
PÁSCOA, TEMPO DE SE ESVAZIAR!
Os eventos nas áreas organizacionais, que têm os seus palestrantes e conferencistas, as peças de teatro, que têm os seus atores, ou os filmes, que têm as suas estrelas, são convites para que essas pessoas se encham de si mesmo. Algo assim aconteceu comigo na semana passada.
Após uma participação como palestrante num evento com a presença de mil pessoas na plateia, a vaidade procurou ocupar o seu espaço. Logo após o término da palestra os cumprimentos pelo bom desempenho e os elogios me levavam a me encher de mim mesmo ao embebedar o meu ego. Esses são alguns dos riscos a que se está exposto ao representar um papel ou fazer uma palestra como especialista sobre um tema comum a todos. As dores e os sofrimentos, assim como as alegrias e as realizações relatadas todos as tiveram e acontece a identificação de cada um com o conteúdo abordado. Por isso, as pessoas se aproximavam e diziam, Parabéns, foi sensacional ou Você é incrível. O que fazer para não se encher de si mesmo dando lugar a vaidade? Como a Páscoa pode nos ajudar?
Vive-se um tempo que somos incentivados a cuidar da autoestima para ter uma boa percepção e uma autoavaliação positiva de nós mesmos, levando-nos a ser mais produtivos e a manter relações satisfatórias no ambiente de trabalho e fora dele. Uma boa autoestima favorece a que se desenvolva a fortaleza emocional, afastando-nos do vitimismo que nos paralisa. Portanto, a autoestima é essencial para que desenvolvamos os sentimentos de valor, pertencimento e confiança e nos apropriemos da competência que temos, assim como nos mantenhamos estimulados a desenvolver as competências que ainda não exibimos. Aqui acredito que há um ponto de inflexão. A autoestima estimulada, defendida e aprendida tem avançado para a visão de “auto me estimo” a tal ponto que muitas pessoas transformam valor em soberba, pertencimento em propriedade e confiança em arrogância. Desse modo, entendo que a Páscoa, com toda a sua tradição cristã, pode nos ajudar a que nos esvaziemos um pouco de nós mesmos para reconhecer que o outro é igual a mim.
Portanto, voltando aos elogios recebidos pela palestra dada, fiquei feliz pelo valor que representou para o outro, porém com a consciência de não me transformar em soberbo ao acreditar ser melhor do que qualquer pessoa. Igualmente me deixou contente que parte das reflexões repercutiram no outro para que ele se aproprie da própria vida, com o sentimento de pertencimento sem ser propriedade nem proprietário de ninguém. Por fim, os elogios recebidos me deixaram genuinamente agradecido, alertando-me para que a confiança exibida em determinadas situações não se transforme em arrogância. Ao sair do palco e retomar a própria vida a confiança deve resultar em ações para que o pertencimento e o próprio valor sejam reconhecidos. Mais uma vez vem o convite para se esvaziar de si mesmo.
Por fim, entendo que as atividades que nos põe em evidência e em destaque, como atores, cantores, palestrantes, entre outros, são um convite para à vaidade. Entende-se vaidade como a sobre valorização da aparência física ou das qualidades intelectuais a partir do reconhecimento dos outros, assim como a “qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória” (Dicionário Oxford). No momento de receber os elogios, sempre agradeço com autenticidade, porém faço o exercício de me manter em alerta, porque eu sei quem eu sou. O que é ilusório em tudo isso? A história contada é passado, o meu desafio é no presente. Assim sendo, esvaziar-se de si mesmo é um exercício diário e vitalício, nem sempre fácil, de não permitir que o ego faça com que você se encha de si mesmo.
Finalmente, a Páscoa é um convite para que cada um se esvazie um pouco de si, assim como Jesus se esvaziou de sua divindade para resgatar a nossa humanidade.
FELIZ PÁSCOA!
Moacir Rauber
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