Sexta-feira, final de tarde e o happy hour com os colegas e amigos de trabalho transcorre na maior alegria. Conversa vai e conversa vem. A pergunta que está no ar se refere aos planos para o final de semana:
– Ahh, foi liberada uma nova série. Vou aproveitar e maratonar!
Outros riram, concordaram, discordaram e escolheram as suas séries para também maratonar. Agora uma indagação: de onde vem a palavra e a expressão maratonar? Logicamente que vem da palavra maratona que nos remete a prova disputada nos Jogos Olímpicos da era moderna com um percurso de 42,195km, sendo considerada uma das provas mais nobres e exigentes em termos de atividade física. Diz a lenda que um percurso aproximado foi realizado pelo grego Fidípedes que correu essa distância para avisar aos gregos sobre a possível invasão do persas que começaria pela cidade de Marathon. Logo após dar a notícia Fidípedes caiu morto de exaustão.
A sociedade mudou e nós mudamos. Hábitos e costumes são alterados constantemente com uma rapidez inédita na história, com a tendência de continuar acelerando. Porém, tem alguns pontos estranhos nessa mudança e um deles se refere ao termo “maratonar”. O que é “maratonar”? Quase todos sabem o seu significado, que tem a ver com assistir aos vários episódios de uma série em sequência ou consumir algum serviço de entretenimento de forma contínua mantendo a empolgação. Assim, as pessoas maratonam uma série, um livro ou no cinema. Lembro-me de ter “maratonado” quatro filmes em sequência num único dia em que saía de uma sala e já entrava noutra. Entretanto, causa-me estranheza o que se entende por maratonar nos dias de hoje em relação a palavra que deu origem à expressão. Como vimos, maratonar tem origem na palavra grega “marathon” que nos lembra de um exercício físico extenuante. Desse modo, enquanto a maratona representa uma atividade física extenuante maratonar significa exatamente o oposto como um clássico exemplo da prática do sedentarismo. Como isso é possível? Maratonar é a maratona do sedentarismo. Onde está a prática? Mais uma vez se buscarmos o conceito da palavra prática, ele nos remete a ideia de fazer algo, execução, experiência, realização e atividade. O maratonar de hoje é passivo. Se avançarmos para a palavra atividade ela nos leva a ideia de movimento, ação, atuação e laboração, assim como exercício, desempenho e performance. A atividade do maratonar atual não nos dá isso. Desse modo, a palavra prática e seus sinônimos, assim como como a própria palavra maratonar, deveriam nos direcionar para o movimento, seja ele físico ou intelectual. Entretanto, a única coisa que aquele que maratona nas séries e nos filmes não faz é se mover. Trata-se da maratona do sedentarismo.
Nada contra a assistir uma série em sequência. Fiz e ainda faço. Porém, tudo a favor de fazer uma atividade física real que nos aproxime daquilo que maratona inicialmente representa: movimento. No entanto, nada em excesso. Assim como Fidípedes morreu por excesso de atividade física, atualmente tem gente que morre de exaustão de tanto não fazer nada.
Somos Seres Humanos. Somos ou não somos Seres Estranhos?
Moacir Rauber
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