A CORAGEM DE TER MEDO!

Fonte: PIXABAY

A coragem de ter medo!

O jovem sempre fora considerado brilhante. Quando criança os pais e os professores elogiavam a sua inteligência e na adolescência passaram a enaltecê-lo também por sua beleza. Agora ele é um adulto que reúne outras competências ligadas a sua inteligência, como conhecimento, a sagacidade e a rapidez de raciocínio. Além disso, ele esbanja a segurança de quem está bem com a sua imagem. Ao entrar naquela empresa, incialmente, todas essas qualidades se transformaram em resultados. Entretanto, com o passar dos meses algumas situações não se resolviam como ele imaginava e determinados comportamentos seus geravam desconforto na equipe. Assim, o jovem começou a flertar com a insegurança que se manifestava em agressividade. Numa conversa privada, ao revelar a situação, ele foi confrontado com a pergunta:

– O que você faria se não tivesse medo?

Ele sinceramente não sabia, mas constatou que estava com medo. O jovem estava seguro que tinha uma boa formação, era inteligente e, quando queria, simpático. Entretanto, por vezes, não sabia como conduzir uma situação comportamental frente a colegas que pareciam menos inteligentes, menos sagazes e mais lentos. E esse não saber como se comportar o paralisava. Ele detinha muitas competência técnicas, porém não se comunicava tão bem como exigia a equipe, assim como não sabia servir com amor e cuidado com o outro. Faltava-lhe desenvolver a coragem de ter medo para não ter medo de ter coragem. Faltava-lhe a confiança e a curiosidade.

A coragem tem entre os seus sinônimos a ideia de bravura, determinação e audácia, assim como entre os antônimos estão a covardia, a dúvida e o medo. Entendo que ao não ter coragem de ter medo, desaparece a bravura e aparece a covardia. Igualmente, considero que é necessário ser corajoso para exibir dúvidas e perguntar, assim como acredito que é essencial ser corajoso para vencer o medo de não saber, aceitando que o outro sabe. Desse modo, não é o medo que fez paralisar o jovem bonito e inteligente, mas a covardia de não reconhecer que não saber é uma oportunidade de aprender e que o medo como emoção natural nos protege dos perigos reais, assim como da arrogância, da soberba e da prepotência. Portanto, creio que ao sermos arrogantes, perdemos os benefícios do conhecimento; ao sermos soberbos nos privamos da sagacidade; e ao sermos prepotentes renunciamos a boa parte da capacidade de rapidez de raciocínio, porque partimos da crença de que somos mais inteligentes do que o outro. A comparação entre seres únicos, singulares, múltiplos e plurais é a receita para a infelicidade. Por fim, é preciso ter confiança para exibir a coragem (bravura, determinação e audácia)  no exercício da curiosidade que elimina o medo pela humildade de simplesmente não saber algo. Aparecem as oportunidades!

Enfim, na conversa privada o jovem, ao ser confrontado com a pergunta o que faria se não tivesse medo, finalmente parou e chorou. Ele começava a entender que durante a sua vida os elogios foram à sua inteligência e não ao seu esforço e era enaltecido pela sua aparência sem valorizar a sua essência. No seu íntimo ele não era medroso, mas sentia medo. É natural. Da mesma forma, ele não era arrogante, prepotente ou soberbo, mas vivia um momento de agressividade que não valorizava o conhecimento e a sagacidade, prejudicando a sua capacidade  de raciocínio pelo medo de não ter coragem de não saber. Agora entendia que não precisava saber tudo, assim como não precisava agradar a todos. Porém, era importante ser humilde para respeitar o outro e reconhecer o medo sem ficar paralisado. Para isso é essencial a coragem, a confiança e a curiosidade para servir e se comunicar com os outros.

Depois do choro veio o alívio: ele teve a coragem de ter medo para não ter medo de ter coragem. E você?

Moacir Rauber

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