Arquivo da categoria: Facetas

QUEM É VOCÊ NO QUARTO DOS ESPELHOS?

Imagem: IA COPILOT

QUEM É VOCÊ NO QUARTO DOS ESPELHOS?

Oito dias… era o tempo que minha esposa e eu nos propúnhamos a estar no retiro de silêncio. Ao lembrar que tudo seria calmo, senti-me incômodo, porque parece que sou movido a estímulos externos. Por isso, havia prometido a mim mesmo não levar o celular, mas o levei. Pensei, Vou ver as mensagens no final do dia. Ao chegar na casa de retiros vimos uma linda araucária em frente da entrada principal. À direita, um espaço arborizado, com parte ajardinada e vegetação nativa. Um lugar lindo e bem cuidado em todos os detalhes. Fomos recebidos pela Irmã Mari que nos conduziu cada um para o seu quarto. Em seguida haveria uma missa na capela e o silêncio seria a regra. Assim foi. Depois da missa o jantar em silêncio e, logo, cada um para o seu quarto, sem televisão, mas com o celular. Acessei minhas mensagens e dormi cedo. Durante a noite, derrubei o celular que se partiu ao cair. Agora sim o silêncio havia chegado!

Na manhã seguinte, irritado por haver perdido a muleta que é o celular, fui à Capela, ao café da manhã e me dirigi para a sala onde teríamos as reflexões que orientariam o retiro. A mente, que muitas vezes nos mente, dizia-me, Onde é que você se meteu….  Todos reunidos e tudo esclarecido sobre o retiro. Na sequência o padre fez uma oração e apresentou a analogia que usaria para “caminhar pelos dias do retiro”: uma casa de quatro ambientes (Analogia Pe. Eliomar Ribeiro). O primeiro seria o quarto dos espelhos em que deveríamos entrar. A descrição nos levava para um espaço em que há espelhos por todos os lados. Para qualquer lugar que se olha somente se vê a si mesmo. Ainda que eu não estivesse tão entusiasmado, as frases reflexivas começavam a me desviar da irritação externa, ela se voltava para dentro. A proposta do retiro não tinha nada a ver com o outro, mas comigo. Tratava-se de um momento para orientar ou a reorientar a própria vida. A mente fustigava, Aos sessenta anos pensar nisso… Olhava à minha volta e via os demais, alguns poucos mais jovens, outros tantos com seus setenta ou oitenta anos fazendo o retiro, respondendo as perguntas e visitando o mesmo quarto. Como quase todos eram de vida consagrada, trata-se de um exercício que fazem todos os anos. Logicamente que cada um se via no quarto dos espelhos. O que será que cada um enxergava no seu quarto? Já não me parecia que estava num ambiente de silêncio. Havia muito ruído dentro de mim.

No quarto dos espelhos via o meu passado com todas as escolhas feitas que me trouxeram até aqui, assim como me lembrava das pessoas com quem compartilhava a vida. Às vezes, ao olhar de um ângulo diferente não me reconhecia, porque se sobressaíam os pés ou o alto da cabeça. Terminava a primeira reflexão com o humor alterado. Por um lado, a impaciência de quem não tem acesso ao objeto do vício, o celular, e, por outro, a euforia de começar a navegar numa aventura interna profunda. O que mais refletiria o quarto dos espelhos?

A aventura seria guiada por textos e perguntas que nos acompanhariam durante o dia: (1) quais as dimensões de sua vida precisam se expandir? Os textos nos orientavam para pensar no corpo, na vontade, no coração e na razão. (2) A sua vida necessita de um salto de qualidade? A questão nos confronta com o tempo dedicado de modo que se ofereça algo ao outro sem se esquecer de si mesmo na oração. Por fim, uma pergunta a queima roupa: (3) na sua vida existe o risco da aventura ou somente o medo asfixiante? (Textos bíblicos e exercícios propostos há 500 anos por Santo Inácio de Loyola)

Com essas perguntas em mente, o retiro não era de silêncio. Os espelhos refletem a imagem, mas o silêncio ecoava os meus ruídos. E você, se animaria a entrar no quarto dos espelhos?

