Acompanhava a fala sobre o período da Páscoa e teve uma frase que me chamou a atenção:
– A fé não nos leva a crer no que vemos. Ela nos leva a ver naquilo que cremos…
A frase, creio eu, transcende o sentido religioso do contexto onde ela foi dita e pode ser importante nas variadas esferas de nossas vidas com suas diferentes facetas. No âmbito religioso a frase está ligada a crença na ressurreição de Jesus Cristo no período da Páscoa. São Tomé foi o protagonista da exigência de ver para crer. É a visão do pessimista. Entretanto, os demais apóstolos creram primeiro e viram aquilo que creram. Esta é a visão do otimista que primeiro cria algo em sua mente para construir a sua realidade.
A quaresma e a quarentena, em alguns dicionários, podem aparecer como sinônimos porque nos reportam ao isolamento. Entretanto, quaresma está mais associada ao isolamento espiritual, um processo reflexivo de avaliar as experiências já vividas com o intuito de produzir melhores experiências a serem vividas. Trata-se de um recolhimento em si mesmo numa busca pelas fortalezas e capacidades individuais que nos dão como alternativa a responsabilidade sobre as escolhas.
São desenvolvidas competências como a confiança em si e no outro; a perseverança para seguir num caminho escolhido ou deixar um projeto que não faz sentido; o autodomínio para extrair o melhor de si para si e para os outros. Isola-se, reconhecem-se as forças e elas são oferecidas à sociedade. Por outro lado, a quarentena está associada ao isolamento físico para se proteger de uma enfermidade contagiosa com o objetivo de continuar vivo. É uma medida de segurança para minimizar as perdas humanas. As pessoas se recolhem, protegem-se e salvaguardam os outros. Nesse período, muitas pessoas estão desenvolvendo uma das competências básicas de sobrevivência do ser humano: a criatividade em que estão criando estratégias para se manter sãos emocionalmente e vivos economicamente para construir uma realidade melhor. À competência da criatividade estão associadas outras competências como a flexibilidade mental, para reprogramar um programa que já não tem razão de ser; a solução de problemas, para rever o que pode ser revisto e descartar o que não serve que não foi previsto; e a autoeficácia, para desenvolver novidades que podem ser experimentadas. Da mesma forma como na quaresma, não há a crença de que no isolamento esteja a solução.
No domingo a quaresma termina e algum dia a quarentena será encerrada. Nos dois movimentos é possível que se encontrem novos caminhos. A quaresma, como um movimento de liberdade individual, e a quarentena, como o respeito a imposição das autoridades constituídas pela sociedade, podem nos levar a uma autoavaliação para criar e construir os melhores caminhos a seguir individual e como sociedade. Perdas? Muitas. Alternativas? Existem. Visão pessimista ou otimista? Depende daquilo que você crê, porque é tempo de ressurgimento, de renovação e de renascimento individual e social.
FELIZ PÁSCOA!
Moacir Rauber
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