Você É o que parece Ser?
A entrevista de trabalho foi concluída. Haviam feito diferentes dinâmicas de grupo para avaliar os comportamentos dos candidatos. O rapaz me dizia que na dinâmica da ilha deserta ele acreditava ter demonstrado que sabe estabelecer bons relacionamentos. Na dinâmica de estourar o balão ele estava entre aqueles que lideraram os participantes para a interação entre todos num movimento de atividade coletiva ao diminuir o individualismo. “Eu já conhecia a atividade…”,confessou. Ainda teve que fazer uma autoavaliação e uma apresentação das suas principais competências em que pode expor a sua visão de mundo e as suas posições frente a temas considerados por ele relevantes. “Mostrei-me seguro, porque era importante mostrar personalidade!”. O rapaz se reportava a mim satisfeito com o seu desempenho e com a imagem que havia passado para quem conduzia o processo de recrutamento e seleção. Por fim, ele concluiu:
– Tenho boas chances de ser contratado. Acho que passei a imagem de ser criativo, colaborativo e equilibrado…
Escutava o jovem e me parecia ver um ator. Não o julgo como certo ou errado, vejo-o apenas como resultado de uma construção coletiva em que Parecer se sobrepõe ao Ser. Entendo que tem sido investido esforços em parecer equilibrado e não em desenvolver competências para agir com equilíbrio. Tem sido ensinado técnicas para estimular a criatividade para se sobressair com relação aos outros e não para colaborar com os outros. O mundo contemporâneo tem levado a que o indivíduo use recursos de atuação, dando ênfase em passar uma imagem do que se poderia Ser e não de quem se É. Cria-se uma geração de atores de si mesmo num reality show global em que cada pessoa com sua câmera interpreta um papel, relegando a um segundo plano o conhecimento mais profundo sobre Ser. Entendo ser grande o desafio de se permitir descobrir quem realmente se É, nesse mundo contemporâneo com a sua dinâmica disruptiva e exponencial de incorporar novas tecnologias e mudar comportamentos. Por isso, acredito que as ações derivadas de alguém que tem um conhecimento sobre quem É estão conectadas com a clareza das intenções. Qual é a sua intenção? Passar uma imagem de criativo, colaborativo e equilibrado ou verdadeiramente Ser criativo, colaborativo e equilibrado? Para aquele que não é um ator de si mesmo, as ações serão resultado das intenções de quem ele É. Desse modo, revelam-se as intenções pelas ações, não sendo necessário se ocupar em interpretar um papel para transmitir a imagem de ser colaborativo, criativo e equilibrado. Não é necessário ser um ator, a pessoa simplesmente É!
Enfim, na entrevista ou no trabalho, nas relações de amizade, de amor ou de qualquer natureza se pode até iniciar com uma atuação, mas quem vai mantê-las será quem você É na realidade. Não servirá ser ator de si mesmo. Preparar-se para uma entrevista é importante? Certamente que sim, mas não para agradar aos outros por parecer algo que não se é. Preparar-se é importante para exibir as competências autênticas que você tem. Com isso, as intenções são claras, as ações são naturais e a vida se torna mais leve pela autenticidade de poder Ser quem você É.
Moacir Rauber
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Inspirado: Anthony de Mello, S. J.