“É na fraqueza que se revela totalmente a minha força”

(2Cor, 12, 9)

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

QUAIS OS VALORES DAS TUAS ESCOLHAS?

Retiro de Silêncio Casa Santo André – out/25

QUAIS OS VALORES DAS TUAS ESCOLHAS?

A irmã tem 81 anos e faz seus retiros de oito dias todos os anos com atividades de reflexão sobre as escolhas feitas e as escolhas a serem feitas. O condutor do retiro havia destacado a importância de que para tudo na vida “há um tempo para cada coisa debaixo do sol, tempo de plantar, de colher, de nascer, de viver e de morrer…” (Ecl, 3,1). Por isso, há um tempo para dormir, trabalhar, estudar, divertir-se, praticar esportes, rezar e em todo tempo se fazem escolhas. Numa das atividades a freira caminhava por uma parte do jardim, onde encontrou uma jovem e, juntas, observaram um urubu bicando uma planta. A jovem se espantou com aquela ave fazendo algo não comum para a sua espécie e comentou:

– O que esse bicho feio está fazendo?

A anciã a olhou com carinho antes de dizer:

– Não sei se ele é feio ou bonito, mas se ele está na natureza é porque tem a sua função…

A natureza funciona em harmonia, sintonia e ausência de julgamentos. Assim, a crueldade e a bondade; a honestidade e a desonestidade; e a beleza e a feiura não são conceitos naturais, são humanos. Entretanto, o fato de não serem naturais não nos isenta de aprender e exibir comportamentos que estejam em harmonia e sintonia com a bondade, a honestidade e a beleza, ainda que com a presença de julgamentos que nos marca como seres humanos, por isso, pergunto: é certo ou errado julgar?

Entendo ser uma pergunta complicada, porém é importante que a tenhamos presente, uma vez que julgar, para o bem ou para o mal, é constante e natural para o ser humano. Particularmente penso que o julgamento como discernimento, apreciação, entendimento, escolha ou convicção podem ser melhores e mais justos quando fundado em valores reconhecidos como bons. Não se trata de apontar para o outro, a questão se volta para a capacidade de discernir bem de cada um. Ainda que se viva uma tendência a eliminar os limites entre o bem e o mal, o bom e o mau ou o certo e o errado, acredito que é essencial estar nutrido de valores como a bondade, a honestidade e a beleza, para construir uma sociedade mais justa. Apreciação, entendimento e convicção minhas.

Como desenvolver esses valores num mundo tão distraído pelos ruídos e pela busca do prazer imediato? Creio que olhar para a nossa trajetória humana, identificar pessoas que admiramos para observar o que elas fizeram para então buscar imitá-las é um caminho. Muitos de nós olharemos para nossos pais e avós e vamos encontrar alguns valores comuns, como a fé e a perseverança. Qual era a fé que professavam? Como demonstraram a perseverança? Responder as perguntas permite que desenvolvamos valores que nos levarão a diferenciar o bem do mal, o bom do mau e o certo do errado a partir de convicções vindas de um discernimento que nos posiciona na bondade e não na crueldade; na honestidade e não na desonestidade; e na beleza e não na feiura, traduzindo-se em harmonia e sincronia com a natureza. Afinal, não estamos aparte dela.

A partir de um olhar estético com a carga instintiva que nos acompanha, poucas pessoas dirão que o urubu é uma ave bela. Entretanto, ao agregar conhecimento e discernimento sobre a sua função, podemos entender que ele cumpre um papel essencial no equilíbrio da natureza. Desse modo, para a natureza humana os julgamentos com origem no conhecimento acumulado fundado em valores como a fé e a justiça se traduzem em ações bondosas, nos comportamentos honestos e na apreciação da beleza, independentemente de ser um urubu.

A irmã tinha a clareza da beleza presente em todas as coisas, assim como exibia a bondade e a honestidade de escolhas íntegras feitas ao longo da vida que se traduziam em harmonia e sintonia com a natureza. Qual era o seu critério de escolha, de juízo e de convicção?

