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POR QUE É TÃO BOM ESTAR COM AS CRIANÇAS?

Por que é bom estar com as crianças?

Estava no restaurante do hotel para tomar café. Pego um suco, algumas frutas, um iogurte e também um pão de queijo. Ao lado, havia um menino de aproximadamente oito anos que me esperou para depois se aproximar do prato. Ao estender a sua mão para apanhar um, ele me olhou e perguntou:

– Você gosta de pão de queijo?

Fiquei surpreso com a naturalidade e a espontaneidade do menino. Logo respondi divertido com a situação:

– Sim, eu gosto muito! E você, gosta de pão de queijo?

O menino me escutava atentamente com um sorriso no rosto de quem estava por desfrutar de um grande prazer antecipando o deleite que aquela guloseima traria. Afastei-me e voltei para a minha mesa com uma sensação de alegria no coração e de algumas reflexões na cabeça. Perguntei-me: por que é tão bom estar com as crianças? Não sei bem, mas creio que é porque eles nos permitem resgatar a criança que habita em cada um de nós, conectando-nos com a nossa essência que está carregada de atenção, curiosidade, abertura, encantamento e justiça (Pedro Opeka).

Uma criança presta atenção naturalmente nas conversas que mantém. Isso estava claro em como o menino interagiu comigo naquele curto espaço de tempo. Ele não estava pensando nas possíveis mensagens que entrariam em seu celular. O menino estava 100% presente na conversa comigo. Você consegue ficar presente nas suas conversas?

Uma criança tem uma curiosidade instintiva para explorar o mundo e suas possiblidades. Em sua cabeça estavam as sensações do paladar que viriam com o degustar do pão de queijo, além da curiosidade natural na conversação com um adulto. Problemas? Não, ele somente via a possibilidade de exploração de algo novo. A curiosidade era o seu motor. O que move você?

Uma criança tem a abertura genuína de se conectar com o outro. A sua abordagem revelava essa abertura, porque ele não se importava de eu ser um cadeirante ou não. Olhava com curiosidade para a cadeira, mas via a pessoa que estava nela sem julgar. Você observa sem fazer juízos de valor?

Uma criança traz no olhar o encantamento das descobertas que se sucedem no dia a dia. Um pão de queijo, uma conversa com outra pessoa e as maravilhas que o mundo proporciona a cada nova experiência. Com o que você ficou maravilhado no ano que termina?

Uma criança tem de forma inata o senso de justiça. Esperou a sua vez e cumprimentou com naturalidade. Certamente que isso tem a ver com a família na qual está crescendo esse menino, que reforçou o lado bom que trazemos na nossa concepção. O mundo pode não ser justo, mas você pode ser!

Enfim, na minha mesa do café da manhã com a minha esposa indagávamos: por que perdemos essa alma de criança? Em que momento da vida nos distanciamos daquilo que é essencial? Qual a razão que nos leva a ser adultos, muitas vezes, pomposos e pretensioso ocultos por detrás de papéis sociais? Como, por vezes, somos arrogantes e soberbos congelados por dentro? Não sei a resposta, mas sei que naquele dia, o contato com aquele menino resgatou a minha alma de criança. Respondi a ele com a naturalidade e a espontaneidade de uma criança.

Ria da situação com a minha esposa. Alguns minutos mais tarde vejo que o menino e a sua família se levantaram para sair. O menino fez o caminho próximo da nossa mesa e na passagem por nós disse “Tchau e Feliz Natal!” Igualmente desejamos um Feliz Natal para ele e a sua família. Seguia completamente surpreso com o resgate da minha naturalidade; plenamente consciente da existência do menino em mim; totalmente maravilhado com a vida e as suas possibilidades. Por fim, observar as crianças e como elas estão maravilhadas com o mundo pode nos dar a dimensão de uma vida plena nesse Natal, que é marcado pela chegada de um Menino que mudou a história da humanidade ao dizer, “Ame ao próximo como a si mesmo” (Mt, 22, 39). Esteja perto desse menino!

FELIZ NATAL EM 2023!

Moacir Rauber

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Inspirado: Romina Perluzky

Só o tutorial não basta!

Só o tutorial não basta!

Escutava as instruções do coordenador do retiro. Era um retiro de silencia, mas no final do dia tinha um momento de interação. Ele falava da importância dos exercícios mentais, conduzia dinâmicas de meditação e explorava técnicas para que cada um pudesse assumir o controle da própria mente. Reforçava que a mente nos mente e pode nos levar para lugares que não queremos ir. O coordenador ressaltava a importância de fazer as leituras orientadas e os exercícios programados para o dia seguinte, sob pena de apenas conhecer o conteúdo sem nos beneficiarmos da atividade. Por fim, ele disse:

– Muitas pessoas conhecem os tutoriais das aulas virtuais de atividades físicas, mas não fazem o exercício. De nada serve. A analogia se aplica para a mente…

