considerando que cada uma delas é diferente das demais. Desse modo, o líder deverá desenvolver habilidades sociais e competências emocionais que estimulem a que as demais pessoas queiram estar naquela organização, o ponto de encontro para a articulação de objetivos comuns. Parece pouco? É um grande desafio ser o gestor de uma organização que fora da realidade imaginada pelo ser humano não existe, mas que produz dores e alegrias reais nas pessoas que as compõem. Ao dissecarmos cada uma dessas organizações, analisando-as parte a parte, ou pessoa a pessoa, é possível entender a importância do engajamento de cada indivíduo para que ela exista. Caberá ao líder ter isso em mente.

Desse modo, toda empresa, igreja ou equipe de futebol depende de um movimento espontâneo e deliberado para existir. Isso requer articulação. Cabe, portanto, ao líder entender os desejos e as necessidades individuais para que cada integrante da organização se mantenha ativo num movimento articulado, seguindo na mesma direção. As pessoas, com as suas vontades, devem querer estar naquele joelho, ops, naquela organização.

É o papel do líder fazer com que a organização exista.

 

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

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