O amor! E eu já tenho alguém para admirar.

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

Inspirado na Irmã Elivete

Imagem: GEMINI AI

QUE BAIRRO FEIO…

Visitar um amigo é um prazer e quando ele tem oitenta anos se transforma num aprendizado. Minha esposa e eu chegamos no horário combinado para tomar um café e em seguida apareceu o nosso amigo para nos cumprimentar com o afeto característico. Ainda na conversa introdutória, fiz um comentário sobre o bairro em que ele residia:

– O bairro está lindo. Tinha a impressão de que era um bairro feio…

Ele não respondeu imediatamente. A sua expressão era tranquila, mas eu comecei a ficar ruborizado pela vergonha. Por quê? Porque na pausa do meu amigo tive tempo para perceber o julgamento que eu fazia sobre uma realidade que não conhecia a partir de uma interpretação minha. Quem era eu para dizer que o bairro era feio?

No tempo em que o meu amigo não dizia nada, busquei na memória as lembranças da experiência que havia tido no bairro há mais de vinte anos.

Lembro-me que estava na cidade e me enganei de rua, perdendo-me no bairro numa noite escura. Havia pouca iluminação, as ruas estavam esburacadas e sem asfalto. Senti medo e uma agitação tomou conta de mim, assim fiquei zanzando de um lado a outro pelas ruas do bairro. Para aumentar a incomodidade, furou um pneu. Podia parar, mas me resultaria muito difícil trocar o pneu na noite. As pessoas que via pareciam que estavam à espera de uma oportunidade para uma maldade. Segui rodando por um período, até que encontrei um posto de combustível e uma borracharia. O pneu furado já não tinha mais conserto, mas eu pude me acalmar.

Ao relembrar a cena vejo a carga de julgamentos presentes no meu comentário.

Talvez, se nesse tempo tivesse conhecimento da Comunicação Não-Violenta (CNV) e da Inteligência Positiva (IP), poderia ter outro registro sobre o fato na minha memória. A IP nos alerta sobre a constante e, muitas vezes, invisível presença dos sabotadores internos no nosso cotidiano. Há um sabotador regente, o juiz, que acusa o outro, culpa a situação ou se autocritica num movimento de aparente defesa que termina por ser prejudicial para o próprio indivíduo. Aqueles que têm consciência dos sabotadores podem fazer uma ação rumo ao sábio que existe em nós para ver as possibilidades em qualquer situação. O sábio interno se destaca pela capacidade de empatia, navegação e exploração de possibilidades nas diferentes situações, assim como pela capacidade de inovar e ativar o sábio para ver alternativas. Já a CNV nos oferece ferramentas para observar sem julgar, atendo-nos aos fatos, induzindo-nos a assumir a responsabilidade sobre os sentimentos, bem como a identificar as necessidades para, finalmente, fazer um pedido. Uma ação concreta. Na cena que descrevi sobre as recordações do bairro em que vivia o meu amigo, o sábio havia desparecido e o juiz acusava a todos despertando em mim o medo. A interpretação que eu fazia da realidade não poderia ser descrita de forma literal como a via, jogando para os outros as responsabilidades sobre o meu medo, confundindo as minhas necessidades, fazendo com que não fizesse as melhores escolhas.

Troquei o pneu e segui viagem sem que nenhum dos meus medos fossem reais. Assim, pude ver que beleza ou feiura está nos olhos de que vê, por isso é essencial aprender e se educar para o belo. Nesse momento, via os olhos do meu amigo que me sorria com a beleza de quem envelheceu com a juventude de espírito. Logo respondeu:

– O bairro não era feio. Teve um tempo que ele era pobre…

O meu amigo não conhecia a CNV ou a IP, porém ele tinha a mente aberta para aprendizagem e livre de preconceito de alguém que usa as informações e o conhecimento para tomar as suas decisões. O meu amigo era padre há mais de cinquenta e o seu mestre já dizia, “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; …” (Lc 6, 37), muito antes de pensarmos que precisamos da ciência para explicar certos comportamentos.