Faz sentido. Ler os melhores livros sobre os benefícios da meditação ou da atenção plena e não praticar é similar a assistir aos tutoriais das academias de educação física sem fazer o exercício. Depois do tutorial é preciso fazer a atividade. Porém, muitas vezes, a preguiça vence e a pessoa fica no tutorial. A nossa mente, igualmente, precisa por em prática o conhecimento adquirido nas leituras, nos seminários e nos retiros para incorporar hábitos e comportamentos desejados. A reflexão do coordenador seguia no ritmo do retiro e ele se aprofundava em temas para que cada um se responsabilizasse pelas suas escolhas. Estar no ambiente que estávamos, com o dia todo voltado para as leituras e a meditação, fazia com que fosse relativamente fácil manter uma rotina com as suas práticas. Ainda assim, quase todos caíamos na tentação de não seguir o programa do silêncio e de não fazer todas as atividades propostas. Faltava-nos a disciplina para exercer a escolha feita. Portanto, imagine o tamanho do desafio de levar a prática proposta para o dia a dia. Como faríamos os nossos exercícios de meditação no mundo real? O que fazer para incluir uma prática de mindfulness nas 24h que cada um tem, as quais, muitas vezes, não bastam para as atividades correntes? Caso pensemos no antônimo da preguiça chegamos ao workaholic, o sujeito que não se cansa de sempre fazer mais. Notadamente a proposta dos retiros, da meditação e da atenção plena não é essa. Os extremos não são o caminho. Se de um lado está a preguiça e de outro lado o excesso de trabalho, entre eles nós encontramos a diligência, o equilíbrio. A diligência se refere a fazer aquilo que se escolheu fazer com cuidado, interesse e zelo por si e pelos outros, com a urgência e a presteza necessárias. Para ser diligente é preciso discernimento, a capacidade de avaliar as situações com o bom senso e a clareza necessárias para fazer uma boa escolha. Manter-se em movimento ao renegar a preguiça sem comprometer a sua busca de equilíbrio  e harmonia pelo excesso de atividade. É o equilíbrio que leva a pessoa à harmonia. Provavelmente, ao incluir um período de meditação ou de prática de mindfulness no seu dia a dia será necessário deixar algo para trás. Inicialmente poderá parecer difícil fazer a escolha, porém com a prática o menos será mais. Menos estresse e mais resultados. Menos trabalho e mais produtividade. Menos horas e mais conteúdo. Menos aflição e mais fruição.

Por fim, o coordenador disse que a preguiça é parte da natureza humana. Por isso, lembrei-me de um conselho de um empreendedor que dizia: “Preste atenção no preguiçoso. Quando ele procura um atalho vai ter mais trabalho. Muitas vezes, porém, ele usa a sua inteligência para propor uma solução que economiza recursos e esforços!”. Eis o ponto. Ficar somente no tutorial não basta. Depois da ideia é fundamental a atividade. É preciso ter o discernimento para agir com diligência e fazer o que deve ser feito.

Moacir Rauber

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As descobertas da Psicologia Positiva e da Neurociência?

O curso era sobre as impressionantes descobertas da psicologia positiva e da neurociência. A facilitadora dizia:

– Vou falar agora sobre algumas descobertas para você ser mais feliz, mais engajado e ter relacionamentos mais saudáveis…

A facilitadora, uma psiquiatra, começava discorrendo sobre o mapeamento do córtex cerebral, com a identificação de mais de trezentas áreas dentro dele. São inúmeras as possibilidades de uso desse mapeamento, como a detecção e a correção de problemas de aprendizagem. Para mim, essas são realmente descobertas. Depois a psiquiatra passou a dar exemplos de ações do dia a dia, citando-as também como descobertas das modernas ciências. Ela disse, por exemplo, que viver em estado de gratidão é extremamente positivo para qualquer pessoa. Segundo a neurociência, a pessoa que é grata por coisas simples, como a água que lavou o seu corpo no banho, a janela que pode abrir ao acordar, a roupa que veste durante o dia e assim por diante, é mais feliz. Outra descoberta da neurociência e da psicologia positiva é a importância de ser bom, porque só assim para se ter bons relacionamentos e ser beneficiado pela própria bondade. Por fim, a psiquiatra neurocientista e adepta da psicologia positiva afirmava que as novas descobertas fundamentadas numa rigorosa metodologia científica descobriram que o caminho mais fácil para exercer a gratidão e praticar a bondade é a meditação. A meditação faz com que cada praticante consiga manter o foco naquilo que é importante num movimento de atenção plena, sendo assim muito mais produtivo. E todos nós ficamos admirados com todas as descobertas da neurociência e da psicologia positiva. Confesso que ouvi sobre essas descobertas muitas vezes e quero dizer que concordo com os benefícios citados, porém tenho ressalvas com relação a serem elas descobertas da neurociência ou da psicologia positiva. Por que as ressalvas?

Ao se analisar as culturas mais antigas, praticamente todas elas tinham formas de meditação como uma maneira de voltar o foco para si mesmo, valorizando a sua relação de interdependência com os outros. Podiam ser diferentes rituais, mas com objetivos semelhantes. Eles buscavam entender e valorizar o seu próprio papel na teia social da qual faziam parte. Qual era o sentido da sua atividade? Qual era a importância da própria vida para si mesmo e para os outros? E eles conseguiam dar sentido àquilo que faziam, porque o que faziam era importante para si e para os outros. Nós, depois de algumas centenas de anos negando a importância das emoções e da espiritualidade em nome de uma ciência infalível nos apropriamos de práticas milenares e dizemos que são nossas descobertas. Ainda assim as usamos de forma superficial e sequer nos preocupamos em indagar: produtividade para que?

Portanto, quero dizer que talvez falte um pouco de humildade para aquilo que nós conceituamos como ciência e para aqueles que se definem como cientistas e neurocientistas para admitir que a adoção de práticas meditativas não é uma descoberta, mas sim uma redescoberta. Nunca se precisou de ciência ou de neurociência para saber que se podem diminuir as frequências cerebrais num estado meditativo. Trata-se de percorrer um caminho que já havíamos trilhado na busca por um reencontro com o sentido da vida. Enfim, acredito nos benefícios da prática diária da meditação que contribui para que cada um possa dar foco naquilo que lhe parecer mais importante. Porém, destaco a importância de se indagar: qual a finalidade de ser mais produtivo? Qual é o sentido daquilo que se faz na vida que se tem? O mundo é melhor por que você existe?

Crédito: Rastro Selvagem

Moacir Rauber

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