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Você é um gênio?

Você é um gênio?

O rapaz era um gênio na sua área, mas era também genioso com os colegas. Para ele pouco importava se a pessoa com quem falava era da sua de outra equipe ou mesmo alguém hierarquicamente superior, ele sempre tinha algo a dizer. Quando a questão se voltava para a área técnica de sua atuação, quase sempre, tinha razão. Mas nem tudo é tecnologia, mesmo numa organização que trabalha com tecnologia. Assim, o seu comportamento trazia prejuízos relacionais, por vezes, maiores do que os benefícios obtidos com a sua grande capacidade técnica. Na área de gestão de pessoas o comportamento do jovem gênio era analisado. Após várias tentativas do responsável dos recursos humanos de conversar com o “gênio” sobre o seu comportamento, o assunto chegou à direção. O diretor o chamou para conversar. A autoconfiança do jovem era tamanha que acreditava que seria mais uma vez promovido. Chegando na sala do diretor, imediatamente se acomodou confortável e confiantemente em uma poltrona. A conversa começou e o diretor, um pouco constrangido, disse:

– Você realmente é um gênio naquilo que faz…

O rapaz estufou o peito e rapidamente respondeu:

– Muito obrigado!

A resposta não expressava gratidão pelo elogio, mas a segurança de quem simplesmente recebia aquilo que merecia. Era o mínimo… devia ter pensado o jovem. O diretor, que não esperava que ele dissesse algo naquela curta pausa, emendou:

– … mas você está demitido.

Ser um gênio somente não basta. O conhecimento técnico por trás de cada uma das funções ou cargos que o “gênio” irá desempenhar é o mínimo dele exigido. Não há espaço para não exibir as competências específicas mínimas para cada tipo de trabalho. Desse modo, as grandes corporações têm acompanhado o desenvolvimento e contratado as melhores cabeças reveladas em universidades ou pelo próprio mercado para compor as suas equipes. Equipes, eis a questão. Porém, muitos dos gênios que se destacam nas universidades não têm a mínima noção daquilo que significa trabalhar em equipe. Não desenvolveram as competências socioemocionais que poderiam validar as suas competências técnicas. Não foram instruídos e nem capacitados para entender as pessoas. Por isso, nem sempre se consegue fazer uma equipe de um amontoado de gênios para render aquilo que deveriam render. Muitas vezes, ainda que os melhores talentos técnicos estejam reunidos, não se consegue fazer com que o resultado da equipe seja maior do que a soma das partes. Eis o grande desafio.

Você é um gênio na sua área técnica? Parabéns! O desafio agora é entender de pessoas para que cada um a sua volta possa exibir o seu potencial na totalidade, transformando-o em talento a serviço da sua equipe. Além de ser produtivo, deve ser bom trabalhar e estar com que você é e, com isso, mostrar que o resultado da sua equipe é maior do que a soma dos indivíduos que a compõe nas suas distintas partes. Caso contrário, você até pode ser um gênio, mas não terá ninguém que queira trabalhar com você. Lembre-se de que sem os outros não há equipe, não há organização e não há necessidade nem de gênio nem de genialidade.

Moacir Rauber

Skype: mjrauber

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Preparar-se para o futuro? Não dá…

Preparar-se para o futuro? Não dá…

Uma moça da fazenda carregava um balde de leite na cabeça e sonhava que com ele poderia fazer nata. Da nata faria manteiga. Com o dinheiro da venda da manteiga compraria ovos dos quais nasceriam pintinhos. Depois de crescidos os venderia e se compraria um vestido para usar na festa da comunidade. Imaginava que o filho do moleiro iria querer dançar com ela ao vê-la tão bonita. Mas ela não aceitaria imediatamente. Primeiro, diria que ‘não’ e com a cabeça e ensaiou o gesto. Ao menear a cabeça o balde de leite caiu. A moça estava desolada, porque ficou sem nada: sem vestido, sem pintinhos, sem ovos, sem manteiga, sem nata e, acima de tudo, sem o leite que a levou a sonhar. O que nos ensina essa fábula de Esopo?

Durante muito tempo, mantivemos o foco na preparação de pessoas para o futuro, embora eu acredite que o foco deveria ser na preparação para o presente.  A fábula ilustra isso e a conjuntura econômica e social atual confirma, porque mais do que nunca não estamos no presente. Ora estamos no passado. Ora estamos no futuro. Assim, muitas pessoas se refugiam em alegrias vividas em supostos dias melhores, o passado, enquanto outras criam problemas que não existem, no futuro. Assim, permanentemente meneiam a cabeça e derrubam o leite. Percebe-se um contingente enorme de pessoas com a constante sensação de inadequação e de incompetência, resultado da impressão de nunca se estar onde se deveria estar e de nunca saber tanto quanto se deveria saber. E é verdade. Vive-se um tempo de pessoas ausentes, porque dificilmente elas estão no presente. O que fazer? Como mudar o foco? Pela educação, ao ensinar e aprender para o presente.