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

SEM A SUA PRESENÇA…

Imagem: IA COPILOT

SEM A SUA PRESENÇA…

Cheguei naquele dia para conversar com a coordenadora sobre uma palestra que abordasse a responsabilidade no trânsito. Não a conhecia. Fui levado até a sua sala e a pessoa que me acompanhava abriu a porta. Assim, pude vê-la em sua escrivaninha com o chimarrão ao seu lado. Ao perceber que a porta se abriu ela me olhou e rapidamente se levantou para me cumprimentar. Cumprimentos feitos, fiz uma alusão ao chimarrão e ela me ofereceu um. Em seguida, saímos para conhecer a estrutura, as salas de aula e as propostas dos cursos. Por onde passávamos ela me apresentava aos professores e, por fim, à diretora. Depois retornamos a sua sala e, entre um mate e outro, acertamos os detalhes da palestra. O evento foi organizado e repetido em outros momentos. Todas as vezes que retornava à instituição lá estava ela com o chimarrão e a disposição de fazer o que tinha de ser feito com o sentido de quem sabe o que, para quem e como faz.

Numa de nossas conversas, ela destacou a importância de ter em mente os projetos em andamento de maneira que possam seguir, ainda que não se esteja mais presente, Porque um dia não estaremos aqui… disse,

Falou o óbvio, como a flecha lançada que não retorna, mas reflete um comportamento não tão óbvio.

Em muitos lugares nós encontramos as mesmas pessoas por tanto tempo que parecem perpétuas, que se transforma em problema quando as pessoas acreditam nisso. Podemos citar o porteiro identificado como patrimônio da empresa, o gestor de RH, o Diretor Financeiro, o Dono da Empresa, o Presidente do Clube ou o Coordenador pedagógico que acredita que o projeto é ele. Depois de muito tempo no mesmo lugar, algumas pessoas desenvolvem a crença de que as coisas somente funcionam porque “eu estou aqui”.

Nada é tão falso como isso, porque basta morrer para entender que a vida segue comigo ou “sem migo”. Pode parecer caricato, mas é uma realidade em que se manifesta a mediocridade de quem acredita que aquilo que se faz tem a ver consigo mesmo. São pessoas que ainda não entenderam que fazer algo somente tem sentido se o outro estiver no centro da ação.

Ela tinha a clareza de que o foco é o outro, assim como sabia que somos “eternos aprendizes”, mas que não somos perpétuos.

Com essa consciência, se assume a condição de temporalidade, afastando-nos da mediocridade e levando-nos rumo a sabedoria presente no saber de conhecer e no saber de saborear.

T. S. Eliot indagava: onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? A pergunta nos provoca e nos desperta para a humildade de que é importante o saber de conhecer, mas é essencial saber fazer; é fundamental querer fazer; é indispensável saber ser e estar com o outro, porque é no outro que validamos o conhecimento. E ao saber ser e estar com outro, permitimo-nos saborear.

A etimologia das palavras nos mostra que saber e sabor se originam em sapere. Basta olha para Portugal que usa a palavra saber no dia a dia com o sentido de saber, conhecer, e de saber, sabor. Portanto, ao ter claro o sentido daquilo que se faz tendo o outro em foco, caminhamos rumo a sabedoria em que o sábio que sabe saboreia de verdade o seu trabalho e a sua temporalidade.

A primeira conversa aconteceu em agosto de 2018. Seguiram-se outras conversas e mates com a clareza de que nada é perpétuo. Cada vez eu saía entusiasmado por alguém que escolhia se arriscar, afastando-se da mediocridade escolhendo a sabedoria de quem lança as flechas do conhecimento, da motivação e da inspiração.

Ela sabe que sem a sua presença o mundo segue, mas eu sei que com a sua presença o mundo é melhor, porque em cada flecha lançada por ela há amor. Como é o mundo com a sua presença?

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

Inspirado em Dilaite Andreatta

QUAL SERÁ A TUA VIAGEM?

Fonte IA COPILOT

QUAL SERÁ A TUA VIAGEM?

