Você não tem que fazer nada…

É lugar comum nas conversas que o momento vivido pela humanidade vai gerar transformações profundas na sociedade e no Ser Humano. Comportamentos serão alterados, tradições serão modificadas e a tecnologia será onipresente. Escrevi vários artigos sobre as mudanças disruptivas e exponenciais que tendem a surgir dessa situação que foi imprevisível e é impactante que vivemos como indivíduos e como sociedade. Porém, às vezes, parece-me que nada vai mudar. O Ser Humano vai continuar numa caminhada cega em que a produtividade se sobrepõe ao sentido daquilo que se faz, parecendo máquinas. Basta abrir o seu e-mail para receber mensagens imperativas sobre aquilo que você TEM QUE FAZER na quarentena. Ao acessar as redes sociais você é invadido por mensagens de oportunidades que são OBRIGATÓRIAS APROVEITAR. E são inúmeras as mensagens de texto que te coagem a fazer aquilo que você nunca fez para que você não perca o seu tempo. Você é bombardeado pela obrigatoriedade de “fazer algo”.

Por isso, questiono: qual é a lógica por trás do imperativo “você tem que fazer”?

Entendo que continua a predominar lógica mecanicista mesmo na pandemia provocado por um elemento biológico, o vírus. As comparações feitas entre máquina e ser humano quase sempre partem da visão de que o ser humano é um exemplo de máquina perfeita. Pressuposto equivocado. As máquinas é que poderiam ser consideradas amostras simplistas de um organismo complexo como o ser humano. É a premissa mecanicista que continua a gerar uma pressão desnecessária sobre seres humanos, apenas tolerável por máquinas não complexas e não responsivas. Elas são simples demais para sentir. Por isso, pessoas simplistas como máquinas tendem a gerar uma pressão nem sempre tolerável por organismos biológicos complexos e responsivos, como o ser humano. O momento delicado vivido por cada pessoa gera o medo de se contaminar com uma doença sem um tratamento comprovadamente eficaz. Além disso, as pessoas ainda convivem com a incerteza da capacidade e da correção daqueles que nos administram na crise. Se não bastasses tudo isso, aparecem os aproveitadores, simplistas e utilitaristas como máquinas, para dizerem que você tem que fazer isso ou aquilo. Esse é o ponto. Entendo que você não tem que fazer nada que não queira. Para mim, isso ficou evidente ao ler o texto de Kiosh Starus encontrado na internet em que ele alerta que você não está obrigado a ler um, dois ou uma dezena de livros na quarentena, a menos que queira. Você não precisa se sentir pressionado a fazer atividade física, apenas se entender que lhe faz bem. Lembre-se, não se trata de tempo livre. Trata-se de adaptar-se a uma realidade não prevista e que mudou a normalidade. Por isso, acredito que cada um, caso queira e quando queira, assimile que o mundo virtual pode se configurar como uma nova normalidade. É complexo. É humano. Caso queira, faça normalmente no mundo virtual o que você faria no mundo físico. Você estudava e segue sendo possível estudar? Então estude e não deixe de seguir a sua rotina. Você fazia atividades físicas ao ar livre e agora está confinado? É possível adaptar? Adapte e siga a sua prática. Você quer usar o tempo para ler livros que você tinha vontade e não tinha tempo? Faça-o porque você escolheu fazer e não porque aqueles que não mudaram querem que você mude. Quem não mudou e não entendeu a complexidade humana? Aqueles que continuam a gerar pressão sobre as pessoas seguindo a lógica simplista das máquinas. Seres humanos são mais complexos que máquinas. Por isso, buscar a normalidade é importante, mas sem a pressão daqueles simplistas como máquinas que querem se meter na sua cabeça para encher as suas carteiras.

Enfim, o Ser Humano não é uma máquina. Observe, entenda, ajuste-se, adapte-se e siga a normalidade da virtualidade no seu ritmo, respeitando a sua complexidade. Por fim, VOCÊ NÃO TEM QUE FAZER NADA QUE VOCÊ NÃO QUEIRA!

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

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