Proteja esta casa dos tigres!

Proteja esta casa dos tigres!

Toda manhã a mulher vai até a frente de sua casa e grita:

– Proteja esta casa dos tigres!

Logo em seguida ela volta para sua casa e segue a rotina diária. Finalmente um vizinho que acha aquilo tudo muito louco toma coragem e vai falar com ela:

– Por que você faz isso todo dia? Não há tigres aqui. Eles estão há milhares de quilômetros…

Ela responde:

– Tá vendo? Funciona!

Outra das piadas extraídas do livro Plato and Platypus walk into a Bar… (Thomas Cathcart & Daniel Klein). É um convite à reflexão de como, muitas vezes, desenvolvemos hábitos e comportamentos que não produzem nenhum resultado e estão completamente desconectados da realidade. Isso vale para as pessoas e para as organizações. Quantos hábitos e costumes que nós conservamos que não acrescentam nada em nossas vidas? Quantos tigres nós afugentamos todos os dias?

As organizações também têm os seus tigres. Os seus rituais, os hábitos e comportamentos exibidos por muitos líderes nas organizações, muitas vezes, são exemplos disso. Quem nunca se defrontou com a expressão, “Aqui sempre se fez assim…” e seguem afugentando tigres que não mais existem. Essa prática pode revelar uma cultura organizacional que oculta as próprias incompetências ao criar inimigos imaginários. Uma cultura é formada por políticas e diretrizes que são percebidas por todos, conectando-se à missão, aos valores e à visão. Igualmente, a cultura pode gerar sentimentos e atitudes não tão facilmente perceptíveis. Desse modo, a cultura mobiliza e estimula relações informais com o estabelecimento de normas de grupo que ratificam uma forma de ser organizacional a partir dos comportamentos individuais. Nada contra conservar elementos culturais que definem as fronteiras dos comportamentos, que dão um sentido de identidade, que estimulam a estabilidade das relações, que servem como orientadores de sentido e que mostram as regras do jogo. Afinal, a cultura define quem somos no jogo. Entretanto, é importante saber qual é o jogo que está sendo jogado. Uma cultura organizacional que cria os inimigos imaginários tende a sufocar comportamentos e atitudes que poderiam manter a organização no jogo. Afugentar tigres que não existem é conveniente para organizações incompetentes a partir de sua liderança. Ao escolher um inimigo externo a organização acusa para se escusar das responsabilidades. Com isso, inibe-se a inovação e a criatividade individual e organizacional; não se presta atenção aos detalhes do público interno e externo; perde-se o foco dos resultados; descuida-se das pessoas; fragiliza-se o espírito de equipe; exacerba-se a agressividade; e rouba-se a estabilidade das pessoas no ambiente organizacional. Um cultura organizacional com os inimigos externos, normalmente, cria um desfavorável clima organizacional interno, desperdiçando tempo, energia e as competências que poderiam levá-la a se manter competitiva. É fundamental conservar aquilo que nos define como pessoas e como organização, porém é essencial mudar para evoluir na direção que se quer.

Por fim, em tempos de rápidas mudanças tecnológicas é fundamental saber escolher o foco das ações. Onde está o inimigo? Já faz algum tempo que o ser humano não tem predadores naturais. Criar inimigos onde não há pode revelar um cultura de autossabotagem organizacional a partir da liderança que termina por limitar as pessoas que a compõem. Quais tigres você está afugentando?

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

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