A escolha é entre fazer um cruzeiro ou um retiro de silêncio de oito dias em que a oferta é no sistema tudo incluído.

No cruzeiro você tem que se deslocar até o porto de embarque e a partir daí não se preocupa com mais nada. As cabines são confortáveis, assim como as piscinas, a sauna, a sala de jogos, o cinema, o teatro e a sala de jogos estão disponíveis, além das constantes brincadeiras. Entretenimento o tempo todo. Igualmente estão incluídas todas as refeições, como o café da manhã com uma infinidade de variedades na mesa para atender os mais exigentes. Os almoços podem ser pedidos e escolhidos entre tantos cardápios que gera cansaço só de fazer a escolha. O jantar é outro momento de fartura. Tudo isso regado a todos os tipos de bebidas, desde água, suco, refrigerante, cerveja, vinho, espumante, whisky, até qualquer tipo de coquetel exótico que interesse.

No retiro, igualmente você somente precisa de se deslocar até o local. Lá chegando, o quarto é cômodo, assim como há os caminhos pelo bosque, a biblioteca e a capela, com momentos de meditação, oração e leitura. Reflexão predominante. Da mesma forma, estão incluídas todas as refeições, como o café da manhã com frutas, pães, alguns tipos de queijo, café, leite e suco. Um cafezinho no meio da manhã e o almoço pontualmente às 12h com arroz, feijão, salada e carne. No jantar se serve sopa com torradas e frutas. Disponível o tempo todo água potável em todas as torneiras do espaço que tem o seu próprio poço artesiano.

As propostas estão postas, cabe a cada um escolher em qual viagem vai embarcar: o Cruzeiro ou o Retiro? No primeiro é o ruído que evita o silêncio perturbador. Na segunda é o silêncio que provoca o ruído que incomoda.

Ao chegar no navio, todos são recebidos com festa. Em seguida são encaminhados para as suas cabines e dela se dirigem o mais rapidamente possível para os espaços em que será possível aproveitar o valor pago. A sofreguidão está presente. Alguns vão diretamente para as piscinas, outros para a sauna e uma grande parte para os bares. As bebidas e as comidas são consumidas com voracidade. Come-se e bebe-se em meio a uma tremenda algazarra e, muitos, finalizam o primeiro dia embriagados. Para o segundo estão fritos.

Ao chegar no retiro, todos são acolhidos com carinho. Logo são encaminhados para os seus quartos, onde se acomodam tranquilamente. Alguns saem a caminhar pelo espaço, outros vão à biblioteca e a grande maioria vai para a capela. A tranquilidade reina no lugar. O retiro é de silêncio, por isso se ouvem os sons da natureza, o suave ruído de alguns passos ou, por vezes, o sussurro de uma saudação. Pouco depois, todos estão na capela para o início da festa de se encontrar consigo mesmo. Assim, todos se abrem para o segundo dia.

O cruzeiro é uma experiência que pode nos proporcionar prazer, deleite e alegria, entretanto há que se perguntar: o que quero encontrar na viagem? Há que se estar atento para que o cruzeiro não seja uma fuga de si mesmo para não se deslumbrar com o superficial de um lugar que pode ser um não lugar. Você está no restaurante de um cruzeiro, mas poderia estar em qualquer lugar… Você está na piscina do navio, mas você poderia estar em qualquer piscina… E assim, o ruído externo cala qualquer possibilidade de conversação interna.

Por outro lado, o retiro é uma experiência que vai nos provocar reflexão, questionamentos e movimento. Ao entrar num período de silêncio exterior os ruídos interiores aparecem, porque a analogia é a de que se entra numa sala de espelhos em que tudo reflete você. Não há ninguém mais nela. Assim é possível questionar-se: quais as dimensões de minha vida posso expandir? Estou acomodado ou posso entregar algo mais ao mundo?

E você, qual é a viagem que necessita fazer?

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

A MORTE DO OUTRO NÃO É SOBRE VOCÊ!

Fonte: IA COPILOT

A MORTE DO OUTRO NÃO É SOBRE VOCÊ!