Até o momento, em tempos de Revolução Industrial 1, 2, 3 e 4, a preocupação era ensinar às pessoas um conjunto de habilidades técnicas que as manteriam empregadas até a aposentadoria. O foco estava em preparar as pessoas para serem melhores umas comparadas com as outras. Isso não serve mais. Entendo que avançamos para uma sociedade em que as coisas devem fazer sentido. As habilidades técnicas são importantes, porém elas se tornam obsoletas num piscar de olhos, assim como o presente se torna passado e o futuro se converte no presente. Estar no futuro ou no passado é o leite derramado no chão. Portanto, o que aprender e o que ensinar? Falamos das competências socioemocionais, em que o foco passa a ser o desenvolvimento pessoal para que cada um seja o melhor que pode ser no presente. Ganham destaque os estudos de inteligência emocional e seus pilares; a psicologia positiva com as suas fortalezas; a neurociência com as suas constatações; a mentalidade flexível e suas alternativas, entre outras abordagens e pesquisas científicas, usadas para resgatar a importância das competências socioemocionais. São elas que nos permitem viver bem no único tempo que temos: o presente. Assim, é importante ensinar as habilidades técnicas, que são passageiras, entretanto, é indispensável ensinar as competências socioemocionais, que são permanentes. Destaque para o despertar da unidade individual que permite o entendimento sistêmico do coletivo que manterá as pessoas aptas para viver no presente sem derrubar o leite.

Por isso pergunto: o que você faz faz sentido? O que você ensina com aquilo que você faz? O que você aprende com aquilo que você vê? A ideia de se manter estudando durante a vida é inteligente e sustentável, desde que aquilo que se ensina com aquilo que se faz e aquilo que se aprende com aquilo que se vê faça sentido no presente. E isso se fundamenta em valores humanos, como liberdade, justiça, honestidade e solidariedade, além de comportamentos que os expressem num movimento de cuidado para consigo e para com o outro. Desse modo, é necessário a flexibilidade mental para atualizar as habilidades técnicas constantemente, mas lembrando que são as competências socioemocionais que o manterão no presente, com a sensação de adequação e de competência.

Assim, preparar-se para o futuro não dá, porque devemos estar aptos para viver no presente, a única realidade que temos.

Moacir Rauber

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Saber ser para bem-estar: eis um bom desafio!

“E aí, já escolheu a profissão?” ou “Mas isso dá dinheiro?” são perguntas frequentes quando adultos conversam com jovens com a intenção de os estimular a que façam boas escolhas e que trilhem o caminho da constante busca pelo conhecimento. Porém, a mensagem que chega aos jovens, muitas vezes, é a necessidade de “se dar bem” financeiramente. Entendo que o estímulo a que as pessoas trilhem a sua vida buscando constantemente conhecimentos que melhorem as suas competências em diferentes áreas é positivo. Amplia-se, desta forma, a própria expectativa de vida, uma vez que o sujeito passa a ver o mundo sob diferentes ângulos. Entretanto, muitas pessoas têm transformado a busca por competências que os façam ganhar dinheiro numa obsessão, descuidando-se das competências necessárias para viver bem, o que os torna incompetentes para a vida. Quais são as suas competências?

Entenda-se competência como o saber do indivíduo que se transforma em ação pela vontade explícita em consonância com os recursos disponíveis para fazê-lo, alinhados com o meio no qual está inserido. Para destrinchar esse conceito deve-se percorrer o saber, o saber fazer, o querer fazer, o poder fazer e o saber ser/estar. O saber pode ser obtido por meio da aprendizagem formal, informal e de convívio, que cria o arsenal de conhecimento da pessoa. Contudo, existem pessoas que conhecem muito, mas não sabem fazer. Por isso, a pessoa, além de conhecer, deve saber fazer, que é justamente aplicar o conhecimento em situações práticas dentro da atividade que desempenha. Entretanto, somente saber e saber fazer não basta. Deve-se querer fazer, que está diretamente vinculado a vontade de realizar aquilo que se sabe fazer. Dando um passo adiante, além de saber, de saber fazer e de querer fazer, deve-se poder fazer, sendo essa uma das muitas muletas usadas por aqueles que não querem fazer. São inúmeras as pessoas que usam este subterfúgio para não realizar aquilo que até gostariam, transferindo as suas responsabilidades para os outros. Por fim, o tema principal se reporta ao saber ser e ao saber estar, que é onde os obcecados pela busca de conhecimento que visam tão somente o retorno financeiro, muitas vezes, falham. Estudam, qualificam-se, aprimoram-se e desenvolvem tantas habilidades que se estupidificam, pois esquecem que para que todo esse conhecimento tenha algum valor precisam do outro. Todos nós devemos saber ser para poder bem-estar.

Espero que você tenha competências para produzir bem e ser competitivo dentro do seu papel na sociedade, porém desejo principalmente que também exiba as competências humanas que façam com que os outros queiram estar com você pelo que você é. Enfim, preste atenção para ser um profissional com as competências específicas exigidas para sê-lo, contudo, sem se tornar um incompetente para a vida com quem as pessoas não querem estar. É fundamental entender que as oportunidades se concretizam no saber ser e no saber estar, pois não há nenhuma espécie de realização sem a presença do outro. Acredito que é nesse saber que se encontra o propósito de vida, que deve ir muito além de um excelente desempenho profissional que pode garantir dinheiro, mas não garante bem-estar. Finalmente, entendo que o grande desafio é que as nossas competências incluam o saber ser para que onde quer que estejamos se torne um lugar melhor para os outros bem-estarem.

É bom estar onde você está e com quem você é?

Moacir Rauber

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