A sua organização é humanizada?
Nos livros, artigos e matérias que tratam de gestão organizacional, seja na área financeira, contábil, de administração ou de recursos humanos é comum ver a frase com a seguinte estrutura: Para que tanto as empresas quanto as pessoas sejam… Pergunto: o que está errado na proposição da frase? Não há erro na estrutura gramatical. Acredito que o equívoco que essa estrutura reproduz é muito mais grave do qualquer erro de concordância ou de gramática da língua portuguesa. Trata-se, no meu ponto de vista, de uma construção feita a partir da falta de entendimento da relação causa e consequência. Entendo que as empresas somente são o que as pessoas que nela trabalham e convivem são.
Logicamente que se trata de um ponto de vista. Caso usemos a estrutura citada poderíamos formar a frase: Para que tanto as empresas quanto as pessoas sejam mais flexíveis, por exemplo. A palavra flexíveis poderia ser substituída por produtivas, competitivas, entre outras comumente presentes em textos que refletem o ambiente organizacional. Seriam frases que refletem uma abordagem aceita pela grande maioria dos gestores, certo? Porém, como uma empresa poderá ser flexível com pessoas inflexíveis? Como uma empresa poderá ser produtiva com pessoas improdutivas? Como uma empresa poderá ser competitiva com pessoas não competitivas? Entendo que uma empresa ser flexível é consequência de pessoas flexíveis, por isso não faz sentido dizer que tanto as empresas quanto as pessoas devem ser flexíveis. As empresas somente serão flexíveis se as pessoas que nela trabalham forem. Não se pode equiparar pessoas e empresas, porque as primeiras existem sem as segundas, mas as segundas não existem sem as primeiras.
Para dar um exemplo ainda mais contundente, basta lembrar das semanas de prevenção de acidentes de trabalho nas organizações. Trabalha-se a importância do uso dos equipamentos de segurança para prevenir acidentes e criar um ambiente seguro nas organizações. Porém, sempre que ocorre algum descuido e acontece algum acidente não é a empresa que sofre o acidente. Certamente que a organização pode ser afetada sofrendo perdas materiais pelo acidente ocorrido em seu ambiente, mas pergunto: quem sofreu o acidente foi a organização? Não. Quem sofreu o acidente foi uma pessoa.
Por isso, quando dizem que uma organização é inflexível, improdutiva, pouco competitiva ou sujeita a acidentes frequentes, é assumir que as pessoas que nela trabalham são inflexíveis, improdutivas, não competitivas e descuidadas. Muitos desses rótulos surgem a partir da maneira como a organização é gerida que faz com que se desenvolva uma determinada cultura organizacional. Porém, isso não retira a responsabilidade de todos os integrantes da organização que podem fazer a diferença no seu espaço e na sua área de atuação. O mesmo raciocínio se aplica quando se ouve a expressão, Para que a organização seja mais humanizada. Ao dizer que uma organização precisa ser mais humanizada, implicitamente se diz que as pessoas que nela trabalham não o são. Essa afirmação representa a assunção de que as pessoas que ali trabalham estão desumanizadas, porque não há empresa ou organização sem pessoas.
A sua organização é humanizada?