A vida vai passando e a morte vai se aproximando. Ela envia sinais no nosso corpo que envelhece e pelas vidas a nossa volta que vão desaparecendo. Assim, já se foram meus pais, muitos tios, tias, amigos e amigas. No último mês mais dois amigos se despediram sem dizer adeus. Conversa com um e conversa com outro e os comentários vão desde “vai fazer muita falta”, “era um sujeito trabalhador”, “sempre estava de bom humor”, entre outros. Um dos amigos mais próximos disse:

– Vamos sofrer muito com a sua morte!

 São comentários espontâneos e naturais, entretanto carregam a perspectiva de quem segue vivo. Por isso, cabe destacar que a morte do outro é sobre o outro, não é sobre quem não morreu. Por que então, muitas vezes, comentamos sobre a nossa perda se quem perdeu a vida foi o outro?

Não se trata de uma crítica sobre sofrer com a partida do outro, que é natural, apenas uma observação sobre quem perdeu.

Lembro-me da morte da minha mãe e a dor que ela produziu em mim pela sua ausência. Porém, devo lembrar que era ela que não poderia mais desfrutar da alegria de abraçar os seus filhos, de ver os seus netos crescerem e de envelhecer junto ao meu pai. Foi ela quem teve sua vida interrompida precocemente. Igualmente, a morte do meu pai causou em mim um sentimento de desamparo típico da orfandade, entretanto foi ele que partiu deixando sem realizar uma série de planos. Hoje me pergunto: para onde foram as suas aspirações, as suas ideias e os seus projetos? Não tenho uma resposta, mas tenho a esperança de quem tem fé.

Ao lembrar dos meus amigos que partiram, primeiro me veio à mente a perda minha, porque a presença deles vai fazer falta. Entretanto, agora penso que a perda quem a teve foram eles que tinham seus filhos, suas esposas, seus pais e seus amigos. Serão os meus amigos que não poderão ver seus filhos crescerem ou ficar na expectativa de conhecer os netos. Serão eles que não poderão acompanhar as suas esposas até a velhice como haviam feito a promessa no altar. Serão os meus amigos que não poderão estar presentes na despedida dos seus pais. Enfim, serão os meus amigos que não estarão mais presentes nas confraternizações. Por isso, quem perdeu?

Dessa forma, fica o convite para que a vida de cada um seja uma perda para que aquele que parte ou para quem fica. Para os meus pais, que antes de tudo eram filhos, tenho a consciência de que nem sempre fui motivo para a sua felicidade, mas sim a razão de noites de insônia. Assim, pergunto: o que posso fazer para que aqueles que estão em minha presença possam sentir a minha ausência? Quais os comportamentos devo exibir para que eu seja uma perda para meus pais, meus filhos e meu cônjuge? Independentemente de quem parta primeiro.

Acredito que começa com o discernimento da importância do outro na sua vida, assim da sua vida na vida do outro. Quem é a pessoa mais importante do mundo para você? Quase sempre, a resposta é “eu mesmo”. Em parte, é verdade, porém essa importância por si só não basta, porque ela precisa vir acompanhada do “outro”, porque sem o outro não sou nada. Em tempos em que somos ensinados a desenvolver um amor-próprio egoísta, quando o outro morre eu fico com dó de mim. É natural sofrer com a morte de alguém querido, mas quem perdeu a vida não foi você, foi o outro.

Para aqueles que não creem em nada o que sobra é o sofrimento de quem vive somente na terra. Para aqueles que creem numa vida espiritual, resgatar as práticas do luto comedido pelo sofrimento da ausência de quem foi é um exercício para seguir em frente. Afinal, se sou cristão acredito que quem morreu não perdeu nada… ganhou a vida eterna.

A transcendência nos dá a esperança!

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

GERAÇÕES DIFERENTES, COMPORTAMENTOS REPETIDOS!

Fonte: IA COPILOT

Gerações diferentes, comportamentos repetidos!

Pai e filho conversavam sobre os amores. O filho de vinte anos comentava que havia encontrado a mulher da sua vida. Queria se casar o mais rapidamente possível, deixaria a faculdade e encontraria um emprego para se sustentar. O pai o escutava, entretanto estava reticente. Disse que havia passado por uma situação semelhante que se revelou como fogo de palha.

O filho respondeu:

– Comigo é diferente… porque eu não sou você, pai.

O que o diálogo nos mostra? Que em termos comportamentais seguimos repetindo padrões sem, muitas vezes, aprender com eles, dando voltas ao tropeçar nas mesmas pedras que gerações anteriores já tropeçaram. Por outro lado, a tecnologia avança de maneira linear e geométrica usando os erros do passado para evoluir no presente. Assim, não precisa percorrer um caminho já feito.

A roda foi inventada e não foi preciso reinventá-la, embora a sua aplicabilidade possa ser repensada. A energia elétrica foi um marco evolutivo que mudou a história humana. O trem, o avião, o carro, os drones, a internet e toda tecnologia disponível serve de base para novas tecnologias. Para o bem ou para o mal, dependendo de quem a usa.  Desse modo, todas as tecnologias podem ser mudadas, recriadas ou repensadas, sempre usando as experiências do caminho percorrido para construir algo novo e, quem sabe, melhor.

As questões comportamentais não seguem o mesmo caminho. Geração após geração são cometidos erros equivalentes que, inclusive, geram tragédias. Saímos da primeira guerra mundial para a segunda em que o holocausto parecia ser o máximo de horror que seríamos capazes de produzir. Entretanto, os genocídios e as guerras não pararam e usamos a tecnologia para provocar mais tragédias. E isso é comportamental.

Por isso, a própria literatura se baseia em dilemas pessoais, explora as mesmas dores e sofrimentos parecidos que geram tragédias ao longo da história. A filosofia igualmente reflete isso. Muitas vezes quando imaginamos que pensamos algo diferente, podemos voltar na história para saber que alguém já o havia proposto antes. A psicologia igualmente se propõe a resolver algo que de maneiras diferentes já fora tratado, seja dentro de correntes filosóficas ou de uma vertente espiritual.

Desse modo, o comportamento humano parece girar em espiral, repetindo padrões e tropeçando nas mesmas pedras em diferentes áreas relacionais.

No ambiente corporativo os mais jovens têm dificuldades de aprender com os mais velhos, porque creem que eles estão ultrapassados. Basta imaginar o conselho de um sênior para um jovem diminuir um pouco o ímpeto na abordagem ao cliente para escutar algo como “os tempos mudaram, hoje tudo é mais rápido…”. Entretanto, é essencial se lembrar que as pessoas continuam sendo pessoas com os dilemas que nos acompanham por toda a história. Assim, aprender com os conselhos e com os erros dos demais é uma das maneiras mais inteligentes, eficazes e eficientes de avançar, uma vez que você economiza tempo, dores e cicatrizes.

Na sala de aula não é diferente. Um professor já foi um aluno, porém um aluno ainda não foi um professor. Por isso, enquanto a maioria insiste em cometer os próprios erros impulsivamente, apesar de haver uma infinidade de oportunidades de aprendizagem, há um pequeno grupo que observa, escuta, estuda, aprende e avança com coragem. Note-se, há uma diferença entre impulso e coragem, assim como entre pausa e inércia. A inércia é a não-ação com os resultados que não queremos, enquanto a pausa é a coragem para buscar o discernimento de dar rumo ao impulso.

Acredito que somos seres singulares que devem experienciar um caminho único e irrepetível, entretanto aquele que desenvolve a capacidade de escutar com genuíno interesse, provavelmente vai trilhar um caminho de transformação na direção pretendida usando o aprendizado acumulado por outras gerações.

Era isso que o pai queria dizer ao filho. Era isso que o filho ainda não havia aprendido. Ao escutar que “eu não sou você” do filho ele concordou e disse:

– Sim, eu sei, você pode ser melhor…

Para isso é preciso aprender a escutar. Não é nada novo. É humano. É bíblico.

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

DE BOAS INTENÇÕES O INFERNO ESTÁ CHEIO…

Fonte: IA COPILOT

De boas intenções o inferno está cheio…

Maria passa por um momento difícil. Ana, sua amiga, se vê como uma pessoa empática, sensível e disponível para ajudá-la. Por isso, toma algumas decisões para contribuir com Maria nas suas dificuldades. Desse modo, ela dá conselhos e tem atitudes para resolver os problemas de Maria. Contudo, Maria não se sente cômoda com as ações de Ana, por isso comenta que ela está sendo invasiva e pede para que se afaste. Ana fica na defensiva e diz:

– Não era a minha intenção. Eu só queria ajudar…

Alguém já presenciou ou viveu alguma situação semelhante? Entendo haver um desalinhamento entre as intenções, boas de Ana, e as ações, não tão boas percebidas por Maria.

O exemplo é trivial, entretanto as situações se repetem nos diferentes ambientes. Pode ser o diretor que diz incentivar a criatividade, mas as ações percebidas são de pressão e vigilância. Pode ser o pai que deseja ver seus filhos desenvolverem a autonomia, porém eles se sentem controlados e cerceados. Enfim, basta lembrar do ditado “de boas intenções o inferno está cheio” para percebermos como o desalinhamento entre as intenções e as ações são frequentes. O que fazer para alinhar as intenções com as ações?

Talvez seja essencial aprender a olhar para dentro de si mesmo e avaliar qual é a verdadeira intenção de uma futura ação, para isso precisa-se de pausa e de paciência. A pausa deve ser entendida como a tomada de consciência para escolher o movimento com a plenitude da presença, não se trata da inércia. E a paciência é uma das virtudes que nos permite entender o significado da intenção e as estratégias que podem nos levar às ações correspondentes.

Na pausa e com paciência se pode indagar: quais são as suas intenções? Entender que a intenção traz em si um propósito mais profundo, como as nossas aspirações individuais. Nos Exercícios Espirituais (Santo Inácio de Loyola, 1491-1556) praticados na pausa de um retiro e com a paciência da solidão se identificam as “moções”, estado anterior as emoções que mostram as reações e movimentos, podendo ser de expansão ou de retenção.

Desse modo, na pausa e com paciência podemos descobrir o espaço a ser trabalhado entre a intenção profunda e a ação visível. Antes de dar um conselho ou de tomar uma atitude, seja paciente e faça uma pausa. É nesse espaço que está a possibilidade de alinhamento entre a intenção e a ação. Na pausa e com paciência, observe e indague-se: o que me move? O que pretendo com a minha ação? Entenda-se que a pausa nos conduz a presença plena e a paciência faz com que possamos discernir com clareza a nossa intenção para escolher de forma consciente a ação.

Existem várias maneiras de se educar na pausa e de desenvolver a paciência como competências de discernimento que nos levam a fazer melhores escolhas. Podemos fazer pausas estratégicas, pausas programadas e pausas de alinhamento. Para isso é preciso paciência, a virtude de não se exaltar frente aos incômodos ou aos dissabores sem se revoltar ou se queixar.

Na situação exposta, os dissabores de Maria fizeram com que Ana a quisesse ajudar. Sem pausa e com pouca paciência as ações de Ana foram percebidas como invasivas. A resposta de Maria gerou dissabores em Ana. Nossa proposta é fazer a pausa de alinhamento, sendo a meditação uma das formas de alcançar este objetivo. A palavra “meditação” tem sua origem latina em meditare que nos convida a voltar para o centro, para si mesmo. Numa desconstrução não etimológica da palavra, podemos encontrar “medita” + “ação” que resulta no exercício da pausa com paciência que nos leva ao discernimento.

Na meditação nós podemos nos encontrar com nosso estado mais profundo, as moções, aquilo que nos move para adotar as estratégias apropriadas em que as intenções se reflitam nas ações. Por isso, a pausa e a paciência podem nos ajudar a ajudar e enfim dizer com alegria: “era essa a minha intenção!”

Até o inferno poderá ficar vazio